VATICANO MANIFESTA "ESPANTO" PELA VIOLAÇÃO DE TÚMULOS EM BUSCA EFETUADA PELA JUSTIÇA
BELGA
Cidade do Vaticano, 25 jun (RV) - O Vaticano manifestou seu "espanto" diante
da abertura de túmulos, no contexto das buscas efetuadas nesta quinta-feira, pela
Justiça belga, no território do Arcebispado de Malines-Bruxelas, mas reiterou sua
"firme condenação contra todo e qualquer ato pecaminoso e criminoso de abuso de menores
por parte de membros da Igreja". Num comunicado oficial da Secretaria de Estado, a
Santa Sé indica "a necessidade de reparar e confrontar tais atos, em conformidade
com as exigências da Justiça e os ensinamentos do Evangelho".
De acordo com
a imprensa da Bélgica, as buscas feitas na sede do Arcebispado, em seguida a novas
denúncias contra membros do clero do país, estenderam-se à cripta da Catedral Saint
Rombout, em Malines. Os policiais estariam à procura de um dossier sobre pedofilia,
que – supostamente – estaria escondido num túmulo.
A Secretaria de Estado
exprimiu "vivo espanto pela modalidade com que foram feitas algumas buscas conduzidas
ontem pelas autoridades judiciais belgas, e seu ressentimento pelo fato de terem sido
violadas as sepulturas dos cardeais Jozef-Ernest Van Roey e Léon-Joseph Suenens, falecidos
arcebispos de Malines-Bruxelas".
A nota do Vaticano comentou a ação, expressando
"pesar" contra "algumas infrações à confidencialidade" "à qual têm direito as vítimas
que motivaram a realização dessas buscas". De acordo com o comunicado, as opiniões
foram discutidas pessoalmente pelo secretário vaticano das Relações com os Estados,
Dom Dominique Mamberti, e pelo embaixador da Bélgica junto à Santa Sé, Charles Ghislain.
A Igreja belga é uma das atingidas pelos episódios de pedofilia denunciados, recentemente,
em várias partes do mundo, e que teriam sido cometidos por membros do clero. Em abril,
o bispo emérito de Bruges, Dom Roger Joseph Vangheluwe, teve sua renúncia aceita pelo
papa, após ter enviado uma carta à Santa Sé, na qual admitia ter abusado sexualmente
de uma criança, durante anos.
O Santo Padre acaba de nomear o novo bispo
de Bruges. Trata-se de Dom Jozef De Kesel.
A busca de documentos na sede do
Arcebispado belga foi condenada pela Conferência Episcopal do país. De acordo com
o porta-voz da entidade, Eric de Beukelaer, a medida "vai contra o direito à reserva,
que deve ser garantido às vítimas" de pedofilia. "Não foi uma experiência agradável,
mas tudo se desenvolveu de modo correto" – disse ele.
Por sua vez, o arcebispo
de Malines-Bruxelas, Dom André Joseph Leonard, primaz da Bélgica, afirmou que a magistratura
"tinha o direito de fazer aquilo que desejava", mas que ficou "chocado" pelo método
adotado.
Dom Leonard enfatizou que durante as buscas "foram abertos túmulos
na catedral e confiscados computadores e os livros de contabilidade sobre a administração
do pessoal". (AF)