Rio de Janeiro, 23 mai (RV) - Neste final de semana iremos celebrar a solenidade
de Pentecostes após a tradicional novena preparatória. Durante este tempo celebramos
também a Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, recordando que “Somos testemunhas
de Cristo Ressuscitado, neste ano comemorando o centenário do Movimento Ecumênico. A
solenidade de Pentecostes para nós é um marco, do qual vemos o surgimento da Igreja
que é sustentada e animada pelo Dom e pela Força do Espírito Santo, o Paráclito, Advogado,
Alma da Igreja.
A palavra Pentecostes significa o quinquagésimo dia após a
Páscoa. Comemoramos nesta solenidade o envio do Espírito Santo à Igreja, em cumprimento
à promessa de Jesus: “quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o
Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis
testemunho” (Jo 15, 26-27). Dessa maneira, o Espírito foi enviado sobre os Apóstolos
e Cristo está presente na Igreja, que é continuadora da sua missão.
A origem
de Pentecostes vem do Antigo Testamento: uma celebração da colheita (Ex 23, 14), dia
de alegria e ação de graças, na verdade uma festa completamente agrária. Nessa festa,
o povo oferecia a Deus os primeiros frutos que a terra tinha produzido. Mais tarde,
tornou-se a festa da renovação da Aliança no Sinai (Ex 19, 1-16). No Novo Testamento,
Pentecostes está relatado no livro dos Atos dos Apóstolos 2, 1-13. Como era costume,
os Apóstolos, juntamente com Maria, Mãe de Jesus, estavam reunidos para a celebração
do Pentecostes judaico. De acordo com o relato, durante a celebração ouviu-se um ruído,
"como se soprasse um vento impetuoso". "Línguas de fogo" pousaram sobre os apóstolos
e todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em diversas línguas.
Pentecostes
é a coroação da Páscoa de Cristo! Nele acontece a plenificação da Páscoa, pois a vinda
do Espírito Santo sobre os discípulos manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado
no coração, na vida e na missão dos discípulos. Podemos notar a importância de Pentecostes
nas famosas e muito citadas palavras do Patriarca Atenágoras (1948-1972): "Sem o Espírito
Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra morta,
a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda,
o culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos". O Espírito traz presente
o Ressuscitado à sua Igreja e lhe garante a vida e a eficácia da missão.
A
experiência de Pentecostes é a resposta à experiência de “Babel”. Agora, todos movidos
pelo Espírito Santo se compreendem e acolhem com alegria o grande anúncio da salvação
em Cristo Jesus. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, cada um se transforma em alegre
anunciador da Missão, como animado missionário das “boas novas” que somos chamados
a proclamar com a vida e com a palavra às pessoas a quem somos enviados.
É
justamente diante dessa missão que a Igreja tem que continuar a levar a mensagem do
Evangelho a todos os Povos, Raças e Línguas. Como um dos meios para promover a missão,
temos o projeto da “Missão Continental”. Esse projeto da grande Missão foi anunciado
na V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho (maio de 2007) e
foi lançado oficialmente em Quito, Equador, no dia 17 de agosto de 2008. Nessa ocasião,
representantes das diversas Conferências Episcopais do continente receberam uma Bíblia
e o Oratório (Tríptico). A Comissão para a Missão Continental no Brasil elaborou o
projeto, que foi apresentado aos bispos reunidos na 47ª Assembleia Geral da CNBB em
Itaici- Indaiatuba, SP, de 22 de abril a 01 de maio de 2009. Em nossa Conferência
Episcopal, a divulgação do “oratório” recorda a nossa adesão a este projeto, e agora
também todo o esforço que se faz com a campanha para a distribuição de “um milhão
de Bíblias” especialmente nos locais mais carentes de nosso país.
O nosso projeto
"o Brasil na Missão Continental" está em plena comunhão com todas as Igrejas particulares
da América Latina e do Caribe e tem por objetivo "abrir-se ao impulso do Espírito
Santo e incentivar, nas comunidades e em cada batizado, o processo de conversão pessoal
e pastoral ao estado permanente de Missão, para a Vida plena". Proporcionar a experiência
do discipulado, no encontro com Cristo; promover a formação em todos os níveis para
sustentar a conversão pessoal e pastoral do discípulo missionário; repensar as estruturas
de nossa Ação Evangelizadora para um compromisso de ir e atingir a quem normalmente
não atingimos; favorecer o acesso de todos, a partir dos pobres, à "atrativa oferta
da vida mais digna em Cristo" (cf. DAp 361); aprofundar a Missão como serviço à humanidade;
e discernir os sinais do Espírito Santo na vida das pessoas e na história.
Nesse
sentido, a Missão Continental se torna um grande projeto de Animação Missionária que
desperta os cristãos, discípulos missionários no continente, para a missão “Ad Gentes”,
que é parte constitutiva da própria natureza da Igreja. O trabalho se inicia dentro
da própria comunidade, fazendo crescer a vida de conversão e de fé para que todo discípulo
de Jesus seja também missionário.
Portanto, dada sua importância, a celebração
da Solenidade de Pentecostes inicia-se com uma vigília no sábado. É a preparação
para a vinda do Espírito Santo, que comunica seus dons à Igreja nascente. Pentecostes
é, portanto, a celebração da efusão do Espírito Santo. É a oportunidade de todos nós
nos abrirmos à ação desse nosso “aliado invisível” que se visibiliza na vida e nas
atitudes daqueles que se deixam conduzir pelos caminhos de Cristo Jesus. Para os cristãos,
o Pentecostes marca o nascimento da Igreja e sua vocação para a missão universal.
Na
segunda-feira após esta Solenidade continuamos o tempo chamado “comum ou ferial”,
que nos recorda que levamos adiante essa missão recebida, mas que o Senhor continua
conosco e temos em nossas vidas a ação do Espírito Santo que nos ilumina, fortalece
e conduz.
+ Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ