“Voltemos a fazer respirar a Europa a plenos pulmões”: votos de Bento XVI, intervindo
nesta quinta à tarde, no final do Concerto oferecido pelo Patriarca de Moscovo
O acontecimento teve lugar no âmbito das “Jornadas de cultura e espiritualidade russa
no Vaticano”, promovido conjuntamente pelos Conselhos Pontifícios para a promoção
da Unidade dos cristãos e para a Cultura. Actuou a Orquestra Nacional Russa e o Coro
Sinodal de Moscovo. Executadas músicas de compositores russos do séc. XIX e XX, nomeadamente
Rachmaninov, Ciajkovskij e do Metropolita Hilarion, Presidente do Departamento das
Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovo, que leu uma mensagem em que o Patriarca
Kiril recorda o contributo evangelizador da cultura russa, sobretudo durante os anos
das perseguições da Igreja e do ateísmo de Estado. “Católicos e Ortodoxos devem actuar
conjuntamente como aliados, e não como concorrentes”.
Por sua vez
o Papa evocou o risco de amnésia que corre o mundo europeu: o risco de perder a memória
e de abandonar o extraordinário património suscitado e inspirado pela fé cristã”,
classificada por Bento XVI como a “ossatura essencial da cultura europeia e não só”.
“Nas suas diversas expressões – sublinhou – a fé cristã dialogou com as culturas e
as artes, animou-as e inspirou-as, favorecendo e promovendo de um modo único e excepcional
a criatividade e o génio humano”. Um contributo ainda hoje válido:
“Também
hoje essas raízes são vivas e fecundas, no Oriente e no Ocidente, e podem, mais ainda,
devem inspirar um novo humanismo, uma nova fase de autêntico progresso humano, para
responder eficazmente aos numerosos e por vezes cruciais desafios com que se deparam
as nossas comunidades cristãs e as nossas sociedades. A começar pelo desafio da secularização,
que não só leva a prescindir de Deus e do seu projecto, mas acaba por negar a própria
dignidade humana, em vista de uma sociedade regulada unicamente por interesses egoístas”.
Daqui
o apelo do Papa:
“Voltemos a fazer respirar a Europa e plenos pulmões,
voltemos a dar uma alma, não só aos crentes, mas a todos os povos do Continente, promovendo
a confiança e a esperança, enraizando-as na milenária experiência de fé cristã. Neste
momento não pode faltar o testemunho coerente, generoso e corajoso dos crentes, para
que possamos encarar juntos o futuro comum, como um futuro em que a liberdade e a
dignidade de cada homem e de cada mulher sejam reconhecidas como valor fundamental
e se valorize a abertura ao Transcendente, a Deus, a experiência da fé, como dimensão
constitutiva da pessoa”.
Na música – observou ainda Bento XVI – concretiza-se
já “o confronto, o diálogo e a sinergia entre Oriente e Ocidente, entre tradição e
modernidade”. Precisamos de uma “visão unitária e harmónica da Europa”, pois sem a
consciência de raízes culturais e religiosas “profundas e comuns”, a Europa de hoje
“ficaria como que privada de alma e marcada por uma visão redutiva e parcial”.