2010-09-17 19:02:57

Para os legisladores, a religião não é um problema a resolver, mas sim um factor que contribui de modo vital para o debate público na nação”. O Papa no Westminster Hall


(17/9/2010) Depois da visita de cortesia ao Arcebispo de Cantuária Bento XVI deslocou-se para um local simbólico, o Westminster Hall, onde em 1535 foi julgado e condenado à morte S. Tomás Moro, mártir católico acusado de traição no reinado de Henrique VIII, durante o qual se deu a separação entre Roma e a Igreja de Inglaterra.
Ali, o Papa falou a representantes da sociedade civil, do mundo académico, cultural e do corpo diplomático, bem como a líderes religiosos.
No seu discurso, Bento XVI começou por exprimir a consciente que tem da honra e responsabilidade que representa “dirigir a palavra ao povo britânico e aos seus representantes no Westminster Hall, um edifício que tem um significado único na história civil e política do país”. Pensando nos inumeráveis homens e mulheres, que ao longo dos séculos participaram em momentos importantes dentro daquelas paredes, o Papa evocou Tomás Moro, que ali foi condenado à morte. Uma figura de um grande estudioso e estadista inglês – disse o Papa – admirado por crentes e não crentes pela integridade com que foi capaz de seguir a própria consciência.
“O dilema com que Tomás Moro se confrontava naqueles tempos difíceis – a perene questão da relação entre o que é devido a César e a Deus – oferece-me a oportunidade de reflectir brevemente convosco sobre o justo lugar que o credo religioso mantém no processo político”.
Na verdade, as questões de fundo que estiveram em jogo no processo a Tomás More (observou o Papa) continuam a apresentar-se, em termos sempre novos, com a mutação das condições sociais:
“Cada geração, ao mesmo tempo que cuida de promover o bem comum, deve pôr-se sempre de novo a questão: quais as exigências que os governos podem de modo razoável impor aos próprios cidadãos, e até que ponto estas se podem estender? E a que autoridade uma pessoa pode fazer apelo para resolver os dilemas morais?”
Questões que conduzem directamente aos fundamentos éticos do discurso civil.
“Se os princípios morais que sustêm o processo democrático não assentam, por sua vez sobre algo de mais sólido do que o consenso social, então a fragilidade do processo revela-se em toda a sua evidência. Aqui se encontra o verdadeiro desafio para a democracia”.

Para Bento XVI, a questão central em jogo é onde encontrar o fundamento ético para as opções políticas. Segundo a tradição católica, as normas objectivas que governam o recto agir são acessíveis à razão, prescindindo do conteúdo da revelação. O papel da religião no debate político não é, portanto, fornecer tais normas, nem muito menos propor soluções políticas concretas (absolutamente fora da sua competência), mas sim ajudar a purificar e lançar luz sobre a aplicação da razão na descoberta dos princípios morais objectivos. Um princípio “correctivo” da religião em relação à razão (evitando, porém, o sectarismo e o fundamentalismo, formas distorcidas da religião). Daqui a sugestão do Papa:

“O mundo da razão e o mundo da fé – o mundo da secularidade racional e o mundo do credo religioso – têm necessidade um do outro e não deveriam ter medo de entrar num diálogo profundo e contínuo, para o bem da nossa sociedade”.

“Por outras palavras, para os legisladores, a religião não é um problema a resolver, mas sim um factor que contribui de modo vital para o debate público na nação”,

“Quereria portanto convidar todos vós, cada um na respectiva esfera de influência, a procurar vias para promover e encorajar o diálogo entre fé e razão, a todos os níveis da vida nacional”.








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