CUBA: IGREJA MANTÉM MEDIAÇÃO APESAR DE CARTA DOS DISSIDENTES
Havana, 21 ago (RV) - A Igreja Católica em Cuba assegurou, nesta sexta-feira,
que manterá a mediação para libertar os presos políticos no país, apesar de uma carta
aberta, de "conteúdo ofensivo", que um grupo de dissidentes cubanos enviou ao Papa
Bento XVI, na qual desaprovam duramente a atuação da hierarquia eclesiástica.
"A
Igreja em Cuba não desviará sua atenção daquilo que a motivou a agir neste processo:
a reivindicação humanitária de famílias que sofrem com o encarceramento de um ou mais
de seus membros" – afirma, numa nota, o Arcebispado de Havana, presidido pelo Cardeal
Jaime Lucas Ortega y Alamino.
A nota diz que, quando a Igreja aceitou a missão,
sabia que essa mediação "poderia ser interpretada das mais diferentes maneiras e provocar
reações diversas: do insulto e difamação à aceitação e agradecimento. Permanecer inativa
não era uma opção válida para a Igreja, em razão de sua missão pastoral" – diz a nota
do arcebispado.
Um grupo de dissidentes radicais enviou uma carta ao Santo
Padre, assinada por 165 nomes, na qual qualificam de "lamentável e, de fato, vergonhosa"
a mediação da hierarquia católica cubana perante as autoridades, em virtude da qual
serão libertados 52 presos políticos, remanescenteS do chamado "Grupo dos 75", presos
na manifestação de 2003, conhecida como "Primavera Negra".
Metade dessas pessoas
já foi libertada, desde o dia 7 de julho, e viajou para a Espanha, acompanhada da
família.
"Uma mediação correta sobre o tema teria implicado ouvir as reivindicações
das duas partes e conciliá-las. No entanto, a solução do desterro (...) só beneficia
a ditadura" – diz o texto dos dissidentes, entre os quais estão Martha Beatriz Roque,
Vladimiro Roca e Jorge Luis García (o "Antúnez").
A nota do Arcebispado de
Havana esclarece que a ação da Igreja em favor do respeito da dignidade e da harmonia
social em Cuba não teve como mola propulsora nenhuma tendência política nem tampouco
orientações do governo ou de quem se opõe ao governo, mas foi ditada simplesmente
por sua missão pastoral. (AF)