"O cristão tem boa memória, gosta da história e procura conhecê-la": Bento XVI aos
jovens de Sulmona, no encontro conclusivo da sua visita, nos 800 anos do nascimento
do papa Celestino V
Com o regresso a Roma, ao fim da tarde de domingo, concluiu-se a visita que o Santo
Padre realizou à cidade italiana de Sulmona, na zona montanhosa da Itália central,
na região dos Abruzos. Uma viagem realizada por ocasião dos oitocentos anos do nascimento
do Papa Pedro Celestino V, natural desta localidade. Referimos ontem amplamente a
homilia que Bento VI pronunciou na missa celebrada na Praça central da cidade. Como
então referimos, a visita concluiu-se, a meio da tarde, com um encontro do Papa com
os jovens, na catedral. Um momento festivo, que registou um acolhimento caloroso da
parte da juventude local.
O Papa começou por se apresentar “como um pai
de família” que tem a alegria de se encontrar com “jovens que reflectem, se interrogam,
e que têm o sentido da verdade e do bem”. O que – observou – é já muito, pois “coisa
principal neste mundo” é “aprender a usar bem a inteligência e a sapiência que Deus
nos deu”.
Referindo-se às palavras que lhe tinham dirigido, em nome da
assembleia, dois jovens de Sulmona, o Papa congratulou-se com o facto de estes terem
evocado algumas expressões por si usadas em 2008, nas Jornadas da Juventude de Sydney.
“Vejo que tendes boa memória!” – comentou Bento XVI, em tom jocoso, observando como
é importante ter “memória histórica”:
“Sem memória não há futuro. Dantes
dizia-se que a história é mestra de vida! A cultura consumista actual tende, pelo
contrário, a reduzir o homem ao presente, a levá-lo a perder o sentido do passado,
da história; deste modo priva-o também da capacidade de se compreender a si mesmo,
de advertir os problemas e de construir o amanhã. Portanto, caros jovens, quero dizer-vos,
o cristão é uma pessoa com boa memória, alguém que gosta da história e procura conhecê-la”.
Aludindo a São Pedro del Morrone, papa Celestino V, Bento XVI sublinhou
que nele se podem descobrir aspectos ainda agora válidos. Antes de mais, “a capacidade
de escutar Deus no silêncio exterior e sobretudo interior”. Só assim se poderá descobrir
a vontade de Deus. “O segredo da vocação – assegurou o Papa – está na capacidade e
na alegria de distinguir, escutar e seguir a sua voz”. Para o que é indispensável
“habituar o nosso coração a reconhecer o Senhor, a senti-lo como uma Pessoa próxima,
que me ama”.
“Podeis ter a certeza de que se uma pessoa aprende a escutar
esta voz e a segui-la com generosidade, não tem medo de nada, sabe e sente que Deus
está consigo, que é Amigo, Pai e Irmão. Numa palavra: o segredo da vocação está na
relação com Deus, na oração”.
Ainda a propósito da oração, Bento XVI
sublinhou que “a verdadeira oração não se alheia de modo algum da realidade”.
“Se
rezar vos alienasse, se vos afastasse da vossa vida real, tende cuidado: não é oração
autêntica! Pelo contrário, o diálogo com Deus é garantia de verdade e de liberdade.
Estar com Deus, escutar a sua Palavra, no Evangelho e na liturgia da igreja, defende
dos desvios do orgulho e da presunção, das modas e dos conformismos, e dá a força
de ser verdadeiramente livre”.
E aqui Bento XVI recordou de novo o exemplo
do seu antecessor Celestino V: ele (disse) “soube agir de acordo com a sua consciência,
em obediência a Deus, sem medo e com grande coragem, mesmo nos momentos difíceis…
sem receio de perder a sua dignidade, mas sabendo que esta consiste em estar na verdade.
E quem garante a verdade é Deus. Quem O segue não tem medo de renunciar a si mesmo,
porque quem tem Deus, nada lhe falta, como dizia santa Teresa de Ávila.
“A
fé e a oração não resolvem os problemas, mas permitem enfrentá-los com uma nova luz
e força, de modo digno do homem, e também no modo mais sereno e eficaz. Se olharmos
para a história da Igreja veremos que é rica de figuras de Santos e Bem-aventurados
que, partindo de um intenso e constante diálogo com Deus, iluminados pela fé, souberam
encontrar soluções criativas, sempre novas, para responder a necessidades humanas
concretas: saúde, instrução, trabalho, etc”:
Em todo o caso, observou
o Papa, quase a concluir as palavras dirigidas aos jovens de Sulmona, o cristão nunca
é individualista. Fugir às responsabilidades pode ser uma tentação, mas “nas experiências
aprovadas pela Igreja, a vida solitária de oração e penitência está sempre ao serviço
da comunidade, nunca em contraposição com ela”.
“Os eremitérios e os mosteiros
são oásis e mananciais de vida espiritual de que todos podem beneficiar. O monge não
vive para sim, mas sim para os outros, e é para o bem da Igreja e da sociedade que
cultiva a vida contemplativa, porque a Igreja e a sociedade podem ser sempre irrigadas
por energias novas, pela acção do Senhor”.