Cultura e Desenvolvimento em África: Igreja promove colóquio em Abidjan
Decorre de 27 de Setembro a 1 de Outubro na capital da Costa do Marfim, um colóquio
sobre o tema “Cultura e Desenvolvimento em África”. A iniciativa é do Conselho Pontifício
para a Cultura em colaboração com a Congregação para a Evangelização dos Povos e a
CEREAO, Conferência Episcopal Regional da África Ocidental. Nos rastos do recente
sínodo dos bispos para a África e no ano em que ocorre o cinquentenário da independência
dum número significativo de países africanos, assim como o centenário de nascimento
de Alioune Diop, grande homem de cultura que lançou a Associação de Cultura Africana,
hoje designada Comunidade Africana da Cultura - a Igreja quer ver até que ponto a
África tirou proveito da independência, que formas de desenvolvimento marcaram a vida
dos africanos neste meio século e que impacto a globalização tem tido sobre as culturas
locais africanas. Os organizadores do seminário tencionam, desta forma, dar vida
a um Fórum que reúna representantes de organizações eclesiais, internacionais e não
governamentais a fim de encontrar vias e meios para a promoção do desenvolvimento
em África centrado na pessoa humana. O Fórum que terá lugar em Março de 2011, procurará
articular as reflexões sobre “Cultura, identidade dos povos africanos e desenvolvimento
em África e na diáspora negra”. Visa igualmente ser um ponto de reflexão permanente
donde poderão vir propostas concretas para um empenho efectivo no campo da cultura
e da educação, trampolim para o desenvolvimento da África. Interpelado pelo P.
Joseph Ballong do Programa Francês-Africa da Rádio Vaticano, Mons. Barthélémy
Adoukounou, Secretário do Conselho Pontifício para a Cultura ilustrou, antes de
partir para Abidjan, os temas principais a ser enfrentados no colóquio…
“Os
principais temas que serão debatidos vão no sentido de reflectir sobre a cultura africana
e o desenvolvimento, quer dizer: mesmo tendo em conta os aspectos negativos da mentalidade
que anulam, por assim dizer, as oportunidades de desenvolvimento, temos de procurar
indicar as vias e os meios para vencer esses aspectos negativos e pôr em realce o
que há de positivo na cultura africana, como por ex. o respeito pela natureza, dom
do Deus criador. Esta será uma primeira grande conferência que será feita por D. Obina,
um arcebispo nigeriano. A esta conferência seguirá um painel de duas intervenções:
uma será feita pela teóloga biblista nigeriana Teresa Okure, que nos fará reflectir
sobre a origem do mundo, do ser humano, na óptica das mitologias africanas portadoras,
certamente, duma mensagem que devemos acolher. Depois, haverá uma segunda
conferência a cargo do Padre Benezet Bujo sobre os recursos culturais africanos contra
as explorações totais e totalitárias da natureza porque, como dizia o Papa João Paulo
II na encíclica Solicitudo Rei Socialis, há no mundo, por uma lado, um subdesenvolvimento
e, por outro, um superdesenvolvimento. Isto porque em nenhum dos casos o ser humano
está a ocupar o lugar que lhe é próprio. Além disso, explora-se a natureza, esgotando-a
totalmente, uma exploração total e totalitária de que a África é vítima. Pois bem,
o P. Benezet Bujo vai reflectir sobre os recursos culturais de que a África dispõe
para contrastar este tipo de desenvolvimento. O segundo grande tema de
que nos vamos ocupar é o impacto da globalização sobre as culturas, a investigação
científica e o desenvolvimento na África subsaariana. Estará a cargo do P. Joseph
Ndi Okala, cuja reflexão será seguida igualmente por um painel de duas intervenções:
a primeira pela irmã Agnés Adjarro sobre a globalização, a identidade cultural africana
e a boa governação. A segunda intervenção será feita pelo P. Edouard Ade que vai reflectir
sobre a sociedade civil, o controlo dos três poderes e a democracia em África. Como
se vê, passamos de reflexões de ordem antropológica, teológica e mitológica sobre
o passado para a modernidade, e o terceiro grande tema será centrado sobre a razão
autónoma e responsável na teologia africana. D. Mbarga, um bispo dos Camarões vai-nos
propor a sua visão sobre este tema e será seguido de dois painelistas, o primeio é
o P. Leonard Santedi, da República Democrática do Congo, que nos falará das teologias
africanas da inculturação e da pastoral da racionalidade. O segundo será o P. Bed
Okuidje, nigeriano que nos falará das teologias africanas de libertação e a pastoral
da racionalidade. Como vê, com este terceiro tópico entramos numa reflexão aprofundada
da relação entre a teologia africana, este conjunto de problemas e a cultura por
forma a vermos sob qual perspectiva cada uma das teologias toma em consideração a
cultura. E o dialogo será particularmente fecundo porque já no recente Sínodo dos
bispos para a África fez-se questão de tomar em consideração a pastoral da racionalidade.
Foi um grande momento e era importante que nós enquanto Conselho Pontifício da Cultura
nos debruçássemos sobre a cultura africana. O quarto tema será justamente
a interrogação fundamental que nos reúne – isto é, “Que conceito de cultura para que
desenvolvimento”. E isto pedimo-lo ao vice-presidente do SECAM, cardeal Théodore Adrien
Sarr que será seguido, também el, de dois painelistas: o Professor Honorat Aguessi,
actual Presidente do Panafricanismo. Ele reflectirá sobre “Negritude e Panafricanismo:
que impacto sobre o futuro sócio-político e económico nos últimos 50 anos”. O segundo
painelista será o P. Leon Diouf que falará sobre cultura e desenvolvimento: que estratégia
para ajudar os decisores e assegurar o acompanhamento. Eis os temas que
enfrentamos. As reflexões desabrocharão no terceiro dia sobre como preparar o colóquio
que irá dar origem ao Fórum da Igreja Católica e dos homens e mulheres de cultura
para a “Cultura e o desenvolvimento em África”.