São Tomé, 08 jul (RV) - Concluem-se nesta quinta-feira, em São Tomé, os trabalhos
do IX encontro dos bispos lusófonos. Visitas a comunidades e reflexões sobre o tema
do combate à pobreza e à exclusão social foram os marcos deste encontro, que teve
lugar num dos países mais empobrecidos da África. Para melhor compreender a situação,
os bispos convidaram o Primeiro-Ministro Rafael Branco, o qual deixou claro que há
que procurar novas vias econômicas para o país.
Ouça e leia o boletim da enviada
da Rádio Vaticano, Dulce Araújo: Falar de São Tomé
é falar da pobreza. Pobreza que afecta a África toda, e não só. Mas em São Tomé parece
assumir um rosto particular. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, em todas as comunidades
visitadas pelos bispos, que atravessaram mesmo o mar, indo até ao ilhéu das Rolas
no extremo Sul do país, a imagem que fica é a de pessoas empantanadas na miséria sem
saber como sair dela. E, de facto, não é fácil encontrar o caminho – admitiu o Primeiro
Ministro, Joaquim Rafael Branco, no encontro que teve ontem com os bispos. Como causa
desta situação indicou factores históricos ligados a monoculturas de exportação com
mão de obra esclavagista; falhas na gestão pós independência; a fragilidade do Estado;
a dependência económica do exterior; a corrupção; a mentalidade assistencialista,
e por aí fora. O certo é que o país não pode continuar a depender só da agricultura
e ainda menos do cacau. Há que apostar no turismo de qualidade, em serviços, no escoamento
de produtos para os mercados de países vizinhos como a Nigéria, que ultrapassam de
longe os 160 mil habitantes de São Tomé. E perante a tendência a afirmar que os que
mais sofrem desta situação são os originários de Cabo Verde, trazidos para trabalhar
nas roças, Rafael Branco recorda que todos no país são vítimas da pobreza: também
os angolares, pescadores, oriundos de Angola, e mesmo os forros, considerados originários
da terra. Seja como for, não obstante a pobreza, ajudadas pelos seus párocos,
e religiosas … as comunidades souberam, de forma geral, mobilizar-se para receber
os bispos com dignidade e liturgias bastante animadas. Mas os bispos voltam todos
com uma interrogação: como ajudar o país a sair desta situação? Como combater a pobreza
e a exclusão social de forma geral? Das análises feitas emerge a necessidade duma
estratégia renovada que saiba aliar intervenção social e evangelização por forma a
criar um homem novo capaz de ser, no caso concreto de São Tomé, protagonista da sua
própria história. Fica para já a denúncia da apropriação indevida do bem comum
por parte de grupos políticos e económicos; da corrupção; da comercialização da droga;
do tráfico de pessoas; da debilidade da sociedade civil. E aponta-se como possíveis
acções, o reforço das iniciativas da Igreja, a formação ética e técnica das pessoas
com vista na transformação das estruturas e das mentes. Alguns bispos partem
já hoje, outros amanhã, enquanto um pequeno grupo, segue para a ilha do Príncipe,
fulcro, aliás das festividades dos 35 anos de independência do país, no próximo dia
12. Na capital santomense terá iniciado, entretanto, a campanha para as eleições
autárquicas, regionais e legislativas a ter lugar de 25 deste mês a 2 de Agosto.