CARDEAL TURKSON SOBRE METAS DO MILÊNIO: COMBATER A POBREZA, NÃO OS POBRES
Nova York, 21 set (RV) - Não tenham medo dos pobres: foi o convite do Presidente
do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz, Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, dirigido
nesta segunda-feira no encontro de cúpula em andamento na sede da ONU, em Nova York,
para uma avaliação sobre as metas de desenvolvimento do milênio. O purpurado chefe
da delegação da Santa Sé pediu aos governos dos países desenvolvidos, e não só, que
assumam as suas responsabilidades na luta contra a pobreza.
"As metas de desenvolvimento
do milênio deveriam servir para combater a pobreza, não para eliminar os pobres",
exclamou o Cardeal Turkson na sede da ONU. O purpurado chamou a atenção para o fato
que não se deve "difundir nem impor estilos de vida egoístas ou, pior ainda, políticas
demográficas como meio conveniente para reduzir o número dos povos pobres". Seria
um "sinal pernicioso e míope" – frisou.
Pelo contrário, acrescentou o purpurado,
é preciso "dar aos países pobres uma estrutura acessível de finanças e comércio e
ajudá-los a promover a boa governação e a participação da sociedade civil" para contribuir
efetivamente para o bem-estar de todos.
Ademais, ressaltou, "todos os governos,
tanto dos países desenvolvidos quanto dos países em desenvolvimento, devem assumir
as suas responsabilidades para combater a corrupção contra uma desconsiderada e por
vezes imoral conduta no campo dos negócios e das finanças, bem como a irresponsabilidade
e a evasão fiscal, a fim de assegurar o estado de direito e promover os aspectos humanos
do desenvolvimento como a educação, a segurança no trabalho e a assistência médica
para todos".
Em seguida, fez uma acusação precisa: se inúmeras vítimas inocentes,
inteiras populações foram abandonadas após a crise financeira internacional, isso
se deve "à conduta imoral e irresponsável dos grandes agentes financeiros privados
junto à falta de visão de futuro e controle por parte dos governos e da comunidade
internacional".
Além disso, acrescentou o Cardeal Turkson, os governos – quer
doadores, quer beneficiários – não deveriam interferir ou criar obstáculos para a
autonomia das organizações religiosas e civis engajadas no campo do desenvolvimento;
pelo contrário, deveriam respeitosamente encorajá-las, promovê-las e ajudá-las financeiramente,
o quanto possível.
"A generosidade e a dedicação das organizações religiosas
e civis deveriam inspirar os organismos governamentais e internacionais a fazerem
o mesmo esforço" – ponderou.
Entre os obstáculos ao desenvolvimento, o Presidente
de Justiça e Paz indicou o "nacionalismo excessivo" e o "interesse corporativo", bem
como "as antigas e novas ideologias", que fomentam as guerras e os conflitos, e também
"os tráficos ilegais de pessoas, drogas e matérias-primas preciosas"; a falta de escrúpulos
de alguns empreendedores, a lavagem de dinheiro nos chamados "paraísos fiscais". São
todas realidades que desviam os já limitados recursos para o desenvolvimento nos países
pobres.
Lutar contra a pobreza material é "um objetivo estratégico e nobre",
concluiu o representante da Santa Sé, "mas neste esforço jamais nos esqueçamos que
a pobreza material está ligada à pobreza relacional, emocional e espiritual". A pessoa
humana deve estar no centro da nossa pesquisa para o desenvolvimento, não deve ser
vista como "um peso", mas como "parte da solução". (RL)