Rio de Janeiro, 04 set (RV) - Estamos em plena “Semana da Pátria”. Iniciamos
o mês da Bíblia com a reflexão sobre o lugar onde vivemos. O país faz parte de nossa
própria tradição pessoal. O homem é obrigatoriamente ligado à terra, ao seu território.
Mesmo agora, com toda globalização, experimentamos como a busca das raízes e das nacionalidades
aumenta ainda mais.
A nação incorpora-se ao ser da dignidade da pessoa enquanto
cidadão que é. A nação é o lugar privilegiado não só de suas características naturais
como planícies, rios, montanhas e o solo, mas é, principalmente, onde nossos antepassados
deixaram a sua marca, onde eles cresceram, onde eles construíram a sua história de
vida, e que nós herdamos esses valores. Essa realidade nos impulsiona a amar a nossa
pátria. Aqui também encontramos a preocupação com os migrantes e também o espírito
cristão, que sabe que é sempre estrangeiro enquanto caminha para a pátria definitiva
e, ao mesmo tempo, sabe que sente como sua pátria todos os lugares onde está. Porém,
o amor às raízes e a nossa responsabilidade pelo bem comum, seja onde nascemos, seja
onde fomos adotados, faz com que, mesmo não perdendo de vista a globalidade das preocupações
humanas, tenhamos também o nosso trabalho na construção de um mundo mais justo e solidário.
O
povo do Antigo Testamento mostra muitas vezes essa ligação com a terra de seus pais.
Muitas passagens do Antigo Testamento demonstram a predileção do povo judeu pela terra
de seus antepassados. O Novo Testamento descreve o carinho de Cristo para com seu
povo e diz que Jesus chorou sobre o destino de Jerusalém, que seria destruída, como
nos recorda o Santo Padre Pio XII em sua encíclica “Summa Pontificatus”, de 20 de
outubro de 1939: “o Divino Mestre dá o exemplo de amor à sua terra quando chorou sobre
a iminente destruição da Cidade Santa”.
A grande questão é que muitas vezes,
e em muitas decisões, há certa confusão entre a nação e seu governo, entre o povo
e os administradores.
Santo Tomás, em sua Summa Theologica (Questão 101, seção
I), assim se expressa: “Assim como é para a religião a adoração a Deus, é, em menor
grau, a piedade do culto aos pais e à pátria.”. Um culto de gratidão à terra que nos
acolheu, gratidão por esse dom recebido.
A Igreja Católica sempre o afirmou
como uma realidade palpável e sempre o teve como uma virtude, aliás, como presente
em sua doutrina, através do Catecismo (2239): “o amor e o serviço ao país são reconhecimento
do direito e estão na ordem da caridade”. Mas esse amor não deve ser descompromissado
e sem reflexão crítica. Para mais amarmos, mais queremos bem à Pátria. Daí vem o compromisso
com os excluídos, a nossa preocupação com o futuro da nação, a cobrança aos governos.
Sabemos
que a situação atual é muito difícil. Os bolsões de pobreza e violência demonstram
quantos passos ainda temos que dar. Só um irmão que passe fome e necessidades extremas
já nos questiona sobre a dignidade da vida humana. A gravidade dos desafios no campo
da pobreza salta aos nossos olhos e não só ao homem de fé, mas também ao bom senso
natural.
O país exige mudanças estruturais e exige que homens bons e honestos
no campo político tomem para si a grande responsabilidade pelo pão, pelo trabalho,
pela educação, pela segurança e pela paz que são pedidos pela nação. Os governos devem
estar a serviço do povo.
O empenho pela transformação do país, para uma pátria
socialmente justa, não é um tarefa apenas para sonhadores: as próximas eleições que
se avizinham são uma forma bem concreta para essa transformação.
Neste momento
das eleições, a Igreja pede que os cidadãos não reduzam a sua participação política
apenas ao voto, embora este seja fundamental e necessário. Pede, igualmente, que não
deixe que os políticos trabalhem sozinhos pelo bem público, mas que todos se sintam
corresponsáveis pelos destinos do país. Todos têm o seu dever de responsabilidade
pública, que começa com o voto e com a eleição, mas neles não se esgota.
Rezemos
para que o povo brasileiro se conscientize, na Semana da Pátria que se inicia, a votar
somente em candidatos “Ficha Limpa” e que tenham compromisso com a vida em todas as
fases, contrários ao aborto, e que defendam a dignidade humana, superando o assistencialismo
e criando condições dignas de ensino de qualidade, acesso ao mercado de trabalho e
constituição de uma cidadania que quer emprego, renda, saúde e educação.
É
isso que desejamos ao nosso Brasil nesta semana em que olhamos para o passado e presente
sonhando com um futuro sempre melhor, enquanto nos comprometemos com atitudes concretas
nesta importante missão de uma pátria justa e aberta e que seja a meta número dos
homens públicos.
+ Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ