2010-08-26 17:06:44

Bento XVI destaca «alma portuguesa» no encontro com a cultura, em Lisboa. Cita Camões e lembra epopeia dos Descobrimentos


Bento XVI deixou hoje rasgados elogios à “alma portuguesa”, considerando que o país tem uma “forte tradição cultural”.
Num encontro com representantes do pensamento, da ciência, da cultura e da arte em Portugal, o Papa mostrou a sua admiração pelo “sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um «ideal» a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo”.
A cerimónia contou com uma saudação de D. Manuel Clemente, enquanto presidente da comissão episcopal responsável pela área da cultura, e do cineasta Manoel de Oliveira, a quem Bento XVI manifestou “admiração e afecto”.
Desde os primórdios, que as artes estiveram “estreitamente ligadas às religiões e o cristianismo foi pródigo em expressões artísticas depois da passagem de Cristo pela terra e até aos dias de hoje”, afirmou esta Quarta-feira o cineasta Manoel Oliveira.
No discurso – intitulado a «Religião e Arte» -, o cineasta considerou estes dois conceitos, “ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltados para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina”.
Nas suas palavras, Manoel de Oliveira considera que “as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não”, são cristãs.
Não querendo alongar-me mais, aproveito a circunstância para, como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não, saudar com profunda veneração sua Santidade, o Papa Bento XVI em visita ao nosso País e rogar filialmente que nos deixe a Sua bênção.
Bento XVI evocou a epopeia dos Descobrimentos e a marca cristã na “tradição cultural portuguesa”.
O Papa disse que os descobridores e missionários eram movidos por “um sentido de responsabilidade global” que nasce da “milenária influência do cristianismo”.
“O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também”, declarou.
Esta tradição originou, segundo Bento XVI, “aquilo a que podemos chamar uma «sabedoria»” que não deve ser esquecida.
A dinâmica da sociedade absolutiza o presente, isolando-o do património cultural do passado e sem a intenção de delinear um futuro. Mas uma tal valorização do «presente» como fonte inspiradora do sentido da vida, individual e em sociedade, confronta-se com a forte tradição cultural do Povo Português, muito marcada pela milenária influência do cristianismo, com um sentido de responsabilidade global, afirmada na aventura dos Descobrimentos e no entusiasmo missionário, partilhando o dom da fé com outros povos. O ideal cristão da universalidade e da fraternidade inspiravam esta aventura comum, embora a influência do iluminismo e do laicismo se tivesse feito sentir também. A referida tradição originou aquilo a que podemos chamar uma «sabedoria», isto é, um sentido da vida e da história, de que fazia parte um universo ético e um «ideal» a cumprir por Portugal, que sempre procurou relacionar-se com o resto do mundo.
A Igreja aparece como a grande defensora de uma sã e alta tradição, cujo rico contributo coloca ao serviço da sociedade; esta continua a respeitar e a apreciar o seu serviço ao bem comum, mas afasta-se da referida «sabedoria» que faz parte do seu património. Este «conflito» entre a tradição e o presente exprime-se na crise da verdade, pois só esta pode orientar e traçar o rumo de uma existência realizada, como indivíduo e como povo. De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados.
Bento XVI defendeu que a Igreja tem de aprender “a estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade”.
Este diálogo deve acontecer “sem ambiguidades” e respeitando “as partes nele envolvidas”, algo que o Papa considerou “uma prioridade para o mundo de hoje, à qual a Igreja não se substrai”.
O diálogo sem ambiguidades e respeitoso das partes nele envolvidas é hoje uma prioridade no mundo, à qual a Igreja não se subtrai. Disso mesmo dá testemunho a presença da Santa Sé em diversos organismos internacionais, nomeadamente no Centro Norte-Sul do Conselho da Europa instituído há 20 anos aqui em Lisboa, tendo como pedra angular o diálogo intercultural a fim de promover a cooperação entre a Europa, o Sul do Mediterrâneo e a África e construir uma cidadania mundial fundada sobre os direitos humanos e as responsabilidades dos cidadãos, independentemente da própria origem étnica e adesão política, e respeitadora das crenças religiosas. Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.








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