Rio de Janeiro, 08 ago (RV) - Neste segundo domingo de agosto comemoramos o
Dia dos Pais, mesmo sabendo que todos os dias devem ser dedicados aos pais e à valorização
do ingente papel paterno na família, constituída pelo casamento do homem com a mulher,
dentro da convocação da Igreja, para terem filhos e os educarem na fé. Na comunidade
família, o pai é chamado a viver o seu dom. Por isso mesmo recordamos que nesse mesmo
domingo rezamos pela vocação matrimonial e iniciamos a Semana Nacional da Família.
A paternidade começa no compromisso de vida do marido para com sua
esposa, baseando-se no amor desinteressado e generoso. Descobrir a beleza de colaborar
no plano da criação e se responsabilizar pelo futuro é por demais belo para que não
contemplemos essa bonita missão recebida de Deus!
Os filhos e filhas
devem ter a oportunidade de reconhecer no pai a presença do amor, da escuta e do apoio
oportuno para o seu crescimento, para se tornarem pessoas que experimentem o amor
e vivam com equilíbrio a vida humana e com conhecimento dos seus direitos e responsabilidades.
Também receberão o apoio para alcançar a auto-estima, a autêntica autonomia e independência
para compartilhar e celebrar os seus sucessos, e dar conforto quando confrontado com
o fracasso.
Os pais não serão julgados pelo valor dos bens materiais
que eles possam ou devam proporcionar a seus filhos: o que realmente importa é a forma
como o Pai orienta seus filhos para Jesus Cristo e qual o papel de modelo de fidelidade
de valores ele realmente apresenta no seio de sua família. Neste sentido, o pai é
chamado a assegurar o desenvolvimento harmonioso e de união entre todos os membros
da sua família e partilha com a esposa a formação dos filhos.
Porém
compartilhamos também as angústias de muitos pais, que hoje, frente às frustrações
da procura por emprego, ou de desejo de dar o melhor pela sua família, sem poder fazê-lo
olham com preocupação a vida de sua família e o futuro de seus filhos. Aqui temos
a necessidade de uma sociedade mais justa e solidária que devemos construir com a
nossa participação.
Deus é a fonte da vida e do amor em que a família
vive no mundo de hoje. O Papa Paulo VI já nos recordava na Encíclica Humanae Vitae
que o casamento “não é efeito do acaso ou do produto da evolução de forças naturais
inconscientes: é uma instituição sapiente do Criador para realizar na humanidade o
seu desígnio de amor” (HV 8).
Daí que na missão de pai este é convidado
a frutificar e ter a vida ao máximo, exercendo sua função específica biológica e psicológica
no contexto da família. Mais do que nunca hoje notamos a necessidade desse equilíbrio
familiar e o papel do Pai na formação humana de seus filhos. Não se pode abdicar dessa
obrigação fundamental da célula da sociedade que é a família e a missão que esta tem
no presente e futuro da sociedade. Para os cristãos isso se reveste de uma vocação
e conta com a graça de Deus para que possa corresponder ao chamado de Deus para bem
desempenhá-la.
Em resumo poderíamos dizer que a missão do Pai é uma
vocação, em última instância, do próprio matrimônio. Este significa uma união de pessoa
com todos os seus valores, e tudo o que deve representar a medida de sua própria dignidade.
Todo homem e toda mulher devem doar-se mutuamente em dom sincero de si, através das
expressões de sua masculinidade e de feminilidade, o que transpassará certamente para
o seu relacionamento com os filhos que virão de sua união.
A família
é desafiada com variados problemas urgentes e inúmeros ataques e crises que são, na
verdade, provocados pelas tendências de uma sociedade em mudança. Portanto, é importante
lembrar que os cônjuges têm uma importante missão na educação dos seus filhos, passando-lhes
valores e nobres ideais.
Neste contexto, surge o conceito de Pai como
serviço no amor, conforme nos recorda o Papa Paulo VI: “na tarefa de transmitir a
vida, os pais não são livres para procederem à vontade, como se pudessem determinar
de forma totalmente autônoma as vias honestas a seguir, mas devem conformar a sua
atividade de acordo com a intenção criadora de Deus, expressa na própria natureza
do matrimônio e de seus atos”.
A criança não pode exercer certas fases
de sua maturidade psicológica sem a ajuda paterna, que a ajuda a ousar e a enfrentar
as adversidades da vida. O pai educa principalmente pela sua conduta pessoal, que
consigo também carrega os variados aspectos da sua própria identidade. Os filhos e
também filhas olham para a figura paterna muito mais do que apenas uma extensão de
seus conhecimentos limitados. Olham para seus gestos, suas expressões e para o seu
testemunho. Procuram neste um valor e um sentido de suas vidas, que encontrarão, certamente,
na realidade das coisas, na vida que se apresentará diante deles, um dia.
Em
suma, a paternidade é um “link” para as consciências dos filhos, que os orienta na
condução moral e nos princípios éticos de suas existências.
Rogamos
hoje a São José, como modelo de pai, que abraçou por inteiro as suas responsabilidades
e que ressalta sempre em nós a sua firmeza e sua perseverança, confiando sempre em
Deus. Imagens de São José com frequência o retratam segurando uma régua de carpinteiro,
mas que podem muito bem simbolizar não só o seu ofício, mas também a sua capacidade
de governar e medir as suas posições como homem de família e como pessoa de fé.
São
Bento, grande mestre da espiritualidade, diz que o abade de um mosteiro tem que mostrar
a atitude dura de um mestre e a ternura de um pai. O mesmo deveria se aplicar aos
pais de família. Devem ser tanto carinhosos com seus filhos, enquanto agem com firmeza
em sua educação.
Auguro que os pais de nossa Arquidiocese e do Brasil
possam transmitir as verdades da nossa fé católica aos seus filhos e dar um bonito
testemunho de discipulado e missionariedade, para que a sua família, rezando e celebrando
unidos a sua fé, seja a autêntica Igreja doméstica, parcela da Igreja de Cristo.
Que
Deus abençoe todos os pais!
+ Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ