Rio de Janeiro, 13 set (RV) - Em artigo anterior, refletindo sobre o Evangelho
do Pai Misericordioso, recordei sobre a importância da reconciliação e do perdão como
consequência do arrependimento. Continuo um pouco mais nesse mesmo assunto, que julgo
muitíssimo importante para os tempos atuais. Em minhas reuniões com as foranias, uma
das preocupações comuns é o atendimento das confissões nas paróquias, e encontrar
uma paróquia mais central e localizada, com fácil acesso, e com mais sacerdotes para
atendimento em plantões diários das pessoas que procuram o sacramento da penitência. Celebrar
a reconciliação é uma mudança importante em nossa sociedade e mesmo dentro da própria
comunidade eclesial que, influenciada pelas situações hodiernas, além de esquecer-se
da prática sacramental da confissão ou penitência, muitas vezes vive em clima de vingança
e ódio. Acredito que a grande resposta a todos os ranços que existem entre as pessoas,
e que muitas vezes se destroem entre si, será um povo reconciliado como sinal da misericórdia
no meio de nossa sociedade. Assim como somos chamados a viver a reconciliação
no interior da Igreja, ocorrerá também que o sinal da misericórdia deverá aparecer
em nossa sociedade tão marcada pelo ódio e rancor e achando que a solução para todos
os males é retribuir o mal com o mal. A confissão não é apenas para absolver dos
pecados cometidos e assim ter uma melhor condição espiritual para receber a Eucaristia.
O Sacramento da Penitência é de grande valor substancial e extraordinária eficácia
no desenvolvimento da vida cristã. Na Teologia Sacramental exprime-se que a graça
nele obtida tem infinita capacidade de santificar os homens. Outro aspecto é que a
extensão de seus efeitos é proporcional à disposição daqueles que o recebem. A graça
se coloca disponível num coração mais dócil à sua eficácia, como se expressa na Teologia
Espiritual. O perdão é difícil! A confissão da nossa fraqueza, mesmo que isso
ocorra no mais absoluto segredo, nunca é fácil. Mas Deus nos pede para confiarmos
a Ele os nossos fardos. Ele quer se comprometer conosco para nos dar coragem. O Pai
enviou o Seu Filho para nos salvar e não para condenar. Na confissão, começamos,
sim, a nossa jornada rumo à misericórdia e à consolação que só Deus mesmo pode nos
proporcionar, e que nenhuma força humana é capaz de fazê-lo. O mundo que Deus criou
por amor não quer conhecer a Deus. Há uma espécie de cegueira espiritual que a humanidade
está envolvida e mergulhada. Isso provoca uma grande escuridão espiritual, que nos
causa confusão e dúvidas.
Tornamo-nos, assim, prisioneiros de nossos medos.
Mas Deus nos demonstra o seu infinito amor através do Sacramento da Confissão. Tira-nos
do marasmo espiritual e faz-nos ver a luz suprema, que é o Amor que supera todas as
nossas imperfeições e nos completa por inteiro. Eis aí um belo fruto do Sacramento
da Penitência! Na verdade, a atual crise de fé afeta principalmente a inteligência,
quando não se quer conhecer o que é e o que não é pecado. Não devemos, porém, ver
pecado onde ele não existe. Isso também é sinal de maturidade na fé. Mas devemos ser
sinceros em ver o pecado onde ele realmente está. É importante, portanto, saber
o que é certo em termos morais, e assumir o que Deus diz sobre a nossa vida no que
é certo e no que é errado. É certo, entretanto, que Deus não quer a nossa infelicidade,
mas, completamente o oposto. Devemos ir a Ele com total confiança de que vamos encontrar
a chave mestra de nossas questões mais íntimas e mais profundas. Seria bom recordar
de nossa iniciação cristã e das orientações da Igreja para se realizar uma boa confissão
sacramental.
1. O Exame de Consciência. Nesta etapa colocamo-nos diante
de Deus que nos ama e quer estar sempre ao nosso lado. Analisamos a nossa relação
com Ele e abrimos o nosso coração. 2. Contrição dos pecados e arrependimento.
Aqui percebemos o nosso pecado e como ele nos distancia do amor de Deus. Percebemos
que se quisermos ser plenamente felizes, temos que aprender a fazer a vontade Dele
e não somente a nossa. Não queremos rejeitar o amor Dele.
3. Propósito
sincero de não mais pecar. Finalmente, devemos aceitar que Deus quer nos transformar
através do sacramento e, por sua vez, nós nos determinamos a começar uma nova etapa,
a dar um novo passo. Se realmente amamos a Deus então não queremos Dele nos separar
em definitivo.
4. Manifestar os nossos pecados. Não devemos ter receio
e ter vergonha de assumir as nossas falhas. Devemos fazer isso de forma clara, sincera,
despretensiosa.
5. Fazer penitência. Neste último ponto queremos nos
redimir por completo. Isso por gratidão, por amor e não por força ou coação, mas com
coração assumido no pleno amor. “Se dizemos que não temos pecado, nos enganamos a
nós mesmos e a verdade não está em nós” (I Jo 1, 8). Quando confessamos, somos leais
ao Senhor, que para conosco é sempre fiel. A Sua fidelidade neutraliza a nossa infidelidade.
Sua justiça purifica a nossa injustiça. O perdão do Senhor é completo, incondicional
se a Ele correspondemos com outra resposta de amor completo e incondicional. O Senhor
sempre quer nos restaurar e nos trazer de volta ao Seu amor.
Por fim, queremos
recordar o magistério catequético do Santo Padre Bento XVI, quando nos afirma que
“mediante o Sacramento da Penitência, Cristo crucificado e ressuscitado, mediante
os seus ministros, purifica-nos com sua infinita misericórdia, restitui-nos à comunhão
com o Pai Celestial e com os irmãos, nos dá o Seu amor, Sua alegria e Sua paz (mensagem
do Ângelus fevereiro de 2009). Nessa mesma mensagem, o Papa concluiu convidando
os fiéis a procurarem com frequência o Sacramento da Confissão, pedindo a redescoberta
de seu imenso valor e de sua importância na vida cristã. Por isso tenho pedido sempre
em nossos encontros com o clero para que facilitem ao máximo o atendimento das confissões
de nossos fiéis. Todos os que buscam o confessionário têm consciência da necessidade
de uma vida virtuosa e se colocam como autênticos discípulos-missionários de Jesus
Cristo. E quanto mais caminharmos na direção dessa experiência misericordiosa
mais poderemos ser sinais desse amor de Deus à humanidade tão machucada e ferida. † Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ