Castel Gandolfo 25 set (RV) - Disurso do Santo Padre aos bispos do Regional
Lesti 1 da CNBB na manhã deste sábado, 25 de setembro, em Castel Gandofo.
Venerados
Irmãos no Episcopado,
Dou-vos as boas-vindas, feliz por receber-vos a todos
no curso da visita ad limina Apostolorum que estais fazendo em nome e a favor das
vossas dioceses do Regional Leste 1, para reforçar os laços que as unem ao Sucessor
de Pedro. Disto mesmo se fez eco Dom Rafael Cifuentes nas palavras de saudação que
me dirigiu em vosso nome e que lhe agradeço, muito apreciando as preces que dia a
dia se elevam ao Céu por mim e pela Igreja inteira das várias comunidades familiares,
paroquiais, religiosas e diocesanas das províncias eclesiásticas do Rio de Janeiro
e de Niterói. Sobre todos e cada um desça, radiosa, a benevolência do Senhor: Ele
«faça brilhar sobre ti a sua face, e Se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o
seu rosto e te dê a paz» (Nm 6, 25-26). Sim, amados Irmãos, o fulgor de Deus irradie
de todo o vosso ser e vida, à semelhança de Moisés (cf. Ex 34, 29.35) e mais do que
ele, pois agora todos nós «refletimos a glória do Senhor e, segundo esta imagem, somos
transformados, de glória em glória, pelo Espírito do Senhor» (2 Cor 3, 18). Assim
o sentiam os Padres conciliares quando, no fim do Vaticano II, apresentam a Igreja
nestes termos: «Rica de um longo passado sempre vivo, e caminhando para a perfeição
humana no tempo e para os destinos últimos da história e da vida, ela é a verdadeira
juventude do mundo. (…) Olhai-a e encontrareis nela o rosto de Cristo, o verdadeiro
herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o companheiro e o amigo dos
jovens» (Mensagem do Concílio à humanidade: Aos jovens). Deixando transparecer o rosto
de Cristo, a Igreja é a juventude do mundo. Mas será muito difícil convencer alguém
disso mesmo, se não se revê nela a geração jovem de hoje. Por isso, como certamente
vos destes conta, um tema habitual nos meus colóquios convosco é a situação dos jovens
na respectiva diocese. Confiado na providência divina que amorosamente preside aos
destinos da história não cessando de preparar os tempos futuros, apraz-me ver raiar
o dia de amanhã nos jovens de hoje. Já o Venerável Papa João Paulo II, vendo Roma
tornar-se «jovem com os jovens» no ano 2000, saudou-os como «as sentinelas da manhã»
(Carta ap. Novo millennio ineunte, 9; cf. Homilia na Vigília de Oração da XV Jornada
Mundial da Juventude, 19/VIII/2000, 6), com a tarefa de despertar os seus irmãos para
se fazerem ao largo no vasto oceano do terceiro milênio. E, a comprová-lo, para além
do mais aflui à memória a imagem das longas filas de jovens que esperavam para se
confessar no Circo Máximo e que voltaram a dar a muitos sacerdotes a confiança no
sacramento da Penitência. Como bem sabeis, amados Pastores, o núcleo da crise espiritual
do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da graça do perdão. Quando este
não é reconhecido como real e eficaz, tende-se a libertar a pessoa da culpa, fazendo
com que as condições para a sua possibilidade nunca se verifiquem. Mas, no seu íntimo,
as pessoas assim «libertadas» sabem que isso não é verdade, que o pecado existe e
que elas mesmas são pecadoras. E, embora algumas linhas da psicologia sintam grande
dificuldade em admitir que, entre os sentidos de culpa, possa haver também os devidos
a uma verdadeira culpa, quem for tão frio que não prove sentimentos de culpa nem sequer
quando deve, procure por todos os meios recuperá-los, porque no ordenamento espiritual
são necessários para a saúde da alma. De fato Jesus veio salvar, não aqueles que já
se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade d’Ele, mas quantos sentem
que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32). A verdade é que todos nós
temos necessidade d’Ele, como Escultor divino que remove as incrustações de pó e lixo
que se pousaram sobre a imagem de Deus inscrita em nós. Precisamos do perdão, que
constitui o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo,
torna-se também o centro da renovação da comunidade. Com efeito, se forem retirados
o pó e o lixo que tornam irreconhecível em mim a imagem de Deus, torno-me verdadeiramente
semelhante ao outro, que é também imagem de Deus, e sobretudo torno-me semelhante
a Cristo, que é a imagem de Deus sem defeito nem limite algum, o modelo segundo o
qual todos nós fomos criados. São Paulo exprime isto de modo muito concreto: «Já não
sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Sou arrancado ao meu isolamento
e acolhido numa nova comunidade-sujeito; o meu «eu» é inserido no «eu» de Cristo e
assim é unido ao de todos os meus irmãos. Somente a partir desta profundidade de renovação
do indivíduo é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e
na morte. Ela é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos
torna capazes da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida
que se realiza a purificação, também a subida – que no princípio é árdua – vai-se
tornando cada vez mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais da Igreja,
contagiando o mundo, porque ela é a juventude do mundo. Venerados irmãos, uma tal
obra não pode ser realizada com as nossas forças, mas são necessárias a luz e a graça
que provêm do Espírito de Deus e agem no íntimo dos corações e das consciências. Que
elas vos amparem a vós e às vossas dioceses na formação das mentes e dos corações.
Levai a minha saudação afetuosa aos vossos jovens e respectivos animadores sacerdotais,
religiosos e laicais. Ergam o olhar para a Imaculada Conceição, Nossa Senhora Aparecida,
a cuja proteção vos entrego, e de coração concedo-vos, extensiva a todos os vossos
fiéis diocesanos, a Bênção Apostólica.