Kinshasa, 08 jun (RV) – As recentes notícias de que na Nigéria cerca 200 pessoas
perderam a vida nos últimos meses por causa das atividades de extração de ouro, somam-se
a uma série de denúncias sobre os danos causados ao meio ambiente e às pessoas provocados
em várias áreas africanas por causa da exploração das reservas auríferas.
A
“Rede Paz para o Congo”, criada pelos missionários que trabalham na República Democrática
do Congo, enviou à Agência Fides, um documento no qual relata suas preocupações por
causa das atividades de uma sociedade aurífera canadense no Sul Kivu, no leste da
RDC.
Depois de repercorrer a história de como a sociedade conseguiu obter a
licença para a extração de minério, o documento relata algumas considerações sobre
as conseqüências que a exploração do ouro terá sobre a população local.
“O
território de Mwenga é habitado por duas tribos: os Balega e os Bashi” - afirma o
documento. “Os Bashi moram na área de Luhwinja e Burhinyi, no território de Mwenga
e o de Kaziba e Ngweshe, no território de Walungu. A densidade é de cerca 80 habitantes
por km2. A população vive da agricultura de subsistência e da criação de bovinos e
cabras. O território é montanhoso.
Por causa da exploração do ouro, a companhia
expropria as terras, única fonte de vida para os habitantes do local e transfere a
população para outro local. É o que ocorreu em Twangiza, na área de Luhwinja no território
de Mwenga. 850 famílias foram obrigadas a abandonar suas terras.
Visto que
as famílias dos Bashi são formadas em média por seis pessoas, então são mais de 5.100
pessoas que foram obrigadas a deixar suas terras. 450 são mineiros que vivem desta
atividade e que perderam sua fonte de renda. A maior parte deles são ex milicianos
e outros são jovens que usavam armas para ganhar o que comer.
A exploração
do ouro no Sul Kivu pode causar conseqüências nefastas sobre as populações desta província.
Moradores e especialistas se perguntam o que poderá ocorre no futuro. Consideradas
as medidas da sociedade em Twangiza, também outras populações interessadas começam
a pensar no futuro, porque não se sabe a que ponto chegará a expansão desta empresa.
Sem o único meio de subsistência, a terra, estas populações não saberão como viver.
Os habitantes da área têm medo de serem obrigados a viver em grupos, que correm
o risco de se tornar verdadeiros campos de concentração, onde persiste a miséria e
surgirão inevitáveis conflitos que poderão destruir o tecido social de coabitação
e de sociabilidade que até agora caracterizaram o povo do Kivu.
As populações
não possuem o direito de comprar terrenos onde foram verificadas a presença do ouro,
e correm o risco de serem expulsas. A expulsão dos mineiros e sem alguma precaução
de ressarcimento socioeconômico, aumentará a insegurança e a criminalidade, porque
esses jovens serão uma reserva de recrutamento para os grupos armados ainda ativos.
A população de Twangiza teme que, explorado todo o ouro, a sociedade se transfira
para outro lugar, causando o desemprego dos mineiros. O povo tem medo dos prejuízos
causados ao meio ambiente e à biodiversidade. Nos procedimentos da extração do ouro
são utilizadas substâncias altamente tóxicas, finaliza o relatório dos missionários.
(SP)