PAPA: "A MORTE É A CHAVE PARA ATRAVESSAR A PORTA PARA A FELICIDADE ETERNA"
Castel Gandolfo, 08 set (RV) - O Papa Bento XVI disse ontem que o Réquiem de
Mozart, nos leva ao mesmo tempo, a amar intensamente coisas da vida terrena como dons
de Deus e a elevar-se acima delas, olhando serenamente a morte como a “chave” para
atravessar a porta para a felicidade eterna. O Papa assistiu no final da tarde de
ontem a um concerto, na residência Apostólica de Castel Gandolfo, cidade localizada
a 30 quilômetros de Roma e onde passa o período de verão europeu. O concerto foi oferecido
pela Pontifícia Academia das Ciências no qual se interpretou a Missa de Réquiem em
Ré menor K 626, de Wolfgang Amadeus Mozart, executada pela Orquestra de Pádua e do
Vêneto, junto com o coral “Academia da Voz”, de Turim. Na conclusão da apresentação
o Papa tomou a palavra dirigindo-se aos artistas e aos convidados presentes. Bento
XVI falou sobre Mozart.
“Toda vez que ouço suas músicas não deixo de retornar
com a memória à igreja paroquial, quando criança, nos dias de festa, tocava uma de
suas “missas”, e no coração parecia que um raio de beleza do Céu tinha me atingido”,
disse Bento XVI. “Essa sensação – continuou o Papa – eu a experimento cada vez que
ouço essa grande meditação, dramática e serena, sobre a morte”.
O Papa, um
amante da música clássica, explicou que “em Mozart tudo está em perfeita harmonia,
cada nota, cada frase musical e não poderia ser diferente; inclusive os opostos se
reconciliam e a “serenidade de Mozart” envolve tudo, em cada momento”. “Esse é um
dom da graça de Deus, mas também é o fruto da vida de fé de Mozart que, especialmente
na música sacra, consegue transpirar a luminosa resposta do amor divino, que dá esperança,
mesmo quando a vida humana é dilacerada pelo sofrimento e pela morte”, acrescentou.
Bento
XVI recordou a última carta de Mozart a seu pai moribundo em 4 de abril 1787, na qual
ele diz: “Há vários anos tenho me familiarizado com esta amiga sincera e querida do
homem (a morte), e a sua imagem não é terrível para mim, muitas vezes ela aparece
muito tranqüilizadora e consoladora”. “Agradeço a Deus por me ter dado a oportunidade
de reconhecer nela a chave para a felicidade”, disse o Papa lendo a carta de Mozart.
“Eu
nunca durmo sem pensar que amanhã pode ser que eu não exista mais. Nem tão pouco as
pessoas que me conhecem podem dizer que na companhia delas eu estou triste ou de mau
humor. É por isso para que agradeço ao meu Criador cada dia e desejo com todo meu
coração a mesma coisa a cada um dos meus semelhantes”, concluiu a carta de Mozart.
Para
o Papa, este é um escrito que expressa a fé profunda e simples, que também emerge
na grande oração do Réquiem “e nos conduz, ao mesmo tempo, a amar intensamente as
coisas vida terrena, como dons de Deus e a elevar-se acima delas, olhando serenamente
a morte como a “chave” para cruzar a porta para a felicidade eterna”.
“O Réquiem
de Mozart, concluiu Bento XVI, é uma elevada expressão de fé que conhece bem a tragédia
da existência humana e não esconde os seus aspectos dramáticos e é, portanto, uma
expressão de fé precisamente cristã, consciente de que toda a vida do homem está iluminada
pelo amor de Deus”. (SP)