Bento XVI aborda questões levantadas pelo regresso de alguns grupos anglicanos ao
catolicismo: Visita do Papa marcou desanuviamento no clima de desconfiança entre as
duas Igrejas
(20/9/2010) Bento XVI abordou este Domingo, pela primeira vez na sua viagem ao Reino
Unido, as questões levantadas ao diálogo entre católicos e anglicanos pela promulgação,
em 2009, da constituição apostólica “Anglicanorum Coetibus”, que apresenta as normas
para o regresso de alguns grupos à Igreja Católica. Num discurso aos Bispos da
Inglaterra, Gales e Escócia, o Papa disse que esta decisão pretendia ser “um gesto
profético que pode contribuir de forma positiva para o desenvolvimento das relações
entre católicos e anglicanos”. “O fim último da actividade ecuménica”, sublinhou
depois, é a “restauração da total comunhão eclesial, no contexto da qual a troca recíproca
de dons das nossas respectivas tradições espirituais serve como um enriquecimento
para todos”. O Papa convidou a “rezar e trabalhar sem cessar em ordem a celebrar
o dia feliz em que este objectivo possa ser conseguido”. A passagem de Bento XVI
pela Inglaterra ficou marcada pelos encontros com o Arcebispo da Cantuária (Primaz
da Igreja Anglicana), Rowan Williams, tornando-se o primeiro Papa a visitar a residência
do lider anglicano, no palácio de Lambeth, e a histórica Abadia de Westminster, em
Londres, no coração do anglicanismo. Das palavras e gestos de ambos, fica a sensação
de que a longa história de desconfiança e mesmo disputas recíprocas vai conhecer capítulos
diferentes, nos próximos tempos. Na visita de cortesia ao palácio de Lambeth, em
Londres, o Papa sublinhou que o “notável progresso feito em várias áreas de diálogo”,
sob o impulso de uma comissão internacional anglicana-católica, Bento XVI convidou
os fiéis das duas Igrejas a explorar, com membros de outras tradições religiosas,
“caminhos para testemunhar a dimensão transcendente da pessoa humana e o chamamento
universal à santidade”. A primeira visita de Estado de um Papa ao Reino Unido acontece
476 anos depois do nascimento da Igreja Anglicana (1534), ocorrido na sequência do
corte de relações do rei Henrique VIII com Roma. João Paulo II estivera na Grã-Bretanha
em 1982, numa visita de carácter pastoral. Para o actual Papa, no momento presente
testemunha-se uma “cultura cada vez mais distante das raízes cristãs, apesar de uma
profunda e disseminada fome de alimento espiritual”. Rowan Williams e Bento XVI
assinaram uma declaração conjunta, onde se afirma o compromisso de “proclamar a mensagem
evangélica de salvação em Jesus Cristo, de maneira racional e convincente, no contemporâneo
contexto de profunda transformação cultural e social”. Ambos procuraram sempre
sublinhar os campos de preocupação comum e não tanto aquilo que separa as duas Igrejas,
evitando ainda abordar a questão do possível «êxodo» de fiéis anglicanos para o catolicismo. Nesse
contexto, apesar das divergências existentes, o Papa e o Arcebispo da Cantuária comprometeram-se
a aprofundar o diálogo, em especial no que diz respeito à “noção de Igreja como comunhão,
local e universal”. Grande curiosidade despertou o facto de Bento XVI ter cumprimentado
uma clériga anglicana, na Abadia de Westminster, uma imagem evidente das diferenças
entre as duas Igrejas. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, assegurou
que o Papa ficou “impressionado” pela beleza da liturgia anglicana e pela forma como
decorreu a celebração ecuménica, admitindo ser normal que Bento XVI cumprimente mulheres
que têm ministérios específicos noutras Igrejas. “Não me parece que isto seja particularmente
problemático”, indicou aos jornalistas.