2010-09-29 12:05:24

PALAVRA QUE SANTIFICA


Cidade do Vaticano, 29 set (RV) - Domingo passado comemoramos o Dia da Bíblia. Dentro do mês de setembro este tema sempre retorna. Será muito importante que estejamos abertos e atentos para esse grande dom de ouvir o Senhor, que inspirou os autores sagrados e nos ilumina com a Palavra que é luz para os nossos caminhos.

O discípulo amado nos ensina que: “Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade. Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade. Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim”. (cf. Jo 17,19-23). Santificados pela palavra de Deus! Este é o resumo deste ensinamento de Jesus.

O Senhor pede-nos uma prática progressiva e constante no nosso processo de santificação pessoal. Santificação que nos é pedida pela aplicação da verdade que está contida e explicitada na Sua palavra.

Nesta perspectiva, a palavra de Deus é mais ampla do que apenas o texto sagrado, um sinal da própria vontade de Deus, expressão de seu amor em relação ao seu plano para o homem.

O Espírito Santo usa a palavra de Deus para realizar a sua ação de santificação do homem. Cabe-nos discernir sobre este processo de santidade e a aplicação da Palavra para que ela possa se realizar. Na verdade, este é um processo constante.

Portanto, Palavra de Deus não é um manual de instruções, não uma especulação simplesmente pessoal, mas palavra que deve ser sentida e que é uso especial que Deus se serve para realizar maravilhas em nossas vidas, para nos dar a graça.

Esta Palavra nos santifica para estudar, meditar e aplicar a verdade que Jesus nos promete sobre a nossa vida cotidiana. A palavra é, assim, revelação perfeita da vontade de Deus sobre nós.

Em suma, há na escritura ensinamento doutrinal e instrução moral, mas a sua verdade mais profunda é a de ser um lugar privilegiado de encontro com Deus, e onde Ele nos fala da vida, vida de mudança pessoal ao Seu encontro.

Lembremo-nos que a Escritura, e também o próprio cristianismo, não são uma filosofia de vida, mas uma relação pessoal do homem com Deus.

A Palavra Sagrada deve ser, portanto, para o cristão, um aprofundamento deste íntimo relacionamento.
O Concílio Vaticano II enfatizou a importância da Palavra afirmando que esta é verdadeiro alimento do povo de Deus. Na verdade, o pão da vida e o pão da palavra nos são dados na mesa eucarística. (Último capítulo da Dei Verbum).

Portanto, um e outro pão são presença viva de Jesus, palavra eterna do Pai, que estão durante o Seu sacrifício redentor, atualizado na Eucaristia. A Igreja “venera as divinas escrituras tal com venera o corpo do Senhor” (DV 21).

O Concílio, nesta esteira, também proclama e ensina que o “acesso à Sagrada deve ser aberto para os fiéis”. O Concílio assim estimula o estudo, o conhecimento, bem como as traduções da Escritura. Ele ainda incentiva, também, os diversos grupos, até mesmo ecumênicos, que possam utilizar-se de textos mais apropriados ao diálogo.

Talvez o capítulo mais central de todo o Concílio não esteja na própria Dei Verbum, e sim na Lumem Gentium e, neste, no seu capítulo V, onde faz um apelo universal à santidade, e que esta atinge a todos, não importando o estado de vida em que se encontre.

A santidade é um apelo a uma metanoia profunda, a uma mudança de rumo, sendo Deus o Amor e sendo este Amor partilhado com os homens.

E a própria Igreja somente se santifica se ela também cresce na caridade e predestina-se a este. Perguntemo-nos, pois, se crescemos nesta santificação.

E onde buscar esta fonte para nos tornarmos santos, para amarmos como Ele mesmo amou? Diz-nos o mesmo Concílio: nos sacramentos e na Palavra de Deus (DV 26).

Podemos perceber uma maior busca pelo estudo da Bíblia e os diversos avanços no conhecimento do seu texto, seja pelos mais simples até os grandes centros de estudo bíblico espalhados pelo mundo.

Neste ponto, muito ajudaram a Filologia e mesmo a Arqueologia, certamente. Tudo isso é sinal da graça de Deus! Porém, não podemos perder a perspectiva central: encontramo-nos com o Senhor pela Bíblia, pela Sua Palavra! Nela podemos ouvi-Lo e responder-Lhe. Somos chamados a ser Seus amigos. Ele nos quer em união com Ele.

Encontrá-Lo através da Escritura é um dos segredos para transformarmos a nossa jornada de vida em caminhada constante de alegria e de esperança renovadas.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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