Rio de Janeiro, 20 ago (RV) - Completamos o jubileu de ouro da convocação do
Concílio Vaticano II. As comemorações desse evento importante do século XX será uma
oportunidade muito boa para que examinemos nossos passos dados e as propostas do Concílio.
Um
dos aspectos levantados foi sobre o papel e a missão do cristão leigo na Igreja. A
grande preocupação era não apenas de uma maior participação nas preocupações e trabalhos
internos à comunidade, como, principalmente, o testemunho na sociedade, nas realidades
temporais.
O fato de o cristão leigo não deveria ser apenas um expectador ou
destinatário da mensagem evangélica e das preocupações da Igreja, mas, sim, ser consciente
de sua missão de cristão ao interno da Igreja e testemunhando Jesus Cristo à sociedade.
Este foi um aspecto importante do Concílio Ecumênico Vaticano II, que foi
um impulso dado pelo Espírito Santo à Igreja e sua presença no mundo hodierno, mas,
dentre as variadas conquistas, podemos afirmar que uma delas foi certamente a valorização
da vida e missão dos cristãos leigos, que emergiu como um elemento fundamental para
a nova realidade do mundo em transformação.
A presença do cristão leigo está
em muitos documentos, mas o Apostolicam actuositatem é dedicado totalmente ao cristão
leigo. Creio que seja o primeiro num Concílio em toda a história da Igreja.
Dá-se
uma nova ênfase ao conceito basilar da evangelização do mundo, sua transformação para
uma feição mais humanizada, mais justa, e, portanto, mais cristã. Passamos, então,
a falar da missão da Igreja no mundo, servindo ao reino e não a si mesma.
Portanto,
nesta missão evangelizadora da Igreja, recorda-se a missão do cristão leigo, que,
vivendo em sua realidade temporal, é chamado a ser sal, luz e fermento e assim transformar
a realidade através de sua profissão, da sua presença na sociedade, na política, na
cultura, nas ciências, nos esportes, e muito mais. Realidades que não são alcançadas
apenas pelo clero nas suas atividades e missão cotidiana, mas que precisa de um protagonista.
Aos leigos é dada essa vocação específica: fazer a Igreja presente e fecunda naqueles
lugares e circunstâncias onde somente através dos leigos ela pode se tornar o sal
da terra.
O Papa Paulo VI afirmava que os leigos são como uma ponte que une
a Igreja à Sociedade. Não como uma interferência da Igreja na ordem temporal ou nas
estruturas dos assuntos mais afetos à vida política ou econômica, mas, sim, para não
deixar que o nosso mundo fique sem a mensagem da salvação crista, sem as luzes do
Evangelho e da mensagem de Cristo. Portanto, os leigos são chamados a estabelecer
este contato entre a vida eclesial e a sociedade, ser os construtores de uma nova
maneira de servir o bem comum e imbuir a realidade terrestre de uma ordem transcendentes,
eterna, Divina.
São Paulo nos afirma que toda a criação será recriada em Cristo.
O mundo geme em dores de parto por uma nova ordem: mais justa, mais fraterna. Todos
são convidados, portanto, a seguir o modelo de Cristo.
Os leigos são corresponsáveis
pela missão da Igreja, companheiros de caminhada e em quem se confia, a quem se recorre,
em quem se acredita e a quem se dá espaço na decisão, no planejamento e na execução
das várias atividades na Igreja, e isso pela própria essência de sua consagração batismal.
Unidos
a Cristo, através do Batismo, sacramento da fé, os leigos devem, portanto, estar atentos
não só a uma pertença à Igreja, mas “ser” e sentir com a Igreja que é mistério de
comunhão.
A V Conferência Episcopal Latino Americana, em Aparecida, afirma
que “os fiéis são os cristãos que unidos a Cristo pelo Batismo, são o povo de Deus
a participar nas funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles fazem, de acordo
com sua condição. São os homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no
coração da Igreja. Sua missão é realizar o seu testemunho e atividade e contribuir
para a transformação das realidades e para a criação de estruturas justas, segundo
os critérios do Evangelho”.
A missão não é somente uma escolha ou uma opção,
mas, sim, um dom de Deus. A missão não é nossa nem de um grupo, mas é da Igreja, que
nos envia, e no centro desta missão laical deve estar o Espírito do Senhor Ressuscitado,
a quem obedecem com a mesma dignidade, mas com ministérios diversos, tanto os leigos
como os ministros consagrados. Ter tal consciência desta centralidade da missão em
Cristo é de fundamental importância na vida do laicato no seio da mãe Igreja.
Conclamo
todos os leigos de nossa Arquidiocese, os católicos apostólicos e romanos, para viverem
a grandeza de seu batismo, colocando a mão no arado e chamando a todos para o “vinde
e vede” do senhor Jesus!
+ Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ