Juiz de Fora, 1° set (RV) - Há pessoas que se declaram cristãs por hábito ou
conveniência, sem assumir as exigências do ser cristão. Com um verniz de religiosidade,
tornam-se participantes ou patrocinadoras de uma sociedade desigual e injusta. Essa
realidade pode ser transformada, desde que as pessoas adquiram a Sabedoria que vem
de Deus e ajudem a iluminar os rumos da sociedade. Ser cristão implica o estabelecimento
de prioridades, amadurecendo-as e executando-as coerentemente. Numa sociedade marcada
por diferenças sociais, onde uns dominam e outros são dominados, o Evangelho surge
como a força libertadora, onde todos colaboram e servem ao bem de todos.
A
novidade do Evangelho é um mistério que se compreende pela cruz e na cruz. O seguimento
de Cristo realiza em nós dois mistérios: alegria e cruz. Uma realidade não está separada
da outra. Isso decorre da afirmação de Jesus: “quem não carrega a sua cruz e me segue
não pode ser meu discípulo”. Não existe desafio maior e maior alegria do que essa.
Não
se é cristão natural ou hereditariamente, mas em conseqüência de uma decisão interior
e pessoal. Por isso, é preciso por em prática os riscos decisivos de viver o Evangelho.
O homem é naturalmente sociável. E, para responder a essa necessidade, estrutura comunidades,
cria instituições e diversas modalidades de organizações.
Acontece, porém,
que nem sempre essas bases são justas. O homem importa-se com posições, lucros, vantagens:
Deus, no entanto, considera os objetivos, as intenções. Com sua palavra e seu exemplo,
Cristo vai estabelecendo os princípios de uma nova convivência pacífica, igualitária,
baseada no amor e no perdão.
A vida cristã exige um constante recomeçar, uma
elaboração sempre renovada dos conceitos que facilmente adotamos para nossos relacionamentos
e que nem sempre se inspiram no compromisso de vida em Cristo.
Como Jesus mesmo
disse: “ninguém pode servir a dois senhores”, daí a radicalidade – “ quem não é comigo
é contra mim”. A Palavra do Evangelho não significa, ao pé da letra, que devemos
odiar pai, mãe, irmãos. Significa que amamos pai, mãe, irmãos porque amamos a Deus,
que nos criou, nos deu tudo que temos inclusive a família.
Não fosse assim,
Ele não nos exortaria a “amar o próximo como a nós mesmos” e, principalmente, “amar
a Deus sobre todas as coisas”.
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito
de Juiz de Fora(MG)