“A Igreja Católica no Médio Oriente, comunhão e testemunho”, tema da Assembleia especial
do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente: síntese do Instrumentum laboris
6/6/2010) O instrumentum laboris do sínodo para o Médio Oriente, isto é o documento
de trabalho da assembleia sinodal é publicado em 4 línguas : árabe, francês, inglês
e italiano. Bento XVI entregou-o este Domingo aos representantes do episcopado do
Médio Oriente, no final da Missa celebrada no Palacio dos Desportos Eleftherìa de
Nicósia. A assembleia sinodal terá lugar no Vaticano de 10 a 24 de Outubro sobre
o tema: a Igreja Católica no Médio Oriente, comunhão e testemunho. "A multidão
dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma" (Act
4, 32) O documento, de cerca de 40 paginas foi realizado com a colaboração
das numerosas respostas ao questionário dos lineamenta, enviadas pelos sínodos
dos bispos da Igrejas Orientais sui iuris, pelas conferencias episcopais, pelos
dicasterios da Cúria Romana, pela União dos Superiores Gerais e por tantas pessoas
singularmente e por grupos eclesiais. Na introdução, o secretario geral do Sínodo
dos Bispos, o arcebispo Nikola Eterovic sublinha que a situação actual no Médio Oriente
é em muitos aspectos pouco diferente daquela vivida pela primitiva comunidade cristã
na terra Santa, “ no meio de dificuldades e perseguições.”Os primeiros cristãos agiam
em situações bastante adversas . Encontravam a oposição e a inimizade dos poderes
religiosos do próprio povo,,,a sua pátria encontrava-se ocupada, inserida no interior
do poderoso império romano. Não obstante esta situação proclamavam integra a Palavra
de Deus, inclusive o amor pelos inimigos, chegando a testemunhar com o martírio a
fidelidade ao Senhor da vida”. Na introdução recorda-se que Bento XVI quis anunciar
pessoalmente tal acontecimento a 19 de Setembro de 2009, acolhendo assim o pedido
de numerosos irmãos no episcopado que perante a actual delicada situação eclesial
e social tinham proposto a convocação de uma assembleia sinodal. Dois os objectivos
principais do Sínodo: antes de mais confirmar e reforçar os cristãos na sua identidade
mediante a Palavra de Deus e os Sacramentos; em segundo lugar reavivar a comunhão
eclesial entre as Igrejas sui iuris, para que possam dar um testemunho de vida cristã
autentica, alegre e atraente. Sublinhados com força também o empenho ecuménico e o
diálogo com judeus e muçulmanos para o bem de toda a sociedade e para que a religião,
sobretudo de todos aqueles que professam um único Deus se torne cada vez mais motivo
de paz. O Sínodo deseja fornecer aos cristãos as razões da sua presença numa sociedade
prevalentemente muçulmana, seja ela árabe, turca, iraniana ou judaica no estado de
Israel. A reflexão é guiada pela Sagrada Escritura. O primeiro capitulo fala da
Igreja católica no Médio Oriente, recordando que todas igrejas do mundo remontam á
Igreja de Jerusalém. Afirma-se que as divisões entre os cristãos ( Concílios de Éfeso
e de Calcedónia no século V, e separação de Roma e Constantinopla no século XI) foram
devidas sobretudo a motivos políticos e culturais. Contudo o Espírito opera nas
Igrejas para as aproximar e fazer cair os obstáculos á unidade visível desejada por
Cristo. No Médio Oriente a única Igreja Católica está presente em várias Tradições,
em várias Igrejas Orientais Católicas sui iuris Além da Igreja de tradição latina
existem 6 Igrejas patriarcais cada uma com o seu rico património espiritual, teológico
e litúrgico. Estas tradições são, ao mesmo tempo, uma riqueza para a Igreja universal.
Recorda-se que as Igrejas do Médio Oriente são de origem apostólica e que seria uma
perda para a Igreja universal se o Cristianismo se enfraquece-se ou desaparecesse
precisamente ali onde nasceu. Existe portanto a grave responsabilidade de manter a
fé cristã nestas terras santas. Os católicos são chamados a promover o conceito de
laicidade positiva do Estado para aliviar o carácter teocrático do governo, e permitir
maior igualdade entre os cidadãos de religiões diferentes favorecendo assim a promoção
de uma democracia sã, positivamente laica, que reconheça plenamente o papel da religião,
e também na vida publica, no pleno respeito da distinção entre a ordem religiosa e
temporal. O documento sublinha que os conflitos regionais tornam ainda mais frágil
a situações dos cristãos, que se encontram entre as vitimas principais da guerra no
Iraque. Ainda hoje a politica mundial não os tem na devida conta. No Líbano os cristãos
estão divididos no plano politico e confessional. No Egipto, o crescimento do Islão
politico, dum lado e o desempenho, em parte forçado, dos cristãos em relação á sociedade
civil expõem as suas vidas a serias dificuldades. Noutros países , o autoritarismo,
isto é a ditadura, leva a população, inclusive os cristãos, a suportar tudo em silencio
para salvar o essencial. Na Turquia, o conceito actual de laicidade cria ainda problemas
á plena liberdade religiosa no País. Os cristãos são exortados a não descurar os seus
empenhos na sociedade não obstante as tentações do desalento. No Oriente – salienta
o documento de trabalho do próximo sínodo – liberdade de religião geralmente quer
dizer liberdade de culto, portanto não liberdade de consciência, isto é a liberdade
de acreditar ou não acreditar, de praticar uma religião sozinhos ou em publico sem
nenhum impedimento, e portanto liberdade de mudar de religião. No Oriente, a religião
é em geral uma opção social e até mesmo nacional, não individual. Mudar de religião
é considerado uma traição em relação á sociedade, á cultura e á Nação construída
principalmente sobre uma tradição religiosa. Por isso a conversão á fé cristã é vista
como fruto de um proselitismo interessado não de uma convicção religiosa autentica.
Para os muçulmanos, ela é muitas vezes proibida pelas leis do estado. O Segundo
capitulo é dedicado á comunhão eclesial. O documento salienta que os fiéis do Médio
Oriente estão conscientes do facto de que a comunhão cristã tem como fundamento o
modelo da vida divina no Mistério da Santíssima Trindade. Deus é amor e as relações
entre as pessoas divinas são relações de amor. Assim é necessário que no seio de
cada Igreja, cada um dos seus membros viva a mesma comunhão da Santíssima Trindade.
A vida da Igreja e das Igrejas do Oriente deve ser comunhão de vida no amor. Para
promover a unidade na diversidade é necessário superar o confessionalismo naquilo
que pode ter de limitado ou exagerado, encorajar o espírito de cooperação entre as
varias comunidades, coordenar a actividade pastoral e estimular a emulação espiritual
e não a rivalidade. Os cristãos são convidados a sentirem-se membros da Igreja
Católica no Médio Oriente e não apenas membros de uma Igreja particular. Os ministros
de Cristo e os consagrados são chamados a serem modelo e exemplo para os outros…….muitos
fiéis por seu lado desejam uma maior simplicidade de vida, um desapego real em relação
ao dinheiro e ás comodidades do mundo, uma pratica edificante da castidade e uma pureza
de costumes transparente. O Sínodo deve encorajar os fiéis a assumirem mais o seu
papel de baptizados promovendo iniciativas pastorais, especialmente pelo que diz respeito
ao empenho social, em comunhão com os pastores da Igreja. O Terceiro capitulo enfrenta
o tema do testemunho cristão. Reafirma-se antes de mais a importância da catequese
para conhecer e transmitir a fé eliminando a distancia entre a verdade que se crê
e a viva vivida. Pelo que diz respeito á liturgia o documento salienta os votos de
muitos de que se faça um esforço de renovação, que embora permaneça profundamente
arreigado na tradição, tenha na devida conta a sensibilidade moderna e as necessidades
espirituais e pastorais actuais. Reafirma-se a urgência do ecumenismo superando
preconceitos e desconfianças através do diálogo e da colaboração. São passadas em
resenha as relações com o judaísmo que encontram no Concilio Vaticano II um ponto
de referencia fundamental. O diálogo com os hebreus é definido essencial, embora não
seja fácil, ressentindo o conflito entre Israel e palestinianos. A Santa Sé deseja
que os dois povos possam viver em paz numa pátria que seja deles, no interior de fronteiras
seguras e internacionalmente reconhecidas. Reafirma-se a firme condenação do anti
semitismo sublinhando que as actuais atitudes negativas entre povos árabes e o povo
judaico parecem ser sobretudo de carácter politico e portanto estranhos a qualquer
discurso eclesial. Os cristãos são chamados s levar um espírito de reconciliação ao
meio da realidade religiosa e politica. Também as relações da Igreja Católica com
os muçulmanos têm fundamento no Concilio Vaticano II. São reafirmadas as palavras
de Bento XVI:”o diálogo interreligioso e intercultural entre cristãos e muçulmanos
não pode reduzir-se a uma opção ocasional. Ele é de facto uma necessidade vital, da
qual depende em grande parte o nosso futuro. Salienta-se que é importante, por um
lado manter diálogos bilaterais – com os judeus e com o Islão – e depois também o
diálogo trilateral. As relações entre cristãos e muçulmanos são, não poucas vezes
difíceis - salienta o documento de trabalho do Sínodo – sobretudo pelo facto de os
muçulmanos não fazerem distinção entre religião e politica, facto que coloca os cristãos
na situação delicada de não-cidadãos, quando eles são cidadãos destes países já muito
antes da chegada do Islão. A chave do sucesso da coexistência entre cristãos e
muçulmanos depende do reconhecimento da liberdade religiosa e dos direitos do homem”….Os
cristãos são chamados a não se isolarenm em ghetos, em atitudes defensivas, fechando-se
em si mesmos, Muitos fiéis insistem no facto de que cristãos e muçulmanos são chamados
a trabalhar juntos para promoverem a justiça social, a paz e a liberdade, e defender
os direitos humanos e os valores da vida e da família . Na situação conflitual
da região os cristãos são exortados a promover a pedagogia da paz: trata-se de uma
via realística embora corra o risco de ser recusada pela maioria. O documento
de trabalho do sínodo analisa também o forte impacto da modernidade que ao muçulmanos
crente se apresenta com um rosto ateu e imoral. Ele vive-a como uma invasão cultural
que o ameaça, perturbando o seu sistema de valores. A modernidade é contudo também
luta pela justiça e a igualdade , defesa dos direitos. O documento enfrenta depois
o tema da evangelização numa sociedade muçulmana que pode verificar-se apenas através
do testemunho; mas pede-se que ela seja garantida também por oportunas intervenções
externas. De qualquer maneira, a actividade caritativa das comunidades católicas
em relação aos mais pobres e excluídos, sem descriminação, representa a maneira mais
evidente, da difusão do ensinamento cristão. Tais serviços muitas vezes são assegurados
apenas pelas instituições eclesiais. Na conclusão, o documento de trabalho do próximo
sínodo dos bispos sobre o Médio Oriente põe em realce a preocupação pelas dificuldades
do momento presente, mas ao mesmo tempo a esperança fundada na fé cristã. A historia
– lê-se – fez com que nos tornássemos um pequeno rebanho. Mas nós, com a nossa conduta,
podemos voltar a ser uma presença que conta. Desde há decénios a não resolução do
conflito, o não respeito do direito internacional e dos direitos humanos, e egoísmo
das grandes potencias desestabilizaram o equilíbrio da região e impuseram ás populações
uma violência que corre o risco de as lançar no desespero. A consequência de tudo
isto é a emigração, especialmente dos cristãos. Perante este desafio e sustentado
pela comunidade cristã universal, o cristão do Médio Oriente é chamado a aceitar a
própria vocação, ao serviço da sociedade. O convite aos crentes é que sejam testemunhas
conscientes de que testemunhar a verdade pode levar a ser perseguidos. Aos cristãos
do Médio Oriente – conclui o documento de trabalho do Sínodo – pode-se repetir ainda
hoje: “ não temeas, pequeno rebanho, tu tens uma missão, de ti dependerá o crescimento
do teu País e a vitalidade da tua Igreja, e isto acontecerá somente com a paz, a justiça
e a igualdade de todos os cidadãos”.