Cidade do Vaticano, 29 set (RV) - Escrevendo daqui de Roma durante o abençoado
tempo da visita “ad limina”, não posso deixar de expressar meus sentimentos de comunhão
que abrasam o nosso coração nestes dias, e dizer quanto estamos rezando para que a
Unidade contagie toda a nossa arquidiocese. Para que o mundo creia, disse Jesus! Quanta
responsabilidade para todos nós! Gritemos por todos os meios a importância da comunhão
eclesial e a vivamos com alegria e generosidade!
A unidade da Igreja não é
um resultado do acaso, nem um sentimento passageiro, nem muito menos um consenso político,
mas é proveniente da comum profissão de fé, amor fraterno e, sobretudo, do transcendente
e sobrenatural que existe entre o Pai, e o Filho e o Espírito Santo.
A unidade
da Igreja não é, portanto, comparável com a unidade de um corpo político, mas é um
efeito da união da Santíssima Trindade e da união hipostática de Jesus Cristo, que
se torna comunhão perfeita entre a natureza divina e a humana. Estamos aqui num ambiente
de unidade mística e espiritual, antes de união apenas física ou humana, embora sejam
próprias também da Igreja, mas estas devem ser reflexo da comunhão de vida no amor
e na fé.
Sempre que houver uma separação, uma divisão em sua estrutura e em
sua organização este reflexo torna-se obscuro, nebuloso, e nada significa, não é sacramento
da verdadeira unidade desejada por Cristo.
Antes de estarmos submetidos a
uma autoridade apenas de estrutura, e não a uma autoridade espiritual de Cristo, estaremos
falhando na busca desta unidade eclesial.
A visita “ad limina” supre estas
duas necessidades na busca da unidade. Ao mesmo tempo em que nos confraternizamos
e nos regozijamos por estar unidos estruturalmente ao Sucessor de Pedro, nos unimos
a este na nossa reafirmação, nossa ratificação de refletirmos em nossa atividade pastoral
em nossas dioceses esta mesma unidade de fé e de comunhão de obediência e na fé em
Jesus Cristo.
Na celebração que presidi na Basílica de São Paulo Fora dos
Muros, na segunda-feira, recordei a todos os irmãos bispos que a nossa peregrinação
era uma volta às fontes, quando nos sentimos confirmados com Pedro na pessoa do Papa,
tanto na audiência pessoal como para o Regional, depois nos encontros com os vários
dicastérios que ajudam o Santo Padre a governar a Igreja, e com as celebrações nas
Basílicas romanas – locais da história da Igreja que veneramos, pois ali estão sepultados
irmãos nossos que deram a vida por causa de Cristo e lavaram este chão romano com
o seu sangue.
Nesta visita, o modo de enxergar Roma e os locais de peregrinação
é diferente, e todos nos sentimos comprometidos com a comunhão, unidade, evangelização,
testemunho e renovação de nossas vidas. Não é um ato formal, mas um momento de fé
intensa, que deve ser vivido com alegria e compromisso.
Assim nos ensina Jesus
a pedir: “que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também
eles sejam um em nós, e para que o mundo creia me enviastes”. (Jo 17, 21).
A
visita “ad limina”, portanto, é uma resposta a este mandamento do Senhor, demonstrando
e reforçando a íntima e vital relação que existe entre as Igrejas Diocesanas e a Igreja
Universal.
Com ela reforçam-se os laços de fé e de confiança filial entre
os bispos e o Papa, dando uma dimensão visível para a catolicidade da Igreja.
Assim
sendo, os próprios fiéis sentirão, através do seu bispo, a sua participação e a sua
comunhão com a verdadeira Igreja de Cristo, católica e apostólica.
Pedimos
e oramos com o Senhor para que o fruto desta comunhão que mantemos com Pedro possa
e deva se refletir também no ambiente diocesano.
A comunhão hierárquica,
os sacerdotes e os diáconos em torno de seu bispo nos inserem na mesma lógica da comunhão
sentida nestas visitas ad limina. Essa comunhão, certamente, dá autenticidade de edificação
e de crescimento da Igreja.
Portanto, torna-se imperativo uma verdadeira
comunhão de vida, e não apenas de obediência, entre os bispos e o seu presbitério,
condição para a fecundidade do corpo da Igreja.
Há, certamente, inúmeras atitudes
ou “pecados” que vão contra essa comunhão eclesial. Há atitudes sectárias, personalistas
que buscam distinção, privilégios e serviços especiais, e assim demonstram total desprezo
pela comunhão. Tornar-se disponível ou educar-se para a eclesialidade é, certamente,
serviço para a unidade.
Se Jesus orou pela unidade da sua Igreja, o mínimo
que podemos fazer é nos colocarmos em busca desta unidade para colaborar com a resposta
que o Pai quer que façamos a oração do seu filho.
Se Jesus orou, dentro em
si a perspectiva da cruz, nós podemos entender a importância que Ele dá, então, a
esta unidade.
A unidade da Igreja é uma resposta a um convite claro que nos
faz Jesus. Não deve ser uma questão secundária de nossa vida de Igreja.
A
visita “ad limina” é um momento particular de graça, um tempo favorável para nos sentirmos
mais Igreja, mais em comunhão. Constitui uma singular lição de eclesialidade prática
e uma profunda experiência no mistério da Igreja.
A bênção que pedi ao Santo
Padre, e que dele recebi, pertence, na verdade, a toda a Arquidiocese. Sou portador
desta bênção e da mensagem que a nós todos dirigiu, e que exige de nós todos, bispos,
presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, leigos e leigas um evidente sinal
de generosidade ao Santo Padre. É nesta unidade que crescemos e que se estenderá a
todo o futuro de nossas atividades arquidiocesanas.
Em um ambiente saudável
de união tudo fica mais fácil de ser planejado e concretizado. O crescimento interno
dos nossos sentimentos de unidade na Igreja é testemunho que dá muitos frutos: para
que o mundo creia! Sem a unidade, a Igreja perde a sua razão mesma de ser – testemunha
da verdade do Evangelho.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ