Luzes e sombras nos 40 anos do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar.
Dulce Araújo, de Acra
Um quadro bastante sombrio, embora com algumas luzes ao fundo do túnel foi ontem traçado
pelo arcebispo emérito de Kumasi, Gana, Dom Peter Sarpong, a quem foi confiada a
tarefa de fazer uma análise critica do Simpósio nos seus 40 anos de vida e no momento
em que procura vias para a sua autonomia económica e não só, tema aliás desta decima
quinta assembleia que está a decorrer em Acra.
Ouçamos Dulce Araújo que está
a acompanhar o evento …
O SECAM está
num círculo vicioso. Não consegue ajudar as dioceses africanas a resolver os seus
problemas porque elas não o ajudam a desempenhar o seu papel. No entanto, ao longo
dos seus 40 anos de vida o SECAM tem feito muito. No amplo balanço que fez ontem,
Dom Sarpong indicou nada menos de 27 pontos positivos, entre os quais a produção de
estudos sobre diversos aspectos cruciais para a Igreja em África; o apoio a diversas
conferencias episcopais em países que tiveram ou têm situações difíceis como Moçambique,
Ruanda, Burundi, Sudão; o de ter sido um elo de ligação entre diversas dioceses; de
ter criado o sentido da existência duma Igreja em África, de ter encorajado as dioceses
a serem vozes dos sem voz junto de instituições e governos, especialmente nos momentos
mais difíceis; o de se ter ocupado de questões como a sida; de ter contribuído para
a criação de diversos institutos em África, etc. Enfim diversas iniciativas levadas
a cabo pelos seus dois principais departamentos de acção: difusão da fé e Justiça,
Paz e Desenvolvimento. Mas a energia, o entusiasmo, a vontade de falar com uma
só voz e de criar uma estrutura capaz de levar a visão da África a toda a Igreja universal
que estiveram na origem do SECAM parecem ter esmorecido. O não pagamento das quotas
por parte das dioceses; a falta de pessoal adequado, a apatia e mesmo indiferença
de muitos bispos que consideram o SECAM um pouco redundante, interessando-se, assim,
mais por organizações regionais; o pouco poder de decisão do seu Presidente; a falta
de unidade dos bispos na actuação das decisões tomadas... tudo tem contribuído para
a fraca eficiência e eficácia desta organização pan-africana da Igreja que necessita
hoje de ser reposta nos carris para poder continuar a caminhar. Caso contrario, corre
o risco de morrer, ou de permanecer extremamente dependente de organismos externos
de ajuda à Igreja como Miserior, Missio e outros que, aliás, estão representados nesta
Assembleia. Contudo D. Sarpong mostrou-se optimista, à condição de que algumas medidas
urgentes sejam tomadas no sentido de tornar o SECAM autónomo não só do ponto de vista
económico como também no domínio da fraternidade, da solidariedade e da comunhão entre
todos os bispos, razão pela qual, aliás, adoptaram o nome de simpósio (evocação do
banquete eucarístico) e não associação, conferência ou organização, no momento da
sua criação em 1969. De salientar, aliás, que as comemorações dos 40 anos de fundação
deveriam ter sido o ano passado, antes do Sínodo para a África, mas não foram feitas
por falta de fundos. Tornar o SECAM autónomo requer espírito de sacrifício, de abnegação,
frisou D. Sarpong na sua análise. Algo que já tinha sido sublinhado também pelo actual
Presidente do SECAM, o cardeal Policarpo Pengo na homilia da missa de abertura desta
15ª Assembleia, numa espécie de autocrítica de toda a Igreja em África, como, aliás,
acontecera também no II Sínodo dos Bispos para a África em Outubro passado no Vaticano.
Para além do pagamento das quotas, esta autonomia passa também por iniciativas
inováveis capazes de gerar fundos para a Igreja ao mesmo tempo que servem de meios
de difusão da fé e da ética cristã. E para ajudar os bispos a reforçar esta óptica
de autonomia uma sessão teórica e pratica sobre o contexto, os princípios e estratégias
neste sentido foi conduzida pela CORAT África, Organização cristã de investigação
e aconselhamento à Igreja. As discussões em grupo sobre este tema continuam nesta
quarta-feira com partilha geral das ideias na plenária. De Acra para a Rádio Vaticano,
Dulce Araújo.