Papa João Paulo II ao novo embaixador de Gana: a promoção da justiça deve estar no
próprio centro dos esforços que a comunidade internacional faz com vista a resolver
os problemas
13 de Dezembro de 2002 DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II AO EMBAIXADOR DE GANA, OWSU-SARPONG
ALBERT, JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS
Excelência
É
com prazer que lhe transmito as minhas cordiais boas-vindas, no momento em que Vossa
Excelência chega ao Vaticano para apresentar as Cartas que o acreditam como Embaixador
Extroardinário e Plenipotenciário da República de Gana junto da Santa Sé. Fico feliz
com os bons votos que o Senhor Embaixador me transmite da parte de Sua Excelência
o Senhor Presidente John Agyekum Kufuor e também da parte do seu governo, enquanto
retribuo de bom grado a certeza das minhas orações pela prosperidade e pelo bem-estar
espiritual do povo da sua Nação.
Ao falar do compromisso franco do seu País
em benefício da paz, o Senhor Embaixador quis recordar os esforços da Santa Sé neste
campo. Com efeito, é precisamente a tarefa de promoção do entendimento, do desenvolvimento
e da paz entre os povos e as nações que motiva a actividade diplomática da Santa Sé.
Um importante aspecto desta missão de promoção da paz é a tarefa de despertar uma
consciência cada vez mais acentuada do valor fundamental da solidariedade. Como o
moderno fenómeno da globalização realça com crescente clareza, a sociedade humana
a níveis tanto nacional, como regional ou internacional é cada vez mais dependente
dos relacionamentos básicos que as pessoas cultivam umas com as outras e em círculos
cada vez mais largos. Estes relacionamentos partem da família, passam pelos grupos
intermediários e chegam à sociedade civil no seu conjunto, abarcando toda a comunidade
nacional de um determinado país. Os Estados, por sua vez, entram em relação uns com
os outros; além disso, criam-se redes de interdependência global, tanto a nível regional
como mundial.
Ao mesmo tempo, esta crescente realidade da interacção e interdependência
humanas realça as numerosas desigualdades existentes entre os povos e as nações:
há um profundo fosso entre os países ricos e as nações pobres; no interior dos países
existem desequilíbrios sociais entre as pessoas que vivem na riqueza e aquelas que
são feridas na sua dignidade, em virtude da falta das necessidades básicas da vida.
Além disso, há que relevar também o prejuízo causado no ambiente humano e natural,
pelo uso irresponsável dos recursos.
Devemos ainda considerar o triste facto
de que em determinadas regiões estes factores negativos se tornaram tão fortes que
alguns dos países mais pobres parecem ter atingido um ponto de declínio irreversível.
Por este motivo, e obrigatoriamente, a promoção da justiça deve estar no próprio centro
dos esforços que a comunidade internacional faz com vista a resolver estes problemas.
Trata-se
de ajudar de maneira activa os indivíduos e os grupos que actualmente sofrem devido
à exclusão e à marginalização, a fim de que possam tornar-se parte do processo de
desenvolvimento económico e humano. Para as regiões ricas do mundo, isto significa
que são necessárias algumas mudanças nos estilos de vida, certas transformações nos
modelos de produção e de consumo; e nas áreas em vias de desenvolvimento, muitas vezes
é preciso uma mudança nas estruturas existentes de distribuição do poder, tanto político
como económico. Para toda a família humana, significa enfrentar os sérios desafios
apresentados pela agressão armada e pelos conflitos violentos, realidades estas que
dizem respeito não apenas aos povos e aos Estados, mas também às organização não institucionais,
como os grupos paramilitares e terroristas. Diante de tais ameaças, não pode deixar
de se sentir o urgente dever moral de trabalhar activamente pela promoção da paz e
da compreensão entre os povos, uma tarefa que depende em grande parte do estabelecimento
na justiça de uma solidariedade autêntica e efectiva.
Neste mesmo contexto,
observamos as trágicas consequências que o conflito étnico continua a provocar em
numerosas regiões do mundo inteiro, inclusivamente em várias áreas da África e até
mesmo no seu próprio País, Senhor Embaixador, no qual infelizmente não têm sido evitados
episódios de violência estimulada por rivalidades tribais. Também aqui o princípio
da solidariedade pode ajudar as diversas partes interessadas a reconhecerem os valores
que têm em conjunto, valores estes que estão enraizados na nossa própria natureza
de pessoas humanas. A consciência destes valores conjuntos oferece uma base intrinsecamente
universal para o diálogo fecundo e construtivo, e para o mútuo entendimento. Isto,
por sua vez, prepara o campo para a ulterior democratização da sociedade, contribuindo
para aumentar a participação de todos os grupos interessados numa ordem da vida pública
que seja representativa e juridicamente salvaguardada.
É óbvio que a Igreja
católica será sempre um parceiro de boa vontade na busca do bem comum, e que continuará
a oferecer a sua contribuição específica para a edificação da sociedade ganense. A
este propósito, estou reconhecido a Vossa Excelência pelas suas palavras sobre a presença
positiva da Igreja no seu País. Gostaria de observar ainda que é a garantia do direito
à liberdade religiosa a pedra angular da harmonia e da estabilidade em qualquer sistema
democrática de governo que torna os católicos de Gana grandemente capazes de trabalhar
pelo progresso espiritual e material dos seus compatriotas, promovendo a unidade e
fomentando a irmandade e a solidariedade humanas eficazes.
Senhor Embaixador,
estou convicto de que a sua missão aqui contribuirá para fortalecer os vínculos de
amizade e de cooperação já existentes entre a República de Gana e a Santa Sé. No momento
em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, formulo-lhe os meus
bons votos e asseguro-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão prontos
para o ajudar no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e o querido
povo de Gana, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.