BENTO XVI: "A CRUZ OFERECE ESPERANÇA SEM LIMITES AO NOSSO MUNDO DECAÍDO"
Nicósia, 05 jun (RV) – O último compromisso deste sábado do papa em terras
cipriotas teve como cenário a Igreja da Santa Cruz, onde Bento XVI presidiu à celebração
eucarística, depois de ter sido saudado pelo patriarca latino de Jerusalém, Dom Fouad
Twal.
"Na alegria da vitória redentora de Cristo, saúdo todos vocês reunidos
na Igreja da Santa Cruz e agradeço-lhes pela presença": com essas palavras, o pontífice
introduziu sua homilia, agradecendo o calor da acolhida que lhe foi reservada e as
palavras de saudação do patriarca latino de Jerusalém, além da presença do Custódio
da Terra Santa, Fr. Pierbattista Pizzaballa.
"O centro da celebração de hoje
é a Cruz de Cristo. Muitos poderiam ser tentados a perguntar por que nós, cristãos,
celebramos um instrumento de tortura, um sinal de sofrimento, de derrota e de falência.
É verdade que a cruz expressa todos esses significados. E, todavia, aquele que foi
elevado na Cruz para a nossa salvação, representa também o definitivo triunfo do amor
de Deus sobre todos os males do mundo" – disse o papa.
Referindo-se à primeira
leitura, que evoca a queda e prefigura a redenção de Cristo, Bento XVI fez a seguinte
reflexão: "Como punição pelos próprios pecados, o povo de Israel, enquanto padecia
no deserto, foi picado por serpentes e poderia salvar-se da morte somente voltando
o olhar ao símbolo que Moisés havia elevado... Vemos, claramente, que o homem não
pode salvar a si mesmo das conseqüências do pecado. Não pode salvar a si mesmo da
morte. Somente Deus pode libertá-lo da sua escravidão moral e física. E como Deus
amou tanto o mundo, enviou o seu Filho unigênito não para condenar o mundo – como
a justiça teria exigido – mas para que através d'Ele o mundo pudesse ser salvo."
"A
cruz, portanto – argumentou Bento XVI – é algo maior e mais misterioso de quanto possa
parecer à primeira vista. Indubitavelmente é um instrumento de tortura, de sofrimento
e de derrota, mas ao mesmo tempo, expressa a completa transformação, a definitiva
revanche sobre esses males, e isso a torna o símbolo mais eloquente da esperança que
o mundo jamais viu."
A cruz – prosseguiu o papa – "fala a todos aqueles que
sofrem: oprimidos, doentes, pobres, marginalizados e às vítimas da violência, e lhes
oferece a esperança de que Deus pode transformar seu sofrimento em alegria; seu isolamento
em comunhão; sua morte em vida. Oferece esperança sem limites ao nosso mundo decaído."
"Um
mundo sem cruz – acrescentou ainda o Santo Padre – seria um mundo sem esperança, um
mundo em que a tortura e a brutalidade permaneceriam sem freio, o fraco seria explorado
e a avidez teria a última palavra. A desumanidade do homem em relação ao homem se
manifestaria de maneiras ainda mais horrendas, e não se poderia pôr fim ao ciclo maléfico
da violência. Somente a cruz pode acabar com esse ciclo."
Concluindo sua homilia,
o papa confiou uma tarefa aos presentes. "Caros irmãos sacerdotes, caros religiosos
e caros catequistas, a mensagem da cruz foi confiada a nós, de modo que possamos oferecer
esperança ao mundo. Quando proclamamos Cristo crucificado, não proclamamos a nós mesmos,
mas a Ele. Não oferecemos a nossa sabedoria, não falamos dos nossos méritos, mas nos
fazemos canais da Sua sabedoria, de Seu amor e de Seus méritos salvíficos."
"Sabemos
que somos apenas vasos de argila – refletiu o pontífice – e, todavia, surpreendentemente,
fomos escolhidos para ser arautos da verdade salvífica que o mundo precisa ouvir.
Jamais nos cansemos de surpreender-nos diante da graça extraordinária que nos foi
dada; jamais deixemos de reconhecer a nossa indignidade, mas, ao mesmo tempo, de nos
esforçarmos para nos tornarmos menos indignos do nosso nobre chamado, de modo a não
enfraquecer a credibilidade do nosso testemunho mediante os nossos erros e as nossas
quedas." (AF)