Na palavra sacerdócio esconde-se a audácia de Deus que seserve de um pobre
homem a fim de ser, através dele, presente para os homens e de agir a seu favor. Bento
XVI na homilia da Missa que encerrou o Ano Sacerdotal
(11/6/2010) Deus cuida pessoalmente de mim, de nós, da humanidade. Os padres hão-de
ser também pessoas que cuidam pessoalmente dos homens, tornando palpável esta preocupação
e cuidado de Deus. - Reflexões de Bento XVI, na densa e intensa homilia da Missa de
conclusão do Ano Sacerdotal, nesta solenidade do Coração de Jesus, na Praça de São
Pedro. O Papa recordou que esta iniciativa se propunha ajudar a “compreender novamente
a grandeza e a beleza do ministério sacerdotal”.
O sacerdócio não
é simplesmente uma “função”, mas um sacramento – advertiu Bento XVI.
“Deus
serve-se de um pobre homem a fim de ser, através dele, presente para os homens e de
agir a seu favor. Esta audácia de Deus, que se confia ele próprio a seres humanos;
que, embora conhecendo as nossas debilidades, retém homens capazes de agir e de estarem
presentes em vez dele – esta audácia de Deus é a coisa verdadeiramente grande que
se esconde na palavra sacerdócio”.
Com o Ano Sacerdotal –
sublinhou o Papa – “ desejávamos reavivar a alegria pelo facto de Deus estar assim
tão perto e gratidão pelo facto de Ele se confiar à nossa debilidade; pelo facto de
Ele nos conduzir e manter dia após dia”. Era de esperar que este novo brilhar do sacerdócio
não agradaria ao “inimigo”… E assim foi: precisamente neste ano de alegria para o
sacramento do sacerdócio, vieram à luz os pecados de sacerdotes – sobretudo o abuso
em relação aos pequenos, onde o sacerdócio como tarefa do desvelo de Deus a bem do
homem se transforma no exacto contrário…
“Também nós pedimos insistentemente
perdão a Deus e às pessoas envolvidas, ao mesmo tempo que queremos prometer fazer
todo o possível para que tal abuso nunca mais volte a suceder”.
Trata-se
(explicitou o Papa) de, na admissão ao ministério sacerdotal e na formação durante
o caminho de preparação para ele, fazer todo o possível para verificar a autenticidade
da vocação e acompanhar ainda mais os sacerdotes no seu caminho, para que o Senhor
os proteja e defenda em situações difíceis e nos perigos da vida. “Se o Ano Sacerdotal
houvesse de ser uma glorificação da nossa pessoal acção humana, teria ficado destruído
por aqueles casos (de abusos)” – observou o Papa. Mas assim não era.
“Para
nós tratava-se precisamente do contrário: tornarmo-nos gratos pelo dom de Deus, dom
que se esconde em vasos de barro e que sempre de novo, através de toda a debilidade
humana, concretiza neste mundo o seu amor”.
Assim, nesta ordem de
ideias, o que aconteceu há-de ser visto como “tarefa de purificação”, que nos faz
reconhecer e amar ainda mais o grande dom de Deus, empenhando-nos a “respondermos
com coragem e humildade à coragem e à humildade de Deus” – sublinhou o Papa.
Detendo-se
depois nas leituras desta Missa do Sagrado Coração de Jesus, Bento XVI observou que
“o sacerdócio de Jesus está radicado no íntimo do seu coração”. É no Coração de Cristo
que há-de estar sempre ancorado o ministério sacerdotal. É Ele o Pastor que se ocupa
pessoalmente de cada uma das ovelhas...
“Deus cuida pessoalmente de
mim, de nós, da humanidade. Não sou deixado só, perdido no universo e numa sociedade
perante a qual uma pessoa se sente desorientada. Ele cuida de mim. Não é um Deus distante,
para o qual a minha vida bem pouco contaria”.
Nas religiões do mundo
– fez notar o Papa – Deus aparece distante, abandonando o mundo a outras forças. Não
constitui um perigo mas também não oferece uma ajuda. Assim foi entendido também nos
tempos do Iluminismo: “Deus era só uma origem remota. Porventura muitos nem sequer
desejavam que Deus se ocupasse deles. Não queriam ser incomodados por Deus”…
“Mas
onde o desvelo e a amor de Deus são sentidos como um incómodo, ali é profundamente
abalado o ser humano. É belo e consolador saber que há uma pessoa que me quer bem
e cuida de mim. Mas é muito mais decisivo que exista aquele Deus que me conhece, me
ama e se preocupa de mim”.
“Eu conheço as minhas ovelhas e as minhas
ovelhas conhecem-me” – diz Jesus. Deus conhece-me, preocupa-se comigo. Esta certeza
deveria tornar-nos verdadeiramente alegres e felizes – observou o Papa, que pediu
aos padres que se deixem penetrar desta convicção...
“Deus quer que
nós, como padres, num pequeno ponto da história, partilhemos as suas preocupações
pelos homens. Como sacerdotes, queremos ser pessoas que, em comunhão com o seu desvelo
pelos homens, cuidamos deles e tornamos para eles concreta a preocupação e o afecto
de Deus”.
No final da celebração, Bento XVI saudou em diferentes línguas
os padres presentes, vindos dos quatro cantos da terra. Esta a sua saudação em português:
“Queridos
sacerdotes dos países de língua oficial portuguesa, dou graças a Deus pelo que sois
e pelo que fazeis, recordando a todos que nada jamais substituirá o ministério dos
sacerdotes na vida da Igreja. A exemplo e sob o patrocínio do Santo Cura d’Ars, perseverai
na amizade de Deus e deixai que as vossas mãos e os vossos lábios continuem a ser
as mãos e os lábios de Cristo, único Redentor da humanidade. Bem hajam!”