PORTUGAL: PATRIARCA PEDE NOVA ATITUDE DA IGREJA NA SOCIEDADE
Lisboa, 16 jun (RV) – O cardeal-patriarca de Lisboa, José da Cruz Policarpo,
falou aos bispos portugueses sobre a necessidade de uma atitude de diálogo e sobre
as implicações políticas da fé. O purpurado insistiu, no pronunciamento feito
hoje, no âmbito das Jornadas Pastorais da Conferência Episcopal Portuguesa, em Fátima,
sobre a necessidade de mudar a “atitude” da Igreja perante a sociedade contemporânea,
buscando “formas novas de intervenção”. “A Igreja faz parte integrante da sociedade
e dada a qualidade de sua mensagem e o número de seus membros, não pode deixar de
buscar formas sempre novas para contribuir para o bem da comunidade humana na qual
está integrada” – disse o patriarca. “O anúncio cristão pode, por vezes, ser uma
denúncia, embora deva ser, sobretudo, anúncio. Mas se começa pela denúncia, corre
o risco de nunca ser anúncio” – advertiu o cardeal, lamentando que a "situação anacrônica”
de se considerar “qualquer intervenção da Igreja” como uma “intervenção na esfera
do estritamente político”. Para o Cardeal Policarpo, “se nos limitarmos à denúncia,
nossa voz pode ser facilmente interpretada como mera tomada de posição política e
ser vítima de fundamentalismos”. “É impressionante verificar a pouca importância
que a dimensão ética tem nas escolhas políticas” – observou, antes de recordar que
“o voto deveria ser sempre a escolha de uma consciência bem formada e esclarecida”. A
hierarquia – disse o presidente do Episcopado português – "abstém-se, habitualmente,
de se imiscuir no âmbito do estritamente político, mas os cristãos leigos não são
obrigados a isso, e devem ser porta-vozes, no seio da sociedade, dos autênticos valores
cristãos". Citando a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (de 1965), do Concílio
Vaticano II, o cardeal disse que “só amando o mundo, se podem captar os sinais que
a realidade emite, para que a Igreja intua caminhos concretos de missão”. “Podemos
cair, muito facilmente, na atitude de condenação da sociedade atual, mas é possível
amar o mundo sem concordar com o mundo” – assinalou, com um apelo em favor de um "olhar
construtivo sobre a sociedade, por parte da Igreja”. Dentre os pontos que valorizou
em seu longo pronunciamento, o patriarca de Lisboa destacou a “busca de sentido” na
sociedade atual, mas deixou como alerta a constatação de que “muitos já não procuram,
espontaneamente, a resposta da Igreja, na sua ação institucional”. Após recordar
os apelos do papa, em sua recente visita a Portugal, para que a ação social da Igreja
portuguesa fosse repensada, o Cardeal Policarpo concluiu sua conferência com uma nota
crítica: “Trabalhamos mais do que amamos; criamos estruturas, mas quando as pessoas
precisam do pastor, nós estamos ocupados” – ressaltou. (AF)