Juiz de Fora, 28 jul (RV) - O mundo atual tem provocado uma grande inversão
de valores. Antigamente, respeitavam-se os mais velhos porque se acreditava que a
sua experiência lhes conferia sabedoria. Os conselhos, as advertências deles eram
de grande valia na solução dos obstáculos que os jovens deveriam enfrentar. Havia
mesmo um consenso popular de que se deveriam respeitar os cabelos brancos dos idosos.
Sabemos
que idade não confere a ninguém santidade, mas sabemos também que os idosos já sofreram
maiores decepções, já lutaram, já realizaram alguma coisa que os mais novos estão
começando a querer realizar. Além disso, os sofrimentos por que passa uma pessoa que
já viveu mais burila o seu Ser, tornando-o mais capaz de compreender a vida como um
todo. O episódio da pecadora que estava sendo apedrejada nos remete a uma reflexão
oriunda de um pequeno detalhe. Quando Jesus adverte de que quem não tiver culpa atire
a primeira pedra, o texto fala que todos foram saindo, a começar pelos mais velhos.
Bem,
podemos pensar que os mais velhos, por terem vivido mais, erraram mais. Porém, podemos
pensar também que os mais velhos, justamente por terem vivido mais, têm maior consciência
de suas faltas, por experiência e por terem desenvolvido, através dos anos, maior
consciência do que é certo ou errado.
Grande parte ou a maioria das pessoas
tem preconceito contra o idoso. Acham que ele é “gagá”, que não fala coisa com coisa,
que está desatualizado. Mas se esquecem que esse velho “gagá” foi quem construiu alguma
coisa para que ele, jovem, hoje, tenha condições de vida melhor. Esquece-se também
que os jovens de hoje serãoos velhos de amanhãe com menos jovens para cuidar deles.
Na
Igreja também sentimos às vezes, esse preconceito, infelizmente. Alguns preferem ouvir
a homilia de um padre jovem e despreza as palavras de um padre idoso. Também alguns
leigos idosos são rechaçados no seu trabalho pastoral, pela preferência pelo leigo
jovem. É a sociedade influindo negativamente na Igreja.
Precisamos de sangue
novo, é certo. Renovar é sempre positivo. Mas precisamos nos lembrar de que o espírito
jovem não é privilégio dos moços. Há idosos que têm o coração cheio de amor, de esperança,
de otimismo e que podem dar o seu quinhão por uma Igreja cada vez mais anunciadora
do Evangelho. E há jovens que questionam tudo, sem encontrar soluções e que não têm
nada a acrescentar ao enriquecimento da sociedade. É bom lembrar que existem jovens
na idade e velhos na mentalidade; velhos na idade e jovens na mentalidade. Na
verdade, podemos debitar isto a jovens e velhos que, em busca de valores temporais,
estão deixando de lado os valores eternos. A sociedade precisa ser revista, analisada
novamente e refeita. O amor não tem idade. Pode florescer e crescer no coração
de crianças, de jovens, de adultos, de idosos. Afinal, somos todos Igreja e o respeito
ao idoso deve ser uma demonstração de maturidade e de respeito em favor de um reconhecimento
da colaboração que os idosos oferecem e podem oferecer a Igreja e ao mundo.
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Eurico dos Santos Veloso. Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)