2010-06-23 13:53:14

O ROSTO DE PEDRO, PAULO, JOÃO E ANDRÉ


Cidade do Vaticano, 23 jun (RV) - A poucos dias da data em que a Igreja recorda Pedro e Paulo, o Vaticano anunciou ontem ter descoberto as primeiras imagens sacras conhecidas dos apóstolos de Jesus Cristo.

Elas foram reveladas, juntamente com representações inéditas dos apóstolos João e André, em uma câmara subterrânea para sepultamento localizada embaixo de um prédio de escritórios numa movimentada rua de Roma, a poucos metros da Basílica de São Paulo.

O achado foi apresentado oficialmente ontem em coletiva de imprensa pelo presidente da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra e do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi.

Usando uma nova tecnologia a laser, arqueólogos e restauradores de arte encontraram as pinturas num ramal das catacumbas de Santa Tecla, do lado de fora das muralhas da Roma antiga.

A moderna técnica permite queimar espessos depósitos de carbonato de cálcio sem danificar as cores das pinturas e pode revolucionar a forma como o trabalho de restauração é realizado em ambientes de umidade extrema e ausência de circulação de ar.

Barbara Mazzei, que chefiou o projeto, disse que o laser foi usado como um “bisturi óptico” para fazer o carbonato cair sem prejudicar a pintura: “O laser criou uma espécie de pequena explosão de vapor, desprendendo-o da superfície” – explicou. O resultado deu uma surpreendente clareza a imagens que, antes, eram borradas e opacas.

Outras imagens bíblicas, como Jesus ressuscitando Lázaro ou Abraão preparando o sacrifício de Isaac, também estão muito mais claras e brilhantes.

Os quilômetros de catacumbas escavadas sob a capital italiana são uma importante atração turística, pois oferecem aos visitantes uma visão sobre as tradições das origens da Igreja, quando os cristãos eram perseguidos por causa de sua fé.

As pinturas têm as mesmas características de imagens posteriores, como a testa alta e enrugada de Paulo, a cabeça começando a ficar calva e a barba pontuda. Isso indica que essas figuras podem ter sido as que fixaram o padrão.

Os quatro ícones, com cerca de 50 centímetros de diâmetro, estão no teto da sepultura subterrânea de uma nobre que teria se convertido ao cristianismo no mesmo século em que o imperador Constantino legalizou a religião.

Os primeiros cristãos escavaram as catacumbas do lado de fora das muralhas de Roma como cemitérios subterrâneos porque os enterros eram proibidos dentro das muralhas da cidade - os romanos pagãos eram geralmente cremados.

Segundo Dom Gianfranco Ravasi, a presença dos apóstolos neste sepulcro evoca uma espécie de devoção e de protetorado em relação aos dois mártires romanos.

"No que diz respeito a pinturas no interior de catacumbas, estamos acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas, com poucas cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram as cores extraordinárias. Quanto mais avançamos, mais surpresas encontramos. Foi uma descoberta de forte impacto emocional” - disse a pesquisadora Barbara Mazzei.

Dom Giovanni Carrú, secretário da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, indicou aos jornalistas que estes trabalhos “restituíram aos especialistas e visitadores um patrimônio iconográfico muito importante para reconstruir a história da comunidade cristã de Roma, que, com as pinturas que decoram seus cemitérios, expressavam sua cultura, sua civilização e sua fé".

A Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra foi instituída pelo Papa Pio IX em 1925. Trabalha na conservação das catacumbas cristãs, na restauração das obras e escavações. Há 20 anos está empenhada no projeto de recuperação do patrimônio pictórico conservado nas catacumbas.

O Professor Fabrizio Bisconti, diretor de arqueologia das catacumbas de Roma, que pertencem ao Vaticano, disse que o achado ainda não está aberto ao público porque as obras continuam, há dificuldade de acesso e o espaço é limitado. A entrada é permitida exclusivamente a especialistas, por enquanto.
(CM)







All the contents on this site are copyrighted ©.