JOVENS ABRAÇAM IGREJA EM MEMÓRIA DA CHACINA DA CANDELÁRIA
Rio de Janeiro, 16 ago (RV) - Jovens católicos reuniram-se na manhã deste domingo
na Igreja da Candelária, no Centro do Rio, para uma manifestação pela paz. Cerca de
dois mil fiéis deram um abraço simbólico na igreja e soltaram balões brancos. O arcebispo
do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, também participou do ato e, em seguida,
celebrou a Eucaristia.
A manifestação encerrou a Vigília de Oração
"Para que todos sejam um", que começou às 21h de sábado, dia 14, na Catedral Metropolitana
do Rio de Janeiro. A noite contou com orações, pregações, música e procissão luminosa
pelas ruas da Lapa.
O motivo da manifestação foi lembrar os 17 anos
do episódio que ficou conhecido como "Chacina da Candelária".
Mas o
que foi a Chacina da Candelária? Foi o assassinato frio de adolescentes que dormiam
sob a marquise nas proximidades da Igreja da Candelária. Os autores do gesto? Policiais
militares! O episódio ocorreu na madrugada de 23 de julho de 1993.
Mais
de 40 crianças dormiam na praça da igreja, quando cinco homens desceram de dois carros
e dispararam em sua direção. Até hoje não se sabe o que motivou a matança.
Duas
crianças e um rapaz de 19 anos foram mortos no local, enquanto os outros, aqueles
que acordaram a tempo, tentavam fugir. Perseguidas, mais duas crianças foram alcançadas
e mortas. Outros dois corpos foram localizados no Aterro do Flamengo, local a poucos
quilômetros da Candelária.
Wagner dos Santos, a principal testemunha
do crime, contou que foi levado de carro pelos homens e só sobreviveu porque se fingiu
de morto. Mais de um ano depois da chacina, em dezembro de 1994, Wagner sofreria outro
atentado no qual levou quatro tiros, tendo resistido aos ferimentos.
Em
outubro de 1995, o sobrevivente pediu proteção ao então presidente da República, Fernando
Henrique Cardoso, para prestar novos depoimentos sobre o caso. Ele se mudou para Suíça
e ía ao Brasil para participar dos julgamentos dos acusados.
Três anos
depois do crime, em novembro de 1996, num julgamento que durou 19 horas, o PM Nelson
Cunha foi condenado a 261 anos de prisão.
Outro acusado, o também policial
militar Marcus Vinícius Borges Emmanuel, foi julgado três vezes. Primeiro, ele foi
levado a júri popular, em abril de 1996, mas a defesa recorreu. Em junho do mesmo
ano, ele foi condenado pela morte de dois menores e absolvido de outras nove imputações.
Em 2003, depois de um recurso do Ministério Público, o ex-policial foi julgado por
quatro homicídios e cinco tentativas de homicídio. Emmanuel cumpre pena de 300 anos
de reclusão.
Marcos Aurélio de Alcântara foi o terceiro e último acusado
a ser julgado, em agosto de 1998. Ele chegou a confessar o crime em 1995, mas mudou
a versão no primeiro dia de julgamento e alegou inocência. Os advogados tentaram provar
que ele teria sido induzido a confessar o crime, mas Marcos Aurélio de Alcântara foi
condenado a 204 anos de prisão.
Dez anos depois, os sobreviventes tinham
tomado diferentes rumos. Um deles passou a morar numa favela com os pais e uma filha
de 10 anos. Outro, que tinha apenas 5 anos no dia do crime, permanecia pelas ruas.
Já a testemunha Wagner dos Santos vive em Genebra, sob a proteção do governo suíço.
(AF)