Rio de Janeiro, 21 set (RV) - A visita “ad limina Apostolorum”, que significa
no limiar, na soleira, na entrada, nos limites (das basílicas) dos apóstolos (Pedro
e Paulo), é uma visita dos bispos diocesanos aos túmulos dos Apóstolos, na Diocese
de Roma, a primeira de todas as Dioceses do mundo e onde está a Sé de Pedro, com quem
se encontram na pessoa do Santo Padre.
Visita esta carregada de importância
e feita com periodicidade quinquenal, ou seja, obrigatória a cada cinco anos. Evidentemente
que isso depende muito da época e dos compromissos do Papa e do número de Bispos Católicos.Ela
é prevista no Código de Direito Canônico nos seus cânones 399-400 (“o Bispo deve ir
a Roma para venerar os sepulcros dos Apóstolos Pedro e Paulo e apresentar-se ao Romano
Pontífice”).
Essa tradição salutar é uma graça de Deus que nos dá oportunidade
de estar junto à Sé de Pedro como um voltar às fontes e às inspirações originais em
tudo aquilo que significa esses locais. Também as congregações, institutos, comunidades
e grupos diversos hoje fazem o mesmo, enviando as pessoas que estão ligadas a certo
trabalho ou carisma a irem atualizar-se nos locais onde a vida e o carisma iniciaram.
Isso faz parte de toda instituição que busca retomar sempre ao carisma inicial. Recordemos
o esforço do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre o tema da “volta às fontes”. A presença
nos locais históricos ajuda-nos a estar ainda mais unidos ao espírito inicial.
Por
isso, no seu cerne é uma demonstração de afeto e de obediência ao sucessor de Pedro
num reconhecimento visível de sua universal jurisdição sobre todo o orbe católico
dentro de uma peregrinação dos bispos a Roma e com um encontro pessoal com o Santo
Padre.
Por sua vez, o Santo Padre demonstra afeto e solicitude para com todas
as dioceses do mundo, dando-lhes conselhos e orientações e, claro, diretrizes. Nos
pronunciamentos do Papa encontramos algo próprio para cada regional que faz a visita
e também uma orientação para toda a Igreja que está no Brasil, de forma que, colecionando
e publicando os textos dos discursos do Santo Padre, temos um tratado de reflexões
sobre a caminhada da Igreja em nosso país.
Desde remotos idos era costume
que os bispos fizessem esta visita periódica ao Papa, em Roma. As primeiras manifestações
dessas visitas nós as encontramos na prática entre os bispos italianos, cuja jurisdição
se mostrava mais próximas da Sé Apostólica. Sob o Primado do Papa Zacarias (743) encontramos
decretos pedindo aos bispos da Sicília que fizessem uma visita a Roma uma vez pelo
menos a cada três anos, que depois foi alongado para cinco anos. O caráter obrigatório
das visitas foi expresso sob o Pontificado de Pascoal II e principalmente em decretos
de Inocêncio III.
O ritmo atual das visitas está nas decretais do Papa São
Pio X, que, em dezembro de 1909, o Sumo Pontífice já pedia que os Bispos enviassem
junto com a visita um relatório completo sobre o estado de suas dioceses. Essa obrigatoriedade
é contemplada hoje no Código de Direito Canônico: “o Bispo Diocesano tem obrigação
de apresentar ao Sumo Pontífice, a cada cinco anos, um relatório sobre a situação
da diocese que lhe está confiada” (can 399).
Nesse relatório, os bispos prestam
contas de suas administrações ao Papa e à Santa Sé. Podemos resumir este relatório
da seguinte forma: nome, idade e pátria, sua ordem religiosa, se a ela o bispo pertence
quando foi sagrado bispo. Depois uma declaração geral do estado da sua diocese e o
crescimento ou decréscimo do número de fiéis, e a sua relação com o último quinquênio
apresentado. Informa-se também a origem da diocese, seu grau hierárquico: diocese
ou arquidiocese, e nesta última o número de sedes sufragâneas. A extensão territorial
da diocese, a sua língua e endereços de correspondências para eventuais consultas
posteriores e complementares. Se há católicos de outros ritos presentes em seu território,
o número possível de não católicos e a presença de outras igrejas ou denominações
religiosas de expressão. Informa-se também, é claro, o número de sacerdotes e de ordenações
acontecidas e a questão vocacional e a presença de seminaristas em sua casa de formação.
Menciona-se o número de paróquias e outros lugares de culto e também a presença e
o número de casas religiosas e colégios católicos. Enfim, é um relatório minucioso
sobre a situação geral e o estado específico da diocese. Esse relatório deve ser entregue
em até seis meses antes da visita e não menos de três meses do início desta.
A
periodicidade começa em 1911. Existia no passado certa organização quando nos primeiros
cinco anos caberia aos bispos da Itália e aos bispos das ilhas da Córsega, Sardenha
e Sicilia e Malta; no segundo período aos bispos da Espanha, Portugal, França, Bélgica,
Países Baixos, Inglaterra, Escócia e Irlanda; no terceiro período caberia aos Bispos
do Império austro-húngaro e Alemão, e o resto da Europa, no quarto período aos bispos
da América e quinto período aos bispos Africanos, Ásia, Austrália e ilhas adjacentes.
Evidentemente que hoje depende muito das circunstâncias e das novas realidades. Hoje
os documentos que regulam a visita é o Decreto “Ad Romanan Ecclesiam” de 29 de junho
de 1975 e os artigos 28 a 32 da Constituição “Pastor Bonus” de João Paulo II de 28
de Junho de 1988.
Durante o ano santo de 2000, o Papa João Paulo II suspendeu
as visitas ad limina devido às comemorações do Ano Santo. Com a sua doença e retorno
ao Pai e a eleição do Papa Bento XVI as datas foram postergadas. Podemos notar também
que o número de bispos cresceu significativamente nos últimos anos. De acordo com
o anuário pontifício, no final de 1983 tínhamos 2.285 bispos diocesanos no mundo e
outros 651 bispos auxiliares. Até o final de 2006 havia 2.705 bispos e cerca de 610
bispos auxiliares. Em essência isso significa que o Papa teria que atender, em média,
457 bispos diocesanos a cada ano, a fim de vê-los todos, novamente, em cinco anos.
Hoje essa média subiu para 541.
Embora a obrigação da visita seja dos bispos
titulares, estes, em geral, se fazem acompanhar pelos auxiliares. Assim como o Papa
assume uma visita de cerca de 10-20 minutos por grupo, se multiplicarmos isso em horas
chegaremos a números significativos para a agenda papal.
Essa visita é , evidentemente,
uma visita de trabalho, de reuniões e de contatos que os bispos fazem junto à Santa
Sé e a seus diversos organismos e dicastérios e comissões pontifícias. O nosso Regional
Leste 1, além das celebrações nas Basílicas Romanas e da audiência e encontro com
o Santo Padre, já agendou em média de três visitas aos vários departamentos da Cúria
Romana durante os dias da visita “ad limina”, que irá do dia 23 ao dia 30 deste mês
de setembro.
Peçamos ao Senhor que esta visita seja uma fonte de graças para
a nossa Arquidiocese, e que lá junto ao túmulo de Pedro e junto ao seu sucessor, o
Santo Padre Bento XVI, possamos buscar forças para a nossa caminhada e que as suas
diretivas nos ajudem, como sinalizou em sua recente visita pastoral ao Reino Unido,
em “que a proclamação cristã e o testemunho são cada vez mais importantes em um mundo
marcado não somente pelo individualismo, mas também "indiferente ou inclusive hostil
à mensagem cristã". Por isso, estar com o Papa Bento XVI é ter a certeza de “que a
fidelidade exige obediência para poder alcançar uma compreensão mais profunda da vontade
do Senhor".
Irei levando todos os queridos arquidiocesanos no coração e nas
orações em todas as atividades que teremos durante esta semana, anseios, alegrias,
dificuldades, buscas, sonhos. Assim, junto com os bispos do Regional Leste 1, que
compreende o Estado do Rio de Janeiro e alguns irmãos bispos que se associaram a nós,
fazemos essa romaria para renovar a bonita e corajosa obediência que deve estar "livre
de conformismo intelectual ou acomodação fácil às modas do momento". Por isso, unidos
ao Papa Bento XVI, temos a convicção de que as suas palavras são sempre palavras que
nos guiam neste momento histórico: "de fidelidade ao seu ministério de Bispo de Roma
e Sucessor de São Pedro, encarregado de cuidar especialmente da unidade do rebanho
de Cristo."
É isso que esperamos desta visita e esta é a nossa meta de Arcebispo
do Rio de Janeiro: superar as diferenças e disputas para vivermos a unidade "UT OMNES
UNUM SINT".
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ