Cidade do Vaticano, 04 jul (RV) - Bento XVI presidiu neste domingo a celebração
eucarística na Praça Garibaldi, em Sulmona, na Itália, por ocasião dos oitocentos
do nascimento do Papa Celestino V.
Segue na íntegra a homilia do Santo Padre
com a tradução livre de Mariangela Jaguraba.
Queridos irmãos e irmãs!
Estou
muito feliz de estar aqui hoje e celebrar com e para vocês esta solene Eucaristia.
Saúdo o Pastor, Dom Ângelo Spina: obrigado pelas calorosas boas-vindas a mim dirigidas
em nome de todos vocês, e pelos presentes que me foram oferecidos e que aprecio muito
na qualidade de "sinais" – como são definidos – da comunhão afetiva e efetiva que
une o povo desta querida Terra de Abruzzo ao Sucessor de Pedro. Saúdo os arcebispos
e os bispos aqui presentes, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os representantes
de associações e movimentos eclesiais. Uma saudação especial ao prefeito, Dr. Fabio
Federico, ao qual agradeço pela saudação de boas-vindas, ao representante do Governo
e às autoridades civis e militares. Um agradecimento especial às pessoas que generosamente
ofereceram a sua colaboração para realizar esta minha visita pastoral.
Queridos
irmãos e irmãs! Vim para partilhar com vocês as alegrias e esperanças, fadigas e compromissos,
ideais e aspirações desta comunidade diocesana. Sei muito bem que em Sulmona não faltam
dificuldades, problemas e preocupações: penso, sobretudo, nas pessoas que vivem concretamente
a sua existência em condições precárias, por causa da falta de trabalho, da incerteza
pelo futuro, do sofrimento físico e moral e como recordou o Bispo – do desânimo por
causa do terremoto de 6 de abril de 2009. A todos quero garantir a minha proximidade
e a minha recordação na oração, e encorajo a cada um de vocês a perseverar no testemunho
dos valores humanos e cristãos tão profundamente arraigados na fé e na história deste
território e de sua população.
Queridos amigos! A minha visita se realiza por
ocasião do Ano Jubilar proclamado pelos bispos de Abruzzo e Molise para celebrar os
oitocentos anos do nascimento de São Pedro Celestino. Sobrevoando o território, pude
contemplar a beleza das paisagens, e sobretudo, admirar algumas localidades extremamente
ligadas à vida desta insigne pessoa: o Monte Morrone, onde Pedro conduziu durante
muito tempo uma vida eremita; o mosteiro de Santo Onofre, onde em 1294, chegou a ele
a notícia de sua eleição a Sumo Pontífice, durante o Conclave de Perugia; a Abadia
do Santo Espírito, onde o altar maior foi por ele consagrado depois de sua coroação,
ocorrida na Basílica de Collegamaggio em L'Aquila. Nesta Basílica eu mesmo, em abril
do ano passado, depois do terremoto que devastou a região, fui venerar a urna com
seus restos mortais e deixar o pálio recebido no dia do início de meu pontificado.
Passaram-se oitocentos anos do nascimento de São Pedro Celestino V, mas ele
permanece na história pelos conhecidos acontecimentos de seu tempo e de seu pontificado
e, sobretudo pela sua santidade. A santidade, de fato, não perde nunca a sua força
atrativa, não cai no esquecimento, não sai da moda, aliás, com o passar do tempo,
resplandece sempre com mais luminosidade, expressando a perene busca do homem a Deus.
Da vida de São Pedro Celestino gostaria de citar alguns ensinamentos válidos também
para os nossos dias.
Pedro Angelerio desde a sua juventude "buscava Deus",
um homem que tinha o desejo de encontrar respostas às perguntas de sentido da existência:
quem sou, de onde vim, para onde vou, porque vivo? Ele se coloca a caminho à procura
da verdade e da felicidade, começa a procurar Deus e para ouvir a sua voz, decide
se separar do mundo e viver como eremita. O silêncio se torna assim o elemento que
caracteriza a sua vida cotidiana. É no silêncio exterior, mas sobretudo, no interior,
que ele consegue ouvir a voz de Deus, capaz de orientar a sua vida. Tem aqui um primeiro
aspecto importante para vocês: vivemos numa sociedade em que todo espaço, todo momento
parece ser "preenchido" por iniciativas, atividades, sons; muitas vezes não existe
tempo nem mesmo para ouvir e para dialogar. Queridos irmãos e irmãs! Não tenhamos
medo de fazer silêncio fora e dentro de nós mesmo, se quisermos ser capazes não somente
de ouvir a voz de Deus, mas também daquelas pessoas que estão ao nosso redor, os outros.
É importante sublinhar também um segundo elemento: a descoberta do Senhor
feita por Pedro Angelerio não é o resultado de um seu esforço, mas se torna possível
com a Graça de Deus que o acolhe. O que ele tinha, o que ele era, não vinha de si
mesmo: lhe foi doado, era graça, e era por isso também responsabilidade diante de
Deus e diante dos outros. Mesmo se a nossa vida seja muito diferente, também para
nós vale a mesma coisa: todo o essencial de nossa existência nos foi dado sem a gente
pedir. O fato de eu viver não depende de mim; o fato de existir pessoas que me tenham
introduzido na vida, que tenham me ensinado o que seja amar e ser amado, que me transmitiram
a fé e me abriram os olhos para Deus; tudo isso é graça. De nossa iniciativa não poderíamos
ter feito nada se não nos tivesse sido dado: Deus nos antecipa sempre e em cada vida
existe o belo e o bom que nós podemos reconhecer facilmente como sua graça, como raio
de luz de sua bondade. Por isso, devemos ficar atentos, manter sempre abertos os "olhos
interiores", e de nosso coração. E se nós aprendemos a conhecer Deus em sua bondade
infinita, então seremos capazes também de ver, com alegria, em nossa vida os Santos
– os sinais daquele Deus, que está sempre próximo de nós, que é sempre bom conosco,
que nos diz "Tenham fé em mim!"
No silêncio interior, na percepção da presença
do Senhor, Pedro del Morrone amadureceu uma experiência viva da beleza da criação,
obra das mãos de Deus: sabia acolher o sentido profundo, respeitava os sinais e ritmos,
usava aquilo que era essencial para a vida. Sei que esta Igreja local, como também
as outras de Abruzzo e de Molise, estão ativamente engajadas numa campanha de sensibilização
para a promoção do bem comum e da salvaguarda da criação: encorajo vocês a este esforço,
exortando-os a se sentirem responsáveis de seu próprio futuro, como também do futuro
dos outros, respeitando e protegendo a criação, fruto e sinal do Amor de Deus.
Na
segunda leitura, extraída da Carta aos Gálatas, ouvimos uma belíssima expressão de
São Paulo, que é também um perfeito retrato espiritual de São Pedro Celestino: "Quanto
a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio
do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo" (Gl 6, 14).
A
Cruz é o centro de sua vida, lhe deu força para enfrentar as amargas penitências e
os momentos mais difíceis, desde a juventude até a última hora: ele sempre foi consciente
de que dela vem a salvação. A cruz deu também a São Pedro Celestino uma clara consciência
do pecado, sempre a acompanhada de uma clara consciência da infinita misericórdia
de Deus para com a sua criatura. Vendo os braços abertos de seu Deus crucificado,
ele se deixou levar pelo mar infinito do amor de Deus. Como sacerdote, experimentou
a beleza de ser administrador desta misericórdia absolvendo os penitentes de seus
pecados, e quando foi eleito à Sé do Apóstolo Pedro, quis conceder uma particular
indulgência, denominada "O Perdão Celestiniano". Desejo exortar os sacerdotes a serem
testemunhas claras e críveis da boa nova da reconciliação com Deus, ajudando o homem
de hoje a recuperar o sentido do pecado e do perdão de Deus, para experimentar a alegria
superabundante da qual nos falou o profeta Isaías na primeira leitura (cfr. Is 66,
10-14).
Enfim, um último elemento: São Pedro Celestino, mesmo tendo uma vida
eremita, não "se fechou em si mesmo", mas foi tomado pela paixão de levar a boa nova
do Evangelho aos irmãos. E o segredo de sua fecundidade pastoral estava no "permanecer"
com o Senhor, na oração, como nos recordou o Evangelho de hoje: o primeiro imperativo
é sempre o de pedir ao Senhor da messe (cfr. Lc 10, 2). Somente depois deste convite
que Jesus define alguns compromissos essenciais do discípulo: o anúncio sereno, claro
e corajoso da mensagem do Evangelho – até nos momentos de perseguição – sem ceder
ao fascínio da moda, da violência ou da imposição; a distância das preocupações pelas
coisas – o dinheiro e o que vestir – confiando na Providência do Pai; a atenção e
o cuidado particular pelos doentes no corpo e no espírito (cfr. Lc 10, 5-9). Estas
foram também as características do breve e sofrido pontificado de Celestino V e estas
são as características da atividade missionária da Igreja em toda época.
Queridos
Irmãos e Irmãs! Estou aqui entre vocês para confirmá-los na fé. Exorto a todos, com
força e afeto, a permanecerem firmes fé que receberam, fé que dá sentido à vida e
que doa a força de amar. Que nos acompanhe neste caminho o exemplo e a intercessão
da Mãe de Deus e de São Pedro Celestino. Amém