Cidade do Vaticano, 24 jun (RV) - Dias atrás encerramos o Ano Sacerdotal, que
foi marcado por muitas celebrações, missas, adorações, palestras, conferências, seminários,
peregrinações, horas santas. O Papa Bento XVI foi muito feliz e inspirado ao dedicar
o tema do sacerdócio neste último ano por ocasião dos 150 anos de falecimento de São
João Maria Vianney. Tudo o que foi celebrado e meditado levou os sacerdotes a refletirem
ainda mais sobre a beleza do que é ser consagrado e o valor da sua missão. O padre
possui uma grande missão em meio aos desafios dos tempos atuais: “Ser outro Cristo”.
Foi também uma ótima ocasião para o nosso povo valorizar ainda mais o presbítero e
rezar pelo clero e pelas vocações de especial consagração.
Assim como todo
cristão é chamado a ser “outro Cristo”, muito mais ainda o sacerdote! Essa intuição
não é apenas uma metáfora, mas uma maravilhosa, surpreendente e consoladora realidade.
Pelo Sacramento da Ordem, o sacerdote age “in persona Christi” emprestando a Jesus
Nosso Senhor a voz, as mãos e todo o seu ser, pois é Jesus quem na Santa Missa, com
as palavras da consagração, muda a substância do pão e do vinho na do seu Corpo e
do seu Sangue. É também o próprio Jesus quem, no Sacramento da Reconciliação, pronuncia
a palavra autorizada e paterna: “Os teus pecados te são perdoados” (Mt 9, 2; Lc 5,20;
7,48; Jo 20,23). É Cristo quem fala quando o sacerdote, exercendo seu ministério em
nome e no espírito da Igreja, anuncia a palavra de Deus. É também o próprio Cristo
quem tem cuidado com os enfermos, com as crianças e com os pecadores quando os envolve
com o amor e a solicitude pastoral dos ministros sagrados.
O sacerdote atua
“na pessoa de Cristo”! Esta identificação irrepetível entre Cristo e o sacerdote,
delimitando a sua identidade, fica claramente desenhada na ”Pastores dabo vobis” –
“o Senhor estabelece uma estreita conexão entre o ministério confiado aos Apóstolos
e a sua própria missão – ‘quem vos acolhe, acolhe-me a mim, e quem me acolhe, acolhe
aquele que me enviou’ (Mt10, 4)”(cfr. PDV 14). Os sacerdotes são chamados a prolongar
a presença de Cristo, o único e Sumo Pastor.
O padre é chamado a assumir
sua identidade de tal maneira que, além da missão e do serviço, sua vida seja também
o sinal de quem se consagrou a Deus com todo o seu ser, ou seja, o esforço da sua
luta consiste em ir conseguindo, pouco a pouco, fazer transparecer o rosto de Jesus
no seu semblante. A vida espiritual do padre também deve estar dirigida, toda ela,
para conseguir na tela de sua existência o perfil extraordinariamente atrativo do
Bom Pastor. Essa tomada de consciência e a caminhada de aprofundamento para se configurar
ao Cristo Pastor trarão um júbilo inigualável, do qual emanam os dons da paz e da
alegria.
Outro dado completamente associado a esta configuração a Cristo é
a santidade. A santidade é o resultado do crescimento pleno da graça batismal. A santidade
é a consequência ordinária do amadurecimento da vida espiritual com as consequências
existenciais na vida da pessoa. A exortação apostólica “Pastores dabo vobis” nos fala
que essa vocação universal para a Santidade “encontra particular aplicação no caso
dos presbíteros – estes são chamados não só enquanto batizados, mas também e especialmente
enquanto presbíteros, ou seja, por um título novo e de modo original, derivado do
Sacramento da Ordem” (Pastores dabo vobis,19). Para o sacerdote, “uma vocação específica
à santidade, mais precisamente uma vocação que se fundamenta no sacramento da ordem.
Temos alguns elementos que definem o conteúdo da “especificidade” da vida espiritual
dos presbíteros: a sua “consagração”, que os configura a Jesus Cristo, Cabeça e Pastor
da Igreja; a sua “missão”, típica dos presbíteros, que os compromete a serem “instrumentos
vivos de Cristo, eterno Sacerdote” e a agirem “em nome e na pessoa do próprio Cristo”;
enfim, a sua vida inteira vocacionada para testemunhar de modo original a “radicalidade
evangélica”. Portanto, o padre está chamado de uma maneira especial à santidade pessoal
para contribuir com o incremento da santidade da comunidade eclesial que lhe foi confiada.
O capítulo V da constituição conciliar “Lumen Gentium” nos fala sobre esta responsabilidade
de levar a cabo a vocação universal à santidade.
+ Orani João Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ