DESPRENDIMENTO DAS RIQUEZAS NOS APROXIMA DE DEUS. O EXEMPLO DE CLARA
Assis, 11 ago (RV) - O Cardeal-prefeito da Congregação para o Clero, Dom Cláudio
Hummes, encontra-se hoje na cidade de Assis, onde no mosteiro de Santa Clara, presidiu
a Eucaristia para as irmãs Clarissas.
Na iminência do Jubileu pelos oito séculos
de fundação da Ordem, Dom Cláudio parabenizou as irmãs e começou sua homilia mencionando
a atualidade de Santa Clara: a jovem que foi inovadora em seu tempo, e que hoje, em
meio à riqueza, ao dinheiro, ao luxo, ao domínio e à nossa ânsia de superioridade
na sociedade, seria ainda mais desafiadora.
A propósito da escolha de vida
de Clara, o Cardeal explicou que ela seguiu radicalmente – como Francisco – o Jesus
do Evangelho, pobre e humilde. Foi por isso que ela decidiu viver na pobreza e na
fraternidade: Francisco, na vida itinerante, sem nada de seu; Clara também, com suas
irmãs, na essencialidade mais radical. Nem a Ordem e o Mosteiro possuíam propriedades,
e isso era uma grande novidade.
Preocupado, o Papa Gregório IX tentou aliviar
tal pobreza, mas diante da resistência de Clara – que usou todas as suas forças espirituais
– deixou-se convencer por sua doçura e inspiração. A luta pela confirmação definitiva
do que ela definia “privilégio” durou, no entanto, todos os 40 anos de sua vida monástica.
Somente alguns dias antes de sua morte, em 1253, o Papa Inocêncio IV promulgou a solene
bula papal de confirmação definitiva.
Clara e Francisco queriam viver somente
por amor de Jesus Cristo, e com ele, por amor aos outros, principalmente aos pobres.
Queriam anunciar ao mundo, com a sua vida real e visível, o grande amor com que Jesus
nos amou. Aquilo que hoje poderia ser visto como um limite ou uma desgraça, foi para
os dois jovens um caminho de liberdade interior, de adoração a Deus e de serviço amoroso
aos próximos.
Não possuir propriedades, mas somente o uso das coisas, nos
torna realmente livres da busca desenfreada de riquezas materiais. Por outro lado,
a Igreja reconhece o direito à propriedade privada, não como um direito absoluto,
mas subordinado ao bem comum, ao princípio do destino universal dos bens terrestres,
ou seja, sob hipoteca social.
O gesto de renúncia de Clara e Francisco é um
sinal profético de um mundo mais livre, justo e fraterno, mas também um ato de adoração
a Deus, pois prova que tudo pertence a Deus, e não a nós. Deus nos oferece os bens
da Terra para nosso sustento com dignidade. Reconhecer Deus como o Senhor da Criação
é louvá-Lo sem a avidez de quem quer se apropriar dela. Por isso, a pobreza como opção
livre nos torna mais disponíveis a compartir com os pobres aquilo que nos foi doado;
aproxima-nos deles; faz-nos participes da luta pela justiça social e a divisão justa
dos bens da terra entre todos os homens e nações.
Concluindo a homilia, Dom
Cláudio Hummes indicou que esta foi a seqüela escolhida pelos dois jovens de Assis:
por amor a Ele nEle, e com Ele, por amor aos outros. No Evangelho, consta: “O ramo
não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não
podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Da glória de Cristo
ressuscitado, participam os que o seguiram na humilhação. E esta foi a meta alcançada,
pela graça, por Clara e Francisco, humildes e pobres, seguindo Cristo, humilde e pobre.
(CM)