São João Del Rei, 31 jul (RV) - Encerrou-se ontem, na cidade de São João del
Rei (MG), a 22ª Assembleia do bispos, padres e diáconos negros.
O encontro
teve como tema principal de reflexão a contribuição dos artistas negros na arte sacra,
tendo como referencia o Estado de Minas Gerais. "Mesmo diante do ocultamento histórico,
os artistas negros conseguiram imprimir seus traços no embelezamento e na riqueza
cultural e religiosa do nosso país" – refere o texto da declaração final.
Além
do estudo do tema, os participantes visitaram as igrejas da cidade de São João del
Rei e Tiradentes (MG), tomando conhecimento das expressões artísticas.
A seguir,
leia a íntegra da carta.
MENSAGEM DA 22ª ASSEMBLEIA DO IMA Nós, bispos,
presbíteros e diáconos do Instituto Mariama, reunidos na XXII assembléia, em São João
Del Rei, nos dias 26 a 30 de julho do corrente ano, refletimos sobre a contribuição
dos nossos Antepassados na arte-sacra, a partir de Minas Gerais. Num clima de intensa
fraternidade e partilha, com irmãos vindos dos mais diferentes Estados do Brasil,
trouxemos inquietações a respeito da causa do nosso povo negro e da postura do presbítero
negro em meio a esta realidade tão desafiadora. Faz parte da opção que fizemos, como
Igreja, identificarmo-nos com a realidade do nosso povo, fazendo valer direitos, superando
preconceitos e promovendo a vida. Assim acreditamos contribuir na construção de uma
sociedade mais justa e solidária, sinal do Reino de Deus. O professor, historiador
e especialista em arte sacra, Antonio Gaio Sobrinho, em sua brilhante reflexão, nos
ajudou a perceber que, embora não seja tarefa muito fácil encontrar referências documentais
sobre a contribuição dos negros na arte sacra, sabemos que trouxeram da África técnicas,
habilidades, saberes e conhecimentos artísticos, que aqui foram utilizados e ressignificados.
Muitos negros e mulatos se distinguiram como mestres em diferentes artes. Citamos:
Aleijadinho, Aniceto de Sousa Lopes, Venâncio do Espírito Santo, João da Mata, Ireno
Batista Lopes, Luiz Batista Lopes, Monoel Dias de Oliveira e Pe. José Maria Xavier.
Isso leva a crer que, mesmo diante do ocultamento histórico, os artistas negros conseguiram
imprimir seus traços no embelezamento e na riqueza cultural e religiosa do nosso país. Sobre
isso, vale lembrar o que disse o saudoso papa João Paulo II, escrevendo aos artistas
em 1999: “Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por
isso, a história da arte não é apenas uma história de obras, mas também de seres humanos.
As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam a contribuição
original que eles oferecem à história da cultura”.
A espiritualidade do encontro
nos levou a participar na vida das comunidades que nos acolhiam e, assim, auxiliados
por D. Zanoni, e pelo Documento de Aparecida, aprofundamos a dimensão da missionariedade,
no desejo de crescermos na comunhão e na participação em uma Igreja, chamada a deixar
a pastoral da conservação para ir ao encontro das pessoas em sua realidade concreta.
Este passo deve ser dado a partir do reencantamento com a pessoa de Jesus Cristo,
como seus verdadeiros discípulos missionários.
Não podemos deixar de registrar
a grande perda que tivemos recentemente, com o falecimento dos nossos quilombolas,
Pe. Getúlio, liturgista, e Pe. Antônio Aparecido da Silva (Pe. Toninho), grande incentivador
da caminhada da pastoral afro e co-fundador do Instituto Mariama. Teólogo de grandeza
que, com sua simpatia e simplicidade, nos ajudou na construção de um pensar teológico
negro. Ecoa em nossos corações um de seus dizeres: “sozinhos, morremos, juntos viveremos”. Bendizemos
ao Deus da vida, Criador de todas as coisas, pelo testemunho de tantos negros e negras,
que investem o melhor de suas forças para maior dinamicidade na evangelização da Igreja.
Diante de forças que negam vida plena aos negros e negras na sociedade, nós ministros
ordenados, na medida em que assumimos, com consciência, a nossa negritude, explicitamos
melhor a identidade da nossa Igreja, marcada, desde o seu nascimento, pela diversidade
cultural, num discipulado reparador, missionário e dialogante. Fazemos isto iluminados
pelo Documento de Aparecida, que afirma: “A Igreja, com a sua pregação, vida sacramental
e pastoral, precisará ajudar para que as feridas culturais injustamente sofridas na
história dos afro-americanos, não absorvam nem paralisem, a partir do seu interior,
o dinamismo de sua personalidade humana, de sua identidade étnica, de sua memória
cultural, de seu desenvolvimento social nos novos cenários que se apresentam” (DAp,
n. 533). Sob a proteção da Negra Mariama, convidamos a todos para o próximo encontro
na diocese de São Mateus - Espírito Santo, de 25 a 29 de julho. Com a força e inspiração
do Espírito Santo! Instituto Mariama