(12/7/2010) Diversas presenças e acontecimentos se cruzam, deixando traços que ficarão
para a história do país: presença de bispos lusófonos; de delegações do Governo de
Cabo Verde; festa dos 35 anos da independência do país; campanha eleitoral. Mais pormenores
com a enviada da Rádio Vaticano, Dulce Araújo …
A ilha
do Príncipe acordou sábado 10 às 6 da manhã com apitos de carros e vuvuzelas. Não
é o mundial de futebol. É o início da campanha eleitoral, que tem pelo meio os 35
anos de independência, este ano comemorados na ilha. Para este efeito chega segunda-feira
12 à ilha o Presidente da Republica, Fradique de Menezes. Foi precedido já no domingo
pelo Primeiro-Ministro, Joaquim Rafael Branco, acolhido em festa no aeroporto pelos
simpatizantes do seu partido: o MLSTP, um dos 14 partidos concorrentes a estas eleições
autárquicas, regionais e legislativas . Festa calorosa também, mas de índole diferente,
foi a que os fiéis, o pároco e as irmãs reservaram aos bispos que lá chegaram sexta-feira
para uma visita. As batucadeiras de Santiago de Cabo Verde, nesta ilha habitada maioritariamente
por cabo-verdianos, pediram logo no aeroporto através cântico e a dança da Tchabeta
uma bênção dos bispos para que venha a chuva. Não para Cabo Verde, cuja seca as obrigou
a vir para São Tomé e Príncipe mas para estas duas ilhas verdejantes, onde excepcionalmente
não chove há meses. Todos estão confiantes de que a presença, pela primeira vez no
Príncipe, de 4 bispos, irá trazer a chuva. Trata-se dos dois bispos da Guiné-Bissau,
o de Cabo Verde e o do São Tomé que, terminado o encontro dos bispos lusófonos, foram
dois dias a Príncipe visitar a comunidade lá. A realidade não difere muito de São
Tomé: vida difícil nas roças, e um pouquinho mais aliviada na cidade capital de que
Santo António é o padroeiro. Mas há um agravante, a falta de transportes aéreos, marítimos,
terrestres, faltando assim mercadorias, gasóleo, etc. A tudo isto se acrescenta a
típica desestruturação familiar do país, o alcoolismo difuso, o desemprego, a sensação
de se estar num beco sem saída. O momento alto da presença histórica dos 4 bispos
na Ilha foi a missa campal no sábado em que D. Manuel dos Santos crismou uns trinta
jovens. Na homilia insistiu no significado profundo deste sacramento que nada tem
a ver com a magia ou com soluções para tudo; na responsabilidade que todos têm na
sociedade, elemento indispensável para o desenvolvimento e, mais uma vez, condenou
a compra dos votos, e apelou à harmonia durante a campanha eleitoral. Enfim, uma forma
de recordar que a pobreza não é uma condenação, mas que é preciso pôr a mão seriamente
para que Deus ajude; uma forma de combater a resignação e a falta de esperança que
se nota em muitos especialmente no mundo rural, pois tanto em São Tomé como em Príncipe
existem dois mundos distintos: a extensa área rural feita de roças paupérrimas e o
mundo urbano com algum sinal de dinamismo. A Igreja, com os seus serviços sociais
e de evangelização, constitui uma indispensável força impulsionadora, mas sabe que
sozinha pode fazer pouco. É preciso diálogo constante com as autoridades para que
cumpram os seus deveres em prol do bem-estar do povo. E foi esta a tónica das conclusões
finais do IX encontro dos bispos lusófonos que teve lugar na cidade de São Tomé de
2 a 9 deste mês. O acto final do encontro foi a missa concelebrada pelos 10 bispos
presentes, na Sé Catedral da Cidade. E para quem gosta de símbolos, a cor verde das
casulas enfeitadas de tecido africano, oferecidas na véspera pelo pároco da catedral
aos bispos, dava um tom geral de esperança, consubstanciada também na grande alegria
do coro e a plena participação das pessoas. A dar um pouco mais de esperança a
delegação de Cabo Verde, chefiada pelo Ministro das Comunidades emigradas, Sidónio
Monteiro. Tal como os bispos, percorreu roças, em São Tomé e no Príncipe, visitou
anciãos, falou com as autoridades e contactou os chefes associativos, a quem entregou,
no Príncipe, as chaves duma viatura para uso comunitário. É o rosto da atenção que
o governo de Cabo Verde vem dando a esta comunidade e da cooperação entre aquele arquipélago
e São Tomé e Príncipe para melhorar a vida dos cabo-verdianos e de todo o povo de
São Tomé.