Relatório sobre os “objectivos do milénio” : não obstante os progressos registados
continuam a ser uma miragem
(26/6/2010) Mesmo com as crises alimentar e económica, que provocou sérios danos
no emprego, o mundo está a avançar na concretização dos Objectivos de Desenvolvimento
do Milénio . Mas esse progresso é lento e para que as metas sejam alcançadas até 2015
os países devem acentuar os seus esforços, indica um relatório das Nações Unidas.
O
documento, divulgado esta semana, em vésperas das cimeiras do G8 e do G20, que reúnem
as principais economias do planeta este fim-de-semana em Toronto, no Canadá, indica
que a pobreza extrema diminuiu, o combate a doenças como o HIV/sida e a malária tem
dado frutos, o acesso a água potável aumentou e há avanços na escolarização básica,
designadamente em África.
Só que noutras áreas críticas, como a saúde materna,
a mortalidade infantil e o acesso a saneamento básico, é preciso percorrer um longo
caminho para manter a esperança de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
- fixados há dez anos com a intenção de lutar contra a pobreza extrema e reduzir as
suas consequências em domínios como a fome, a saúde e a educação.
"A pobreza
extrema caiu de 46 por cento em 1990 para 27 por cento, e deve baixar para 15 por
cento em 2015, em grande parte devido aos avanços na China, Ásia do Sul e Sudeste
da Ásia", referem as Nações Unidas. Os 15 por cento desejados significariam, ainda
assim, que 920 milhões de pessoas estariam nessa altura a viver abaixo do limiar de
pobreza fixado em 1,25 dólares por dia (à volta de um euro). Apesar da evolução, o
relatório reconhece que a fome e a má nutrição estão a crescer em regiões como a Ásia
do Sul e que persiste o fosso entre ricos e pobres e comunidades urbanas e rurais
que torna o mundo desigual.
No caso da mortalidade infantil, os avanços,
quantificados numa redução de 28 por cento entre 1990 e 2008, para 72 mortes por mil
nascimentos, são muito limitados. Só em 2008, segundo os dados das Nações Unidas,
morreram 8,8 milhões de crianças com menos de cinco anos.
Nas regiões
pouco desenvolvidas, menos de metade das mulheres têm acesso a cuidados médicos durante
a gravidez.
Nos países mais pobres, as raparigas continuam a não ter as
mesmas oportunidades que os rapazes, especialmente na educação - a possibilidade de
não frequentarem a escola é quatro vezes menor.
O relatório "de progresso",
o último antes da cimeira que a 21 e 22 de Setembro deve reunir em Nova Iorque cerca
de uma centena de chefes de Estado, cita também estimativas do Banco Mundial que sugerem
que a crise terá lançado 50 milhões de pessoas na pobreza extrema em 2009 e que os
números crescerão este ano, principalmente na África subsariana e no Leste e Sudeste
asiático. O número de pessoas com fome permanece, tal como em 2009, acima dos mil
milhões.
"A incerteza económica não pode ser desculpa para atrasar os esforços
de desenvolvimento", disse o secretário-geral das Nações Unidas. "É uma razão para
os acentuar. Investindo nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio,investimos no
crescimento económico global", acrescentou Ban Ki-moon, que defende a concentração
de esforços dos líderes internacionais em várias frentes: criação de emprego, estímulo
do crescimento económico, aposta na segurança alimentar, promoção de energia limpa
e reforço das parcerias entre países ricos e pobres para ajudar à evolução dos menos
desenvolvidos.