2010-07-28 12:00:35

Luzes e sombras nos 40 anos do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar. Dulce Araújo, de Acra


Um quadro bastante sombrio, embora com algumas luzes ao fundo do túnel foi ontem traçado pelo arcebispo emérito de Kumasi, Gana, Dom Peter Sarpong, a quem foi confiada a tarefa de fazer uma análise critica do Simpósio nos seus 40 anos de vida e no momento em que procura vias para a sua autonomia económica e não só, tema aliás desta decima quinta assembleia que está a decorrer em Acra.

Ouçamos Dulce Araújo que está a acompanhar o evento … RealAudioMP3

O SECAM está num círculo vicioso. Não consegue ajudar as dioceses africanas a resolver os seus problemas porque elas não o ajudam a desempenhar o seu papel. No entanto, ao longo dos seus 40 anos de vida o SECAM tem feito muito. No amplo balanço que fez ontem, Dom Sarpong indicou nada menos de 27 pontos positivos, entre os quais a produção de estudos sobre diversos aspectos cruciais para a Igreja em África; o apoio a diversas conferencias episcopais em países que tiveram ou têm situações difíceis como Moçambique, Ruanda, Burundi, Sudão; o de ter sido um elo de ligação entre diversas dioceses; de ter criado o sentido da existência duma Igreja em África, de ter encorajado as dioceses a serem vozes dos sem voz junto de instituições e governos, especialmente nos momentos mais difíceis; o de se ter ocupado de questões como a sida; de ter contribuído para a criação de diversos institutos em África, etc. Enfim diversas iniciativas levadas a cabo pelos seus dois principais departamentos de acção: difusão da fé e Justiça, Paz e Desenvolvimento.
Mas a energia, o entusiasmo, a vontade de falar com uma só voz e de criar uma estrutura capaz de levar a visão da África a toda a Igreja universal que estiveram na origem do SECAM parecem ter esmorecido. O não pagamento das quotas por parte das dioceses; a falta de pessoal adequado, a apatia e mesmo indiferença de muitos bispos que consideram o SECAM um pouco redundante, interessando-se, assim, mais por organizações regionais; o pouco poder de decisão do seu Presidente; a falta de unidade dos bispos na actuação das decisões tomadas... tudo tem contribuído para a fraca eficiência e eficácia desta organização pan-africana da Igreja que necessita hoje de ser reposta nos carris para poder continuar a caminhar. Caso contrario, corre o risco de morrer, ou de permanecer extremamente dependente de organismos externos de ajuda à Igreja como Miserior, Missio e outros que, aliás, estão representados nesta Assembleia. Contudo D. Sarpong mostrou-se optimista, à condição de que algumas medidas urgentes sejam tomadas no sentido de tornar o SECAM autónomo não só do ponto de vista económico como também no domínio da fraternidade, da solidariedade e da comunhão entre todos os bispos, razão pela qual, aliás, adoptaram o nome de simpósio (evocação do banquete eucarístico) e não associação, conferência ou organização, no momento da sua criação em 1969. De salientar, aliás, que as comemorações dos 40 anos de fundação deveriam ter sido o ano passado, antes do Sínodo para a África, mas não foram feitas por falta de fundos. Tornar o SECAM autónomo requer espírito de sacrifício, de abnegação, frisou D. Sarpong na sua análise. Algo que já tinha sido sublinhado também pelo actual Presidente do SECAM, o cardeal Policarpo Pengo na homilia da missa de abertura desta 15ª Assembleia, numa espécie de autocrítica de toda a Igreja em África, como, aliás, acontecera também no II Sínodo dos Bispos para a África em Outubro passado no Vaticano.
Para além do pagamento das quotas, esta autonomia passa também por iniciativas inováveis capazes de gerar fundos para a Igreja ao mesmo tempo que servem de meios de difusão da fé e da ética cristã.
E para ajudar os bispos a reforçar esta óptica de autonomia uma sessão teórica e pratica sobre o contexto, os princípios e estratégias neste sentido foi conduzida pela CORAT África, Organização cristã de investigação e aconselhamento à Igreja. As discussões em grupo sobre este tema continuam nesta quarta-feira com partilha geral das ideias na plenária.
De Acra para a Rádio Vaticano, Dulce Araújo.








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