2010-07-05 12:13:48

"O cristão tem boa memória, gosta da história e procura conhecê-la": Bento XVI aos jovens de Sulmona, no encontro conclusivo da sua visita, nos 800 anos do nascimento do papa Celestino V


Com o regresso a Roma, ao fim da tarde de domingo, concluiu-se a visita que o Santo Padre realizou à cidade italiana de Sulmona, na zona montanhosa da Itália central, na região dos Abruzos. Uma viagem realizada por ocasião dos oitocentos anos do nascimento do Papa Pedro Celestino V, natural desta localidade. Referimos ontem amplamente a homilia que Bento VI pronunciou na missa celebrada na Praça central da cidade. Como então referimos, a visita concluiu-se, a meio da tarde, com um encontro do Papa com os jovens, na catedral. Um momento festivo, que registou um acolhimento caloroso da parte da juventude local.


O Papa começou por se apresentar “como um pai de família” que tem a alegria de se encontrar com “jovens que reflectem, se interrogam, e que têm o sentido da verdade e do bem”. O que – observou – é já muito, pois “coisa principal neste mundo” é “aprender a usar bem a inteligência e a sapiência que Deus nos deu”.


Referindo-se às palavras que lhe tinham dirigido, em nome da assembleia, dois jovens de Sulmona, o Papa congratulou-se com o facto de estes terem evocado algumas expressões por si usadas em 2008, nas Jornadas da Juventude de Sydney. “Vejo que tendes boa memória!” – comentou Bento XVI, em tom jocoso, observando como é importante ter “memória histórica”:


“Sem memória não há futuro. Dantes dizia-se que a história é mestra de vida! A cultura consumista actual tende, pelo contrário, a reduzir o homem ao presente, a levá-lo a perder o sentido do passado, da história; deste modo priva-o também da capacidade de se compreender a si mesmo, de advertir os problemas e de construir o amanhã. Portanto, caros jovens, quero dizer-vos, o cristão é uma pessoa com boa memória, alguém que gosta da história e procura conhecê-la”.


Aludindo a São Pedro del Morrone, papa Celestino V, Bento XVI sublinhou que nele se podem descobrir aspectos ainda agora válidos. Antes de mais, “a capacidade de escutar Deus no silêncio exterior e sobretudo interior”. Só assim se poderá descobrir a vontade de Deus. “O segredo da vocação – assegurou o Papa – está na capacidade e na alegria de distinguir, escutar e seguir a sua voz”. Para o que é indispensável “habituar o nosso coração a reconhecer o Senhor, a senti-lo como uma Pessoa próxima, que me ama”.


“Podeis ter a certeza de que se uma pessoa aprende a escutar esta voz e a segui-la com generosidade, não tem medo de nada, sabe e sente que Deus está consigo, que é Amigo, Pai e Irmão. Numa palavra: o segredo da vocação está na relação com Deus, na oração”.


Ainda a propósito da oração, Bento XVI sublinhou que “a verdadeira oração não se alheia de modo algum da realidade”.


“Se rezar vos alienasse, se vos afastasse da vossa vida real, tende cuidado: não é oração autêntica! Pelo contrário, o diálogo com Deus é garantia de verdade e de liberdade. Estar com Deus, escutar a sua Palavra, no Evangelho e na liturgia da igreja, defende dos desvios do orgulho e da presunção, das modas e dos conformismos, e dá a força de ser verdadeiramente livre”.


E aqui Bento XVI recordou de novo o exemplo do seu antecessor Celestino V: ele (disse) “soube agir de acordo com a sua consciência, em obediência a Deus, sem medo e com grande coragem, mesmo nos momentos difíceis… sem receio de perder a sua dignidade, mas sabendo que esta consiste em estar na verdade. E quem garante a verdade é Deus. Quem O segue não tem medo de renunciar a si mesmo, porque quem tem Deus, nada lhe falta, como dizia santa Teresa de Ávila.


“A fé e a oração não resolvem os problemas, mas permitem enfrentá-los com uma nova luz e força, de modo digno do homem, e também no modo mais sereno e eficaz.
Se olharmos para a história da Igreja veremos que é rica de figuras de Santos e Bem-aventurados que, partindo de um intenso e constante diálogo com Deus, iluminados pela fé, souberam encontrar soluções criativas, sempre novas, para responder a necessidades humanas concretas: saúde, instrução, trabalho, etc”:


Em todo o caso, observou o Papa, quase a concluir as palavras dirigidas aos jovens de Sulmona, o cristão nunca é individualista. Fugir às responsabilidades pode ser uma tentação, mas “nas experiências aprovadas pela Igreja, a vida solitária de oração e penitência está sempre ao serviço da comunidade, nunca em contraposição com ela”.


“Os eremitérios e os mosteiros são oásis e mananciais de vida espiritual de que todos podem beneficiar. O monge não vive para sim, mas sim para os outros, e é para o bem da Igreja e da sociedade que cultiva a vida contemplativa, porque a Igreja e a sociedade podem ser sempre irrigadas por energias novas, pela acção do Senhor”.








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