2010-07-28 12:02:00

LUZES E SOMBRAS NA VIDA DA IGREJA AFRICANA


Acra, 28 jul (RV) – Foi inaugurada ontem na capital de Gana, Acra, a XV Assembleia Plenária do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), que está comemorando seus 40 anos de atividades.



A agenda dos trabalhos inclui em especial um workshop para os bispos sobre o tema central da plenária, autonomia e perspectiva para a Igreja na África, e uma mesa-redonda em que, para além da comemoração dos 40 anos do organismo, se renovará o empenho comum em relação aos ideais do SECAM.



Por sua vez, as Conferências Episcopais regionais apresentarão as suas apreciações sobre o II Sínodo para a África, de 2009, e as iniciativas pós-sinodais empreendidas. Entre outros pontos do programa, terá lugar uma conferência sobre "Linguagem e filosofia dos discursos da ONU", por Marguerite Peeters, diretora do Instituto para a dinâmica do diálogo intercultural, de Bruxelas.



O encontro conclui-se no domingo, 1º de agosto, com uma solene liturgia eucarística de ação de graças, na catedral de Acra, pela já longa e frutuosa atividade deste Simpósio dos Bispos Africanos, lançado oficialmente em julho de 1969, em Campala, por ocasião da primeira visita de um Papa - Paulo VI - a terras africanas.



Ontem, ao Arcebispo Emérito de Kumasi, Gana, Dom Peter Sarpong, foi confiada a tarefa de fazer uma análise crítica do Simpósio nos seus 40 anos de vida e no momento em que procura vias para a sua autonomia econômica. Ele traçou um quadro bastante sombrio, embora com algumas luzes no final do túnel. Ouça Dulce Araújo, que está acompanhando o evento… RealAudioMP3



"O SECAM está num círculo vicioso. Não consegue ajudar as dioceses africanas a resolver os seus problemas porque elas não o ajudam a desempenhar o seu papel. No entanto, ao longo dos seus 40 anos de vida o SECAM tem feito muito. No amplo balanço que fez ontem, Dom Sarpong indicou nada menos de 27 pontos positivos, entre os quais a produção de estudos sobre diversos aspectos cruciais para a Igreja em África; o apoio a diversas conferencias episcopais em países que tiveram ou têm situações difíceis como Moçambique, Ruanda, Burundi, Sudão; o de ter sido um elo de ligação entre diversas dioceses; de ter criado o sentido da existência duma Igreja em África, de ter encorajado as dioceses a serem vozes dos sem voz junto de instituições e governos, especialmente nos momentos mais difíceis; o de se ter ocupado de questões como a sida; de ter contribuído para a criação de diversos institutos em África, etc. Enfim diversas iniciativas levadas a cabo pelos seus dois principais departamentos de acção: difusão da fé e Justiça, Paz e Desenvolvimento.

Mas a energia, o entusiasmo, a vontade de falar com uma só voz e de criar uma estrutura capaz de levar a visão da África a toda a Igreja universal que estiveram na origem do SECAM parecem ter esmorecido. O não pagamento das quotas por parte das dioceses; a falta de pessoal adequado, a apatia e mesmo indiferença de muitos bispos que consideram o SECAM um pouco redundante, interessando-se, assim, mais por organizações regionais; o pouco poder de decisão do seu Presidente; a falta de unidade dos bispos na actuação das decisões tomadas... tudo tem contribuído para a fraca eficiência e eficácia desta organização pan-africana da Igreja que necessita hoje de ser reposta nos carris para poder continuar a caminhar. Caso contrario, corre o risco de morrer, ou de permanecer extremamente dependente de organismos externos de ajuda à Igreja como Miserior, Missio e outros que, aliás, estão representados nesta Assembleia. Contudo D. Sarpong mostrou-se optimista, à condição de que algumas medidas urgentes sejam tomadas no sentido de tornar o SECAM autónomo não só do ponto de vista económico como também no domínio da fraternidade, da solidariedade e da comunhão entre todos os bispos, razão pela qual, aliás, adoptaram o nome de simpósio (evocação do banquete eucarístico) e não associação, conferência ou organização, no momento da sua criação em 1969. De salientar, aliás, que as comemorações dos 40 anos de fundação deveriam ter sido o ano passado, antes do Sínodo para a África, mas não foram feitas por falta de fundos. Tornar o SECAM autónomo requer espírito de sacrifício, de abnegação, frisou D. Sarpong na sua análise. Algo que já tinha sido sublinhado também pelo actual Presidente do SECAM, o cardeal Policarpo Pengo na homilia da missa de abertura desta 15ª Assembleia, numa espécie de autocrítica de toda a Igreja em África, como, aliás, acontecera também no II Sínodo dos Bispos para a África em Outubro passado no Vaticano.

Para além do pagamento das quotas, esta autonomia passa também por iniciativas inováveis capazes de gerar fundos para a Igreja ao mesmo tempo que servem de meios de difusão da fé e da ética cristã.

E para ajudar os bispos a reforçar esta óptica de autonomia uma sessão teórica e pratica sobre o contexto, os princípios e estratégias neste sentido foi conduzida pela CORAT África, Organização cristã de investigação e aconselhamento à Igreja. As discussões em grupo sobre este tema continuam nesta quarta-feira com partilha geral das ideias na plenária.

De Acra para a Rádio Vaticano, Dulce Araújo."
(BF)







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