CHÁVEZ PÕE IGREJA CATÓLICA NA MIRA APÓS CRÍTICAS A SEU GOVERNO
Caracas, 16 jul (RV) - A Igreja Católica virou alvo de fortes ataques do presidente
venezuelano, Hugo Chávez, que pediu para revisar os privilégios do Vaticano no país,
tachando de "retrógrada" uma parte da entidade eclesiástica, depois que um cardeal
criticou o rumo de seu Governo.
Na quarta-feira, Chávez instou seu ministro
das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, a estudar o acordo entre a Venezuela, país
de maioria católica, e a Santa Sé, para assegurar que a Igreja de Roma não tenha "privilégios"
com relação a outras Igrejas, o que violaria a Constituição, segundo o presidente.
"Vamos
estudar qual é o acordo" assinado há décadas – anunciou Chávez, pedindo para verificar
se este acordo "dá à Igreja Católica um privilégio sobre outras Igrejas" porque "a
Venezuela é um Estado secular".
A queda-de-braço verbal entre a Igreja
e o chefe de Estado intensificou-se em virtude das recentes declarações do cardeal-arcebispo
de Caracas, Jorge Liberato Urosa Savino, para quem o presidente "passa por cima da
Constituição" e quer levar o país "pelo caminho do socialismo marxista, que é totalitário
e conduz a uma ditadura".
Suas afirmações fizeram com que Chávez o qualificasse
de "troglodita" e pró-golpista e o desafiasse a demonstrar, perante um tribunal, que
seu Governo viola a Carta Magna.
Num comunicado, a Conferência Episcopal
venezuelana mostrou interesse em "virar a página" e "deixar de lado a atitude de confronto",
ao mesmo tempo em que pediu ao Governo "um entendimento apesar das diferenças de ideias".
Chávez,
que se diz católico convicto e considera Jesus Cristo o "primeiro socialista" da história,
defende uma Igreja encarnada no povo.
As declarações do presidente contra
a Igreja Católica na Venezuela provocaram uma reação em cadeia e muitos ministros,
deputados e representantes de outras instituições públicas saíram em defesa do chefe
de Estado.
Para o arcebispo de Mérida, Dom Baltazar Porras Cardoso, a Igreja
Católica na Venezuela sofre uma campanha de "descrédito". "Não se pode aceitar uma
política de extermínio, de levar todo mundo para frente numa espécie de enxurrada,
da qual não restarão senão ruínas, para, a partir daí, edificar o projeto político
que se quer, com base na miséria e na incapacidade dos que restarem vivos" – lamentou
o arcebispo. (AF)