Cidade do Vaticano, 06 jun (RV) - Neste domingo, temos dois impressionantes
relatos de ressurreição: um em 1Rs 17,17-24 (o filho da viúva de Sarepta, realizado
pelo profeta Elias); e outro em Lc 7,11-17 (o filho da viúva de Naim). Em ambos, ao
mesmo tempo que percebemos uma legítima afinidade, também encontramos uma profunda
diferença. Já o salmo 29 acentua a ação misericordiosa de Deus em favor dos que estão
"já morrendo" e, ainda, daqueles que, em prantos, vêm passar os dias: "Transformastes
o meu pranto em uma festa, Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos". Na segunda
leitura, S. Paulo exprime a importância do Evangelho por ele pregado. Segundo ele,
Deus o "separou desde o ventre materno, chamou-o por sua graça e revelou-lhe o seu
Filho" (cf. Gl 1,11-19). Essa ação divina determinou toda a vida missionária de Paulo,
que, em comunhão com Pedro, saiu apaixonadamente evangelizando o mundo conhecido.
Os
textos de 1Rs 17,17-24 e Lc 7,11-17 se assemelham quanto ao fato da cena apresentada:
dois profetas, que percebem (nas viúvas) a dor da perda, da solidão e do abandono
social vindouro, dois jovem mortos, duas viúvas aflitas e a ação misericordiosa de
Deus. Por outro lado, distanciam-se profundamente. Elias age como aquele que fala
em nome de Deus e dele necessita para ressuscitar o filho da viúva de Sarepta. Jesus
Cristo, por sua vez, é o próprio Senhor que dá a vida, age em nome próprio e fala
com autoridade. Elias é um escolhido, Jesus é o que escolhe; aquele é a criatura,
este, o Criador; aquele é profeta; este é o Senhor. Os apóstolos ligaram Elias a João
Batista (novo Elias) e não a Jesus, que é o doador da vida.
Jesus Cristo restitui
a vida, manifesta seu poder sobre a morte e se revela como Senhor. O milagre por ele
realizado aponta para Ele mesmo que é a Ressurreição e a Vida e é um sinal da realização
da expectativa messiânica de Israel. Nele as Profecias e a Lei encontram sua plenitude
e concretização.
As "ressurreições" citadas na Sagrada Escritura (1Rs 17,17-24;
2Rs 4,18-36; 2Rs 13,20-21; Mc 5,35-42; Lc 7,11-17; Jo 11; At 9,16-42; At 20,9-12)
não se identificam com a Ressurreição de Jesus Cristo. Nessas "ressurreições" temos
o milagre indicador do poder de Deus, que, novamente, concede o direito de viver neste
mundo àqueles que já se encontravam mortos. Em Jesus é diferente! Jesus não volta
à vida deste mundo, mas é plenamente glorificado, pneumatizado, isto é, totalmente
envolvido pelo Espírito Santo para a glória de Deus Pai. Não podemos imaginar, em
Jesus, uma reanimação do corpo, como a que entendemos nos casos da liturgia de hoje
e, ainda, segundo nossos conceitos, mas uma "reanimação" gloriosa, não no mundo, mas
em Deus mesmo. A existência do Ressuscitado se chama, portanto, GLÓRIA.
A mensagem
de Lc 7,11-17, a partir das figuras (viúva e filho), quer nos dizer que Israel, pelo
fato de sua infidelidade, ficou sem Deus, seu esposo; e que sua esperança (filho)
estava morta. Israel tornou-se terra árida, sem vida. Para restaurar a todos, surge
Jesus, vindo ao seu encontro, trazendo o dom da vida, da liberdade e da esperança.
O Verbo divino vem como homem, assumindo em si a dor sofrida pelo povo, entendendo
cada um a partir de sua própria realidade. Ele não teme "tocar o esquife", algo impuro;
quebra barreiras e penetra no mais íntimo dos corações: enxerga aquela pobre viúva
na sua mais profunda debilidade (solidão, desespero e exclusão social), ressuscitando
não somente aquele jovem, mas também aquela mãe, sinal do povo de Israel e de cada
um de nós.
Para nossa reflexão: 1. Acreditamos verdadeiramente na ressurreição? 2. O
que em nós precisa realmente morrer, a fim de que surja a novidade trazida por Deus? 3. Em
que estamos sendo infiéis ao Senhor? 4. Com que olhar procuramos enxergar os sofredores
do nosso tempo?