PERNAMBUCO: TRAÇADO DA FERROVIA TRANSNORDESTINA PODE DESTRUIR IGREJA DE MAIS DE 300
ANOS
Recife, 20 ago (RV) – A construção da ferrovia Transnordestina pode provocar
a destruição de uma igreja com mais de 300 anos, no sertão de Pernambuco. Para evitar
que a igreja – que está no traçado da ferrovia – seja destruída, uma comunidade de
descendentes de escravos se mobiliza.
As obras, executadas pela construtora
Odebrecht, já mudam a paisagem de Custódia, município localizado a 340 km de Recife.
As máquinas preparam o terreno por onde passarão os trilhos. No trecho que cruza a
comunidade pobre, onde muitos são quilombolas, ou seja, descendentes de escravos,
as obras esbarraram na pequena igreja. O traçado da ferrovia prevê que os trilhos
passem exatamente no local onde ela se encontra.
Os engenheiros não esperavam
encontrar tanta resistência por parte dos moradores do lugar. Resistência ditada,
entre outras coisas, pelo fato de, no entorno da igreja estarem enterrados antepassados
dos moradores, ainda que não haja cruzes sinalizando os exatos locais dos túmulos.
"Acho
que deviam arrumar um jeito de desviar a linha e respeitar os nossos direitos e tradições"
– disse o agricultou José Roberto Né, natural da localidade. Ele reconhece que a Transnordestina
pode trazer progresso, mas, como sabe que os restos mortais dos bisavôs dele estão
no local, não quer que o progresso chegue, destruindo a memória da comunidade.
Estácio,
de 81 anos de idade – um dos mais velhos da comunidade – diz que os avós dele estão
sepultados ali e que ele gostaria de preservar os túmulos deles. Papa ele, a solução
é simples. "É só desviar o caminho da ferrovia" – disse.
Arqueólogos da Universidade
de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) fizeram escavações
no local e encontraram 19 ossadas, o que confirma a informação dos moradores.
A
assessoria de comunicação da Transnordestina informou que, quando se soube que a igreja
estava no traçado da ferrovia, foi feito um trabalho de levantamento de dados, para
verificar a importância da capela para a comunidade. Na época – disse a assessoria
de comunicação – a população não levantou objeções à demolição da igreja, tendo inclusive
assinado uma autorização para isso.
Em nota, a assessoria ressalta ainda,
que não vai pôr abaixo a antiga igreja, até que todo o processo sobre o caso esteja
concluído. A primeira missa da nova igreja está programada para o próximo domingo,
dia 22 de agosto. (AF)