ÁFRICA DO SUL: PREOCUPANTE SITUAÇÃO DOS REFUGIADOS ZIMBABUANOS
Cidade do Cabo, 06 set (RV) - "Os refugiados de Zimbábue com os quais conversei,
estão muito preocupados com as medidas de regularização adotadas pelo governo sul-africano,
porque a situação em Zimbábue não mudou" – foi o que disse o missionário escalabriniano
Pe. Mário Tessarotto que ajuda, em Cidade do Cabo, os refugiados provenientes de vários
países africanos.
No último dia 2, o Governo sul-africano anunciou
que até o fim deste ano irá retirar o visto especial concedido a milhares de cidadãos
zimbabuanos. Trata-se de uma autorização dada aos zimbabuanos para que eles pudessem
residir na África do Sul sem documentos. "Após 31 de dezembro próximo, todos os zimbabuanos
sem documentos serão tratados como os outros e começarão a ser expulsos" – declarou
um porta-voz do Governo sul-africano.
"A África do Sul e o Zimbábue
têm relações muito complexas, que envolvem os partidos no poder nesses países" – explicou
Pe. Mário. O sacerdote se demonstrou perplexo sobre a atuação destas medidas: "Acredito
que será difícil atuá-las. O Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na
África do Sul, está dividido entre uma corrente populista, próxima à oposição do Presidente
de Zimbábue, Robert Mugabe, favorável à repatriação dos refugiados, e outra, que quer
manter boas relações com os Estados Unidos. Esta última teme que a expulsão dos refugiados
prejudique as relações, principalmente econômicas, com os Estados Unidos" – frisou
Pe. Mário.
Na África do Sul vive uma grande comunidade de zimbabuanos,
cerca de 1 milhão e meio de pessoas que abandonaram seu país por causa da fome e perseguições
políticas. "O Zimbábue era considerado antes a reserva de trigo da África Austral
ou mesmo a Suíça da África. A política econômica de seu Governo fez o país precipitar
entre as nações mais pobres do mundo, com um índice de desemprego altíssimo e a agricultura
arrasada, que faz com que o Zimbábue hoje, importe gêneros alimentícios do exterior"
– sublinhou o sacerdote escalabriniano.
A presença de um alto número
de refugiados zimbabuanos, aos quais se somam imigrantes de outros países como Moçambique,
provocou fortes tensões com a população local da África do Sul. "Nós, missionários,
tentamos tranqüilizar as pessoas e promover projetos de desenvolvimento em prol dos
refugiados e dos sul-africanos, e explicamos que os zimbabuanos não querem roubar
os empregos dos sul-africanos.
Várias organizações sul-africanas de
defesa dos direitos humanos expressaram sua oposição contra as medidas de revogação
do visto especial de residência, afirmando temer a retomada da violência política
em Zimbábue, em coincidência com as eleições de 2011. (MJ)