Cidade do Vaticano, 28 ago (RV) - Esta semana foi marcada, dentre muitos acontecimentos,
pela notícia do acidente na mina São José de Atacama, no Chile, onde 33 homens estão
presos desde o último dia 5 de agosto. A notícia é que todos eles estão vivos. Toda
a história do ocorrido, além da consternação geral que todo acidente causa, está marcada
pela reação notoriamente humana, tanto da parte dos mineiros, como de suas famílias
e das autoridades.
Da parte dos mineiros, apesar de 23 dias em uma
jazida a 700 metros de profundidade, a demonstração de equilíbrio, inteligência e
maturidade, é muito forte e dignificante. Por si sós, em meio ao caos, foram capazes
de se organizar em grupos, de demarcar um lugar para cada um deles, local para dormir,
local para lazer – no caso o jogo de dominó – e também um local para fazer as refeições.
Agora
o último pedido dos 33 mineiros soterrados na mina São José é o envio de imagens religiosas
para improvisar um altar enquanto esperam ser resgatados. As autoridades consideram
que o resgate dos mineiros poderia levar vários meses, mas confiam em retirá-los antes
do Natal.
Os trabalhadores já receberam um crucifixo. “Os mineiros
querem designar uma área no refúgio como santuário”, disse o Ministro da Saúde Jaime
Manalich.
Nesta semana, o Presidente Sebastián Piñera logo depois de
comunicar-se por telefone com os mineiros, colocou uma imagem de São Lourenço, padroeiro
deles, no palácio presidencial junto com 32 bandeiras chilenas e uma boliviana, que
representam todos os trabalhadores soterrados. O sentimento religioso, a fé, une um
país que espera que seus filhos que se encontram sob toneladas de terra e rocha, recuperem
a liberdade privada por um acidente de trabalho.
Não podendo faltar
o gesto de humildade e de fé, foi também armado, do lado de fora, junto às barracas,
uma barraca capela, onde as pessoas podem rezar, acender velas e conscientizar-se
de que Deus sabe tudo, sabe o que se passa com eles lá embaixo e vela por cada um.
Conscientizar de que Deus é Amor.
As autoridades asseguraram ainda
o contato entre eles e o mundo exterior, e o envio de água potável, alimento, roupas
limpas, chicletes com nicotina para os fumantes, orientação médica e psiquiátrica,
além, é claro, do atendimento psicológico.
Já as famílias dos mineiros
montaram barracas junto ao local do acidente e algum membro da família sempre podem
estar ali presente, para passar a todos a sensação do amor que vela, que não abandona.
Nestes
dias a idéia de fazer um vídeo, onde cada qual se dirigiu aos seus, trouxe às famílias
angustiadas, certa paz, certa tranqüilidade de ver seus entes queridos, e receber
deles mensagens de que estão bem. A frase dita por eles “estamos bem, no refúgio,
os 33”, traduz o estado de espírito desses homens, cujo mais novo tem 19 anos.
Por
ouro lado, para ajudá-los mais ainda no aspecto psico-afetivo, está sendo preparado
um vídeo com mensagens de cada família.
O testemunho de união entre
os mineiros, entre a sociedade chilena atingida por esse acidente, e entre todas as
partes envolvidas, nos dá o sentimento de que o ser humano está tendo sua dignidade
vivida e reconhecida, de que também nessa situação angustiosa se pode fazer com que
o bem sobressaia e conduza o agir daqueles que foram criados à imagem de Deus. (CA)