2010-05-23 13:24:05

PENTECOSTES


Cidade do Vaticano, 23 mai (RV) - Estamos concluindo o tempo pascal. Durante cinqüenta dias, estivemos refletindo os mistérios da morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Hoje, concluímos com a solenidade de Pentecostes, que é o cumprimento da promessa de Cristo, que dá à sua Igreja o seu Espírito.

A estrutura da Páscoa está ligada à celebração pascal do Antigo Testamento. É Lucas evangelista que nos oferece essa ligação, a fim de nos transmitir, didaticamente, o desenrolar deste tempo em cinqüenta dias. É importante ressaltar que João não usa esse método didático de Lucas, e cita a comunicação do Espírito aos Apóstolos no mesmo dia da Ressurreição. Isso não quer dizer que há uma contradição. A questão é que Lucas queria mostrar para os judeus que o Espírito Santo substituiu a Lei antiga. Para isso, serviu-se das festas, dos sinais e do tempo do Antigo Testamento, para compor a narrativa pascal, sem fugir da historicidade do fato da presença de Jesus Cristo com os seus apóstolos.

O pentecostes, no Antigo Testamento, é caracterizado como festa da colheita (cf. Ex 23,14), festa do dom da Lei (cf. Ex 19,1-16) e festa da renovação da Aliança do Sinai (cf. 2Cr 15,10-13). A origem dessa festa fez parte do calendário do antigo povo cananeu e era chamada de festa agrícola. Quando o povo de Deus se estabeleceu em Canaã, assumiu também essa festa, completando um calendário de três festas significativas: páscoa, juntamente com a dos Ázimos, Colheitas ou Semanas, que depois do domínio grego passou a ser chamada de pentecostes, e Tabernáculos ou Cabanas (cf. Ex 23,14-17; 34,18-23). A festa da Colheita era alegre e solene (Dt 16,11), exclusiva ao Senhor (Dt 16,10), universal (Dt 16,11); era um agradecimento a Deus pelo dom da Lei (Dt 15,12) e pela vida; também era um dia sagrado (Lv 23,21).

Observe que Lucas ao refletir sobre o Pentecostes no Antigo Testamento, objetiva fazer com que todos se voltem para o Espírito de Jesus, como Nova Lei de Deus. É possível entender em Lucas a concretização de algumas figuras, a saber: quando Moisés sobe o monte Sinal aí encontramos uma figura da Ascensão de Jesus. No monte, Moisés recebe o dom da Lei, e Jesus, na ascensão, é entronizado à direita do Pai. Moisés entrega a Lei ao Povo, Jesus, por sua vez, concede o Dom do Espírito Santo. Ainda, quando Moisés se encontra com o Senhor, surgem trovões, vento e fogo (cf. Ex 19,16; 20,18), o que significa, segundo os rabinos, que a Lei é para todos, porque tinha tomado a forma de setenta (70) línguas de fogo. Essas imagens servem para Lucas como um indicativo para o fato de pentecostes, que é o Dom do Espírito para a Igreja. Ele veio como que em línguas de fogo, tornando a Igreja seu legítimo instrumento para a salvação do mundo inteiro.

O texto lucano mostra que o Espírito Santo é a Nova Lei para os cristãos, e é também aquele que vem transformar o nosso coração, vem como vida de Deus a nossa vida, dando-nos a condição de vivermos somente do amor e no amor. O ensinamento de Lucas também quer nos indicar a linguagem da unidade no Espírito de Deus. O mundo que se divide é o mundo do não Deus, o mundo do egoísmo, do individualismo, da discórdia e da busca de si mesmo, um mundo semelhante àquele da época de Babel (cf. Gn 11,1-9); esse é o mundo da carne (cf. Rm 8,8). Esse tipo de mundo é infértil, desumano, desorientado e sem vida, nele nada se constrói, e tudo tende para o nada. Somente no Espírito de Deus, falando a mesma língua do amor, podemos encontrar o horizonte da nossa existência, o valor da nossa humanidade e o verdadeiro conhecimento de Deus.

Quando meditamos sobre a realidade no mundo de hoje, estremecemos. O que devemos fazer? Acredito que devemos urgentemente nos abrir ao Espírito do Ressuscitado. Por meio dele, é possível acolhermos a iniciativa de Jesus Cristo, que vem ao nosso encontro, como fez no dia da ressurreição, indo se encontrar com os apóstolos. Nesse encontro, encorajou-os, deu-lhes sua paz, confirmou-os na fé, soprou sobre eles o seu Espírito (sinal da nova criação) e os enviou com a missão de salvar o mundo do pecado. Ainda nesse encontro, deu-se a concretização da Nova e Eterna Aliança, do Novo Povo de Deus e da Nova Criação. Nós somos esse novo povo de Deus, renascidos da água e do Espírito, para cumprirmos o objetivo primeiro da criação: vivermos na comunhão com o Pai, por meio do Filho, no seu Espírito; e ainda, no mesmo Espírito, em nossos dias, construirmos um reino de paz, justiça e perdão.

Que este Pentecostes seja de estímulo missionário em nossa vida e para o nosso ideal cristão. Amém. RealAudioMP3







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