2010-07-04 18:17:37

Dulce Araújo, de São Tomé, fala do país e da Igreja deste país lusófono


Roças, roças e roças. São Tomé é essencialmente isto: uma ilha de 875 km coberta por uma densa vegetação orlada pelo mar azul. Roças de cacau e café introduzidas pelos portugueses a partir de 1800 em substituição da economia esclavagista e da cana de açúcar entrada, entretanto, em decadência. A escravatura tinha sido abolida. Mas, a mão de obra escrava era necessária para essas novas plantações. Então, os portugueses mandaram vir pessoas das outras colónias: sobretudo de Cabo Verde e Angola, mas também de Moçambique, Guiné-Bissau. Chamavam-se “contratados”. Na realidade a diferença com a escravatura era mínima. As pessoas que vivem hoje nas roças são seus descendentes, ou mesmo as que continuaram ainda a vir nos anos 60.
A independência do país a 12 de Julho de 1975 (35 anos daqui a poucos dias) não melhorou nada para elas. Antes pelo contrario! Ficaram abandonadas à sua sorte. A maioria vive na miséria, em pequenas casas de madeira à beira da estrada ou escondidas no interior das roças. Ali a estrutura continua a ser a mesma: casa grande e senzala. Só que a casa grande com as suas estruturas hospitalares, de administração e exportação, está fechada, ocupada ou danificada. O Estado de São Tomé que nacionalizou as roças depois da independência não foi capaz, até hoje, de as reabilitar e de dar uma vida digna às pessoas que lá vivem: muito mais das cerca de 2500 que tinham algumas delas antigamente – disse-nos um descendente de contratados na Roça Rio do Ouro, dizendo que o governo deveria confiá-las a pessoas capazes de as gerir em novos moldes. Uma situação que gera falta de esperança, de auto-estima e passividade nas pessoas, aumentando ainda mais a sua pobreza.
Os bispos que tomam parte neste encontro puderam ver isso tudo com os próprios olhos nas visitas destes dois dias sobretudo ao Norte da Ilha. Mas puderam ver também o fervor cristão, em Neves por ex., onde sábado foram acolhidos em festa por essa comunidade composta sobretudo por originários de Cabo Verde. A Liturgia foi de facto presidida pelo bispo de Santiago, D. Arlindo Furtado. Na homilia evocou São Paulo para dizer que ninguém é estrangeiro ou hóspede em Cristo, aludindo assim a um outro problema do país: a não concessão de cidadania, e um tratamento de segunda classe a esses cidadãos que vivem em São Tomé há décadas.
Uma realidade de pobreza e exclusão social que bem se coaduna com o tema escolhido para este nono encontro dos bispos lusófonos: a Igreja na luta contra a pobreza. Este domingo os bispos concelebraram no adro da Sé catedral, onde o bispo anfitrião, D. Manuel António dos Santos, conferiu a ordenação sacerdotal a um filho da Terra, Fausto Matos, e comemorou ao mesmo tempo, os 25 anos do seu sacerdócio, vivendo assim a alegria o Ano Sacerdotal que, nalgumas dioceses ainda não foi encerrado.
Os trabalhos do encontro continuam, alternados por visitas às comunidades, a partir de hoje em direcção ao Sul da Ilha, onde predominam oriundos de Angola nas roças.


De São Tome para a Rádio Vaticano, Dulce Araújo.








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