Mogadíscio, 23 set (RV) - “Se a comunidade internacional abandonasse a liderança
e a população somaliana diante das suas próprias responsabilidades poderia se verificar
um momento de esclarecimento, não existiriam mais desculpas de interferências estrangeiras
e eles seriam obrigados a elaborar uma política séria para sair finalmente da crise”:
foi o que disse, de modo muito crítico, o Administrador Apostólico de Mogadíscio e
Bispo de Djibuti, Dom Giorgio Bertin, numa entrevista à agência Fides sobre a situação
que se criou no país do Chifre da África.
Na terça-feira registrou-se a demissão
do Primeiro-ministro Omar Abdirashid, após meses de tensões entre os mais altos cargos
do Estado iniciadas em maio, quando o Presidente Ahmed anunciara que designaria um
novo primeiro-ministro, depois que o governo de transição nacional não conseguiu o
voto de confiança no Parlamento.
Aquele voto, definido por Sharmarke “inconstitucional”,
e as demais divergências levaram à deposição do presidente da Câmara. “As ambições
pessoais e as rivalidades pelo controle dos recursos doados pela comunidade internacional
estão na base da demissão do primeiro-ministro”, advertiu o prelado, segundo o qual,
agora, o perigo maior para a Somália está no fundamentalismo islâmico, que poderia
se estender aos países vizinhos, e na possibilidade de uma guerra civil entre os vários
grupos.
Como observador interno, Dom Bertin delineia os possíveis futuros cenários:
uma divisão interna entre os Shabab, e conflitos entre esses e o outro grupo de integralistas,
Hezbollah. Enquanto os primeiros parecem ser um movimento inter-clã, os demais estão
ligados somente a alguns clãs somalianos. “Poderia também prevalecer o desejo de paz
na população – conclui o bispo – que estaria disposta a aceitar certas limitações
da liberdade para poder reencontrar a serenidade e um regime capaz de garantir um
mínimo de segurança e de ordem”. (SP)