Bogotá, 08 jun (RV) - O Secretário Geral da Conferência Episcopal da Colômbia
(CEC), Dom Juan Vicente Córdoba, lamentou que certos personagens manchem a memória
de Dom Isaías Duarte Cancino – assassinado no ano 2002 –, a quem recordou como um
incansável “apóstolo da paz”.
Em uma entrevista concedida ao jornal colombiano
El Tiempo, o prelado saiu em defesa daquele que foi Arcebispo de Cali depois da polêmica
desatada por um militar na reserva que o acusou de ter recebido terras dos paramilitares.
Durante
um processo ainda aberto sobre a morte de um líder camponês, o general na reserva,
Rito Alejo del Rio, disse que Dom Duarte tinha recebido um imóvel dos irmãos Castaño,
máximos chefes dos paramilitares e que por isso o bispo foi assassinado.
Dom
Córdoba explicou que a entrega se verificou mas em meio de um processo de paz e que
tanto o Governo como a Igreja da época sabiam disso.
“Isto foi apresentado
como se a Igreja, por ser amiga dos paramilitares, recebeu dádivas para cobri-los
ou ajudá-los. Nada mais distante da realidade”, esclareceu Dom Córdoba e recordou
que “no meio do conflito em Urabá, nos primeiros anos dos 90, o então Bispo de Apartadó,
Dom Isaías Duarte Cancino, entrou em conversações com paramilitares e com as autodefesas,
para facilitar as negociações”.
“Ele era de uma grande personalidade, um homem
muito ativo, muito sincero, dessas pessoas que vão dizendo as coisas de frente e ao
mesmo tempo têm um carisma muito grande para fazer intermediações e logísticas de
paz. Nesses diálogos, os irmãos Castaño decidem baixar a tônica da violência e devolver
algumas terras, mas dizem que eles não entregavam isso a qualquer um e por isso as
doavam à Igreja. Mas este não foi um presente a Dom Isaías.
O Bispo explicou
que “a Igreja, com anuência e total informação das autoridades, recebeu um imóvel
que se chama La Tamela, um imóvel grande que se escriturou para a Igreja. Dom Duarte
começou o processo de entregá-lo aos camponeses e o terminou seu sucessor em Apartadó
quando ele foi destinado como Arcebispo de Cali, Dom Germán García, e que morreu há
três anos de câncer".
“Hoje, lá, vivem 1.050 famílias. Então, é correto o que
o general disse sobre os contatos de Dom Isaías com os paramilitares, mas esses contatos
foram para fazer a paz”, indicou o bispo. (SP)