Concluído o IX Encontro de Bispos lusófonos que teve lugar em São Tomé. A crónica
de Dulce Araújo
Na conclusão
do IX Encontro de Bispos Lusófonos que decorreu em São Tomé e Príncipe, o respectivo
Secretariado divulgou, em comunicado final, a seguinte Nota de imprensa: “Os
representantes das Conferências Episcopais das Igrejas Lusófonas, reunidos em S. Tomé
e Príncipe, desde o dia 2 de Julho, para se debruçarem sobre o tema da “pobreza e
exclusão social nos países que representam”, após uma aprofundada partilha das realidades
sócio -económicas de cada um dos seus produziram algumas reflexões que documentam
bem a severidade de muitas das situações sociais e económicas que se vivem nesses
países. Assim: 1. Foi por todos denunciada a apropriação indevida dos bens, que
deviam ser de todos, e estão a ser cada vez mais usurpados por oligarquias de poder
politico e económico que, sem qualquer escrúpulo, enriquecem à custa dos pobres. Esta
realidade verifica-se, por exemplo, na gestão das terras, da água, das madeiras e
de a outros bens essenciais que, muitas vezes, sofrem aumentos insustentáveis de
preço na sua venda ao público, comprometendo o acesso das famílias mais pobres a tais
bens, nalguns casos, politicas de educação e qualificações profissionais dos cidadãos
com menos capacidade financeira; 2. Também a corrupção mereceu uma reflexão social
e ética por parte de todos os líderes religiosos reunidos neste IX Encontro, que foram
dando conta de novas e sofisticadas formas de corrupção que, para além de uma condenação
ética, contaram também com um grito de lamento pelas gravíssimas consequências que
tal prática acarreta na desorganização, muitas vezes, ao nível das próprias administrações
públicas das quais seria legítimo esperar a defesa dos cidadãos; 3. Igual condenação
social mereceram a comercialização da droga, o tráfico de pessoas, o desrespeito pela
Vida; 4. Geradoras de pobreza exclusão social foram também apontadas as debilidades
cada vez maiores das instituições da chamada sociedade civil, por falta de preparação
técnica e consciencialização cívica na defesa dos seus legítimos direitos.”
Foram
assim apontadas as seguintes propostas de actuação:
“Tendo presentes
documentos e propostas recentemente analisados, tanto no Sínodo, em Roma, como nas
conclusões pós-sinodais, recentemente analisadas em Moçambique, para além de um conjunto
e reflexões e propostas que as Cáritas Lusófonas, reunidas na Guiné-Bissau, de 26
de Abril a 2 de Maio, na Guiné-Bissau, fizeram chegar a este IX ENCONTRO, para além
das reflexões que foram sendo feitas nestes dias entre os participantes, os Bispos
declararam: 1. Ser prioritário, sem abandonar o que se tem vindo a fazer, investir
mais na “alteração das estruturas” (através da preparação técnica e ética de novos
quadros) do que a “gestão das conjunturas” (ao nível do simples assistencialismo); 2. Ser
urgente reforçar a adopção de iniciativas próprias das Igrejas e/ou aderir a iniciativas
já tomadas por outros, no sentido de um ensino que ajude a transformar mentalidades
e a adquirir capacitações para que pessoas e comunidades deixem de ser simples “destinatários”
de políticas sociais e subsidiações estatais para ser irem assumindo como “sujeitos”
dos seus próprios destinos, promovendo uma nova geração de políticas sociais ancoradas
na ECONOMIA SOLIDARIA e na valorização do COOPERATIVISMO, como forma de auto-emprego; 3. Promover
uma monitorização das políticas orçamentais que os vários governos traçam para os
seus países, através da formação de técnicos devidamente preparados, que possam colaborar
com as Administrações Públicas de cada país e com Organizações Internacionais financiadoras,
de forma a garantir que as verbas orçamentadas para o desenvolvimento social sejam
efectivamente utilizadas para os fins a que se destinam; 4. Alicerçar cada vez
mais a intervenção social dos cristãos e das comunidades cristãs na doutrina social
da Igreja, que, através do compromisso cristão, possam ir contribuindo para a criação
de “homens novos” e “novas relações entre a Igreja e o Poder Político”, ajudando a
reabilitar a política, num quadro de diálogo de institucional com as legítimas Autoridades,
no respeito pela esfera das respectivas legitimidades e poderes, mas sem renunciar,
se vier a ser caso disso, à denúncia de todo e qualquer atentado contra Bem Comum
e os direitos essenciais dos cidadãos; 5. Aprofundar a consciência sobre a identidade
da verdadeira matriz da Evangelização, a saber: “anúncio, testemunho de vida e comunhão,
diálogo e colaboração com outros, serviço”, certos de que esta proposta cristã de
intervenção social, anunciada e testemunhada por pessoas comprometidas com a sua FÈ,
acabará por fazer acontecer a utopia/profecia de “homens novos” construtores de um
MUNDO NOVO."
S. Tomé e Príncipe, 7 de Julho de 2010 O Secretariado do
IX ENCONTRO
Em ordem à organização dos próximos encontros, foram indicados
os seguintes critérios orientadores:
1. Os temas dos Encontros e
a metodologia a seguir no seu desenvolvimento devem ser propostos pela Igreja anfitriã
que, em articulação com a FEC, os fará chegar ao conhecimento de TODOS, de modo a
ser possível obter um consenso maioritário sobre os TEMAS a tratar, com a devida antecedência,
de forma a que cada Conferência possa partilhar as temáticas com os Bispos que as
integram, podendo assim trazer para os ENCONTROS a “sentir comum” de cada Igreja Lusófona
relativamente aos temas escolhidos; 2. Recomenda-se uma melhor gestão do tempo
(que, em princípio, não deverá exceder 3 dias úteis de trabalhos sobre a ORDEM DE
TRABALHOS fixada antecipadamente por quem vier a ser o Anfitrião dos Encontros). Caberá
também a cada Igreja anfitriã, para além dos dias e horas necessários para a abordagem/partilha
dos temas, organizar iniciativas complementares às reuniões de trabalho, como forma
de propiciar aos participantes as “realidades eclesiais e sociais” do seu país; 3. A
Conferência Episcopal a quem couber a preparação do ENCONTRO contará com a FUNDAÇÃO
EVANGELIZAÇÃO E CULTURAS (FEC) para secretariar e dar apoio logístico no antes, no
durante e no depois do ENCONTRO; 4. Reitera-se a importância destes ENCONTROS como
espaços de PARTILHA E COMUNHÃO ECLESIAL e como OPORTUNIDADE para estudar formas de
mútua ajuda entre as várias Igrejas. 5. Ratifica-se também a deliberação tomada
no VII ENCONTRO (Em Fátima) no sentido da sua realização de 2 em 2 anos; 6. Adopta-se
também o princípio da rotatividade na escolha dos países onde decorrerá o ENCONTRO,
tendo como referencial na sua escolha, em princípio, o critério da ordem alfabética
dos países.