Kinshasa, 26 ago (RV) - A Onu revelou detalhes sobre as razões de suas tropas
de paz não terem evitado ou reagido ao estupro de mais de 150 mulheres e crianças
no leste da República Democrática do Congo, a apenas 30 quilômetros da base onde estavam
os soldados.
Uma das mais importantes autoridades das Nações Unidas na região
leste da RDC, Roger Meece, disse aos jornalistas, nesta quarta-feira, que os soldados
das tropas de paz tinham recebido informações de que os rebeldes haviam estabelecido
bloqueios nas estradas, mas sem nenhuma sugestão de que os ataques estavam em andamento.
Falando por meio de videoconferência, de Goma, no Congo, Meece afirmou que
patrulhas da Onu chegaram a passar duas vezes pelo principal vilarejo onde os estupros
ocorreram, mas nenhum dos moradores contou aos soldados o que estava ocorrendo.
O
secretário-geral da Onu, Ban Ki-moon, enviou um representante, para investigar o incidente
e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, para esta quinta-feira.
Ban afirmou que está "escandalizado" pelos ataques.
Roger Meece afirmou que
os soldados da força de paz da Onu ficaram sabendo dos estupros apenas dez dias depois
do ocorrido, quando foram informados por um grupo de ajuda humanitária.
Os
estupros ocorreram por dias seguidos, entre o final de julho e o início de agosto,
na cidade de Luvungi e vilarejos próximos.
Roger Meece não soube explicar
o silêncio dos moradores da região em relação aos crimes e formulou a hipótese de
que eles poderiam temer represálias dos rebeldes ou podem ter ficado envergonhados,
devido ao estigma cultural que o estupro representa no país.
Todavia, segundo
uma correspondente da BBC na Onu, Barbara Plett, o que ocorreu foi uma grave falha
de comunicação, que foi ainda mais significativa já que os soldados das tropas de
paz da Onu operam numa pequena base, estabelecida justamente para aumentar o contato
da Onu com os civis da região.
Barbara Plett afirmou que os ataques dos rebeldes
congoleses e ruandeses foram particularmente cruéis até para os padrões de um país
em que o estupro é usado, habitualmente, como arma de guerra. (AF)