2010-06-24 18:39:40

CHAMADOS À SANTIDADE


Cidade do Vaticano, 24 jun (RV) - Dias atrás encerramos o Ano Sacerdotal, que foi marcado por muitas celebrações, missas, adorações, palestras, conferências, seminários, peregrinações, horas santas. O Papa Bento XVI foi muito feliz e inspirado ao dedicar o tema do sacerdócio neste último ano por ocasião dos 150 anos de falecimento de São João Maria Vianney. Tudo o que foi celebrado e meditado levou os sacerdotes a refletirem ainda mais sobre a beleza do que é ser consagrado e o valor da sua missão. O padre possui uma grande missão em meio aos desafios dos tempos atuais: “Ser outro Cristo”. Foi também uma ótima ocasião para o nosso povo valorizar ainda mais o presbítero e rezar pelo clero e pelas vocações de especial consagração.

Assim como todo cristão é chamado a ser “outro Cristo”, muito mais ainda o sacerdote! Essa intuição não é apenas uma metáfora, mas uma maravilhosa, surpreendente e consoladora realidade. Pelo Sacramento da Ordem, o sacerdote age “in persona Christi” emprestando a Jesus Nosso Senhor a voz, as mãos e todo o seu ser, pois é Jesus quem na Santa Missa, com as palavras da consagração, muda a substância do pão e do vinho na do seu Corpo e do seu Sangue. É também o próprio Jesus quem, no Sacramento da Reconciliação, pronuncia a palavra autorizada e paterna: “Os teus pecados te são perdoados” (Mt 9, 2; Lc 5,20; 7,48; Jo 20,23). É Cristo quem fala quando o sacerdote, exercendo seu ministério em nome e no espírito da Igreja, anuncia a palavra de Deus. É também o próprio Cristo quem tem cuidado com os enfermos, com as crianças e com os pecadores quando os envolve com o amor e a solicitude pastoral dos ministros sagrados.

O sacerdote atua “na pessoa de Cristo”! Esta identificação irrepetível entre Cristo e o sacerdote, delimitando a sua identidade, fica claramente desenhada na ”Pastores dabo vobis” – “o Senhor estabelece uma estreita conexão entre o ministério confiado aos Apóstolos e a sua própria missão – ‘quem vos acolhe, acolhe-me a mim, e quem me acolhe, acolhe aquele que me enviou’ (Mt10, 4)”(cfr. PDV 14). Os sacerdotes são chamados a prolongar a presença de Cristo, o único e Sumo Pastor.

O padre é chamado a assumir sua identidade de tal maneira que, além da missão e do serviço, sua vida seja também o sinal de quem se consagrou a Deus com todo o seu ser, ou seja, o esforço da sua luta consiste em ir conseguindo, pouco a pouco, fazer transparecer o rosto de Jesus no seu semblante. A vida espiritual do padre também deve estar dirigida, toda ela, para conseguir na tela de sua existência o perfil extraordinariamente atrativo do Bom Pastor. Essa tomada de consciência e a caminhada de aprofundamento para se configurar ao Cristo Pastor trarão um júbilo inigualável, do qual emanam os dons da paz e da alegria.

Outro dado completamente associado a esta configuração a Cristo é a santidade. A santidade é o resultado do crescimento pleno da graça batismal. A santidade é a consequência ordinária do amadurecimento da vida espiritual com as consequências existenciais na vida da pessoa. A exortação apostólica “Pastores dabo vobis” nos fala que essa vocação universal para a Santidade “encontra particular aplicação no caso dos presbíteros – estes são chamados não só enquanto batizados, mas também e especialmente enquanto presbíteros, ou seja, por um título novo e de modo original, derivado do Sacramento da Ordem” (Pastores dabo vobis,19). Para o sacerdote, “uma vocação específica à santidade, mais precisamente uma vocação que se fundamenta no sacramento da ordem. Temos alguns elementos que definem o conteúdo da “especificidade” da vida espiritual dos presbíteros: a sua “consagração”, que os configura a Jesus Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja; a sua “missão”, típica dos presbíteros, que os compromete a serem “instrumentos vivos de Cristo, eterno Sacerdote” e a agirem “em nome e na pessoa do próprio Cristo”; enfim, a sua vida inteira vocacionada para testemunhar de modo original a “radicalidade evangélica”. Portanto, o padre está chamado de uma maneira especial à santidade pessoal para contribuir com o incremento da santidade da comunidade eclesial que lhe foi confiada. O capítulo V da constituição conciliar “Lumen Gentium” nos fala sobre esta responsabilidade de levar a cabo a vocação universal à santidade.

+ Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ










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