Bispos belgas tomam providências perante os casos de pedofilia
Os bispos da Bélgica “estão determinados a tirar as lições que se impõem depois dos
acontecimentos horríveis destes últimos meses” relativos ao abuso sexual de menores
por parte de padres. Em conferência de imprensa que teve lugar nesta segunda-feira
em Bruxelas, o presidente da Conferência Episcopal Belga anunciou que os prelados
estão dispostos a colaborar com vítimas e especialistas com vista à abertura de um
“centro para o reconhecimento, cura, readaptação e reconciliação”. A primeira
das medidas avançadas pelos bispos consiste em envolver as vítimas no planeamento
de iniciativas que visem atenuar os prejuízos causados pelos casos de pedofilia. “Quatro
especialistas serão colocados à disposição para estabelecer discussões preliminares
sobre as possibilidades de colaboração entre todas as partes interessadas, incluindo
as vítimas”, indica a nota da Conferência Episcopal. Até à entrada em funcionamento
do centro, que deverá ocorrer até ao fim deste ano, será aberta uma estrutura informativa,
com poderes limitados, para onde os interessados podem pedir esclarecimentos através
de telefone ou correio electrónico.
Há poucos dias, uma comissão de investigação
da Igreja Católica belga tinha divulgado um relatório sobre os abusos sexuais praticados
pela Igreja Católica nesse país, apoiando-se em centenas de relatos das supostas vítimas.
Os testemunhos relatam casos de abusos a crianças ao longo de décadas, entre os anos
50 e 80. Vítimas dos abusos sexuais de eclesiásticos, 13 das vítimas suicidaram-se
e outras seis pessoas tentaram fazâ-lo, sem sucesso. Peter Adriaenssens, o presidente
da comissão responsável pela investigação, dá conta de 507 testemunhas. “As vítimas
esperam e merecem uma Igreja corajosa, que não tenha medo de enfrentar a sua vulnerabilidade,
que reconheça e que coopere para encontrarmos as respostas”. A maioria destes casos
chegou à comissão depois de Roger Vangheluewe, um bispo da Igreja ter sido demitido,
acusado de violar o seu sobrinho entre 1973 e 1986. Desde a sua saída as denúncias
multiplicaram-se. Quase todos os violadores seriam membros eclesiásticos, mas
há também denúncias a pessoas que aliciavam as crianças “depois da missa”, explica
o relatório. Das 507 vítimas, 327 são do sexo masculino e a maioria teria 12 anos
de idade. A investigação revela que metade dos religiosos acusados já morreu e, mesmo
nos casos em que os agressores ainda vivem, a maioria dos delitos prescreveu, pelo
que os casos não podem ser levados à justiça. Como não podia deixar de ser, a
dimensão dos abusos sexuais cometidos por religiosos na Bélgica abala profundamente
o país.